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Investidor, vá ao cinema se puder, mas não faça nada nesse momento 

Com crise de Temer, a recomendação do mercado é para que os investidores fiquem parados, não vendam, nem comprem posições até que os fatos se desenrolem. Veja na Gazeta do Povo | ml/as/dc
MAURICIO LIMA
Com crise de Temer, a recomendação do mercado é para que os investidores fiquem parados, não vendam, nem comprem posições até que os fatos se desenrolem. Veja na Gazeta do Povo (Foto: ml/as/dc MAURICIO LIMA)

Entre a noite de quarta (17) e a manhã de quinta-feira (18), alguns analistas chegaram a chamar  a delação contra o presidente Michel Temer de black swan (cisne negro), numa referência ao jargão usado no mercado para um evento que não se esperava e para o qual não havia previsão sobre como agir. Mas a Lava jato já dura três anos e, convenhamos, uma denúncia que atingisse Temer parecia ser apenas uma questão de tempo. Para os investidores, a recomendação de analistas, tanto os de corretoras independentes quando os de grandes bancos, é uma só: não fazer nada nesse momento.

É claro que há um ingrediente surpresa no modo como as denúncias contra Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), entre outros, surgiu. Com base na delação premiada dos empresários Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS, pela primeira vez a força-tarefa adotou tática de “ações controladas” para obter provas de corrupção: dinheiro marcado e chip na mala.Tudo, aparentemente, bem amarrado.

“É um balde de água fria nas expectativas do mercado. Um ruptura como essa [motivada pelo escândalo] não vai embora da noite para o dia”, afirma o economista Lucas Dezordi, consultor da Valuup e professor da Universidade Positivo, em Curitiba.

Nesta quinta-feira (18), a Bolsa de Valores de São Paulo fechou o dia com recuo de 8,8%. Logo na abertura, em poucos minutos, a queda ultrapassou os 10%, acionando o circuit breaker, mecanismo que paralisa as negociações em momentos de queda muito intensa.

Para se ter uma ideia, ontem a Bolsa de Valores de São Paulo, que poucos minutos após a abertura registrou uma queda de 10%, foi obrigada a acionar o circuit breaker, mecanismo que paralisa as negociações em momentos de queda muito intensa. Esse mecanismo foi acionado pela primeira vez por aqui em 2008, com a crise de subprimes nos Estados Unidos.

A recomendação para que os investidores não façam nada por ora não se deve apenas a Temer, aliás. No cenário internacional, as trapalhadas do presidente Donald Trump— a mais recente é a acusação de que ele e seus assessores teriam vazados segredos para funcionários russos — também mexem com o mercado financeiro.

O dólar também estourou e teve a terceira maior alta da história ante o real, perdendo apenas para os dois episódios registrados durante a maxidesvalorização vista em janeiro de 1999, quando o Brasil abandonou o regime de bandas cambiais.

A denúncia contra Temer fez ainda com que os juros no mercado subissem mais de 80 pontos. Isso fez com que o Tesouro Nacional suspendesse a abertura da comercialização de títulos do Tesouro Direto. Pela rede de comunicação Twitter, o Tesouro Nacional informou que a suspensão das operações do Tesouro Direto, de venda de títulos pelo Internet, visam garantir transações a taxas justas e alinhadas às praticadas no mercado secundário. De acordo com o Tesouro, o atraso na abertura das negociações protege o investidor da volatilidade.

“O mais prudente neste momento, em que não se tem ideia da manutenção do presidente Michel Temer ou não, é que os investidores mantenham suas posições [ou seja, não se desfaçam, nem adquiriram ações]”, diz o analista-chefe da Rico, Roberto Indech. Isso, pelo menos, até que o mercado tenha um direcionamento, a partir do desenrolar dos próximos fatos. 

“Meu melhor conselho é esperar a tempestade passar. Correr, no meio do tiroteio, é muito arriscado, melhor ficar quieto. Quando a calmaria voltar e o cenário ficar mais previsível, reavaliar as posições de investimento”, afirma a planejadora financeira certificada e diretora da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), Marcia Dessen. 

Fora da bolsa também é preciso cautela

Quem não tem aplicações em bolsa também deve ficar atento. Embora os investimentos em renda fixa estejam mais protegidos de acontecimentos como esse, alguns passos da economia a partir de agora podem mexer com os investimentos de quem tem dinheiro em fundos. “Diria que é preciso ficar de olho no que o Copom (O Conselho de Política Monetária do Banco Central) irá decidir no próximo dia 31. Acredito que o que estava previsto [ou seja, a queda gradual da Selic] continue, mas, diante das denúncias, isso pode mudar, claro”, avalia Indech.

Ainda no início desta semana, antes do escândalo que atingiu o presidente Michel Temer, algumas consultorias e áreas de análise de instituições financeiras chegaram a cogitar uma aceleração na queda da Selic de forma a combater uma possível recaída da economia brasileira após um primeiro trimestre de retomadas. Isso levaria a uma Selic abaixo dos 8% no fim de 2017, o que poderia minar os resultados de alguns investimentos de renda fixa e forçar os investimentos em busca de ganhos maiores a aventurar-se na renda variável.

Os analistas e consultores, diante também da perspectiva de que as reformas da previdência e trabalhista andassem conforme o previsto, sonhavam com a atração de mais investidores e com o crescimento das aplicações na bolsa de valores brasileira. Mas isso, agora, é uma incógnita. Todo aquele conjunto de medidas econômicas anunciado pela equipe de Temer no fim de 2016 está incerto.

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