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OPINIÃO

Os fãs do bitcoin que me desculpem, mas as moedas digitais ainda são um sonho

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O bitcoin parte meu coração. Não porque eu perdi a escalada da moeda (e eu perdi), nem porque eu temo que a bolha do bitcoin acabará muito mal (e vai, mas não é um problema meu). Mas porque eu tenho esperado há décadas que alguém inventasse uma moeda puramente digital, uma moeda para transações online que não estivessem ligadas a um cartão de crédito. 

Assim, quando o bitcoin apareceu pela primeira vez, eu esperava que ele fosse tudo isso. Em seu livro Digital Gold, sobre a origem do bitcoin, Nathaniel Popper cita um e-mail enviado por Satoshi Nakamoto, o misterioso e possivelmente apócrifo inventor da criptomoeda: “Eu tenho trabalhado em um novo sistema eletrônico de moeda que é inteiramente peer-to-peer, e nenhuma terceira parte controladora”. 

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Foi assim que todos os entusiastas no começo do bitcoin pensaram: era uma moeda, que permitia aos consumidores comprar coisas, evitando o sistema bancário e os governos nacionais. O que a bolha de bitcoin mostra, no entanto, é que o bitcoin é apenas outro fracasso em moedas eletrônicas. Mas estou me adiantando demais aqui.

Como as moedas digitais me decepcionaram

Eu comecei a pensar em moeda digital em meados da década de 1990, quando conheci um criptografista e matemático brilhante chamado David Chaum, que havia inventado o que ele chamou de dinheiro eletrônico ou e-cash. Ele fez exatamente o que o bitcoin pretende fazer: permitiu que as pessoas usassem dinheiro virtual, o armazenassem em seu computador, para fazer compras e enviar dinheiro para outras pessoas.

Chaum estava muito à frente de seu tempo. Ele fundou sua empresa, a DigiCash, cinco anos antes da criação da Netscape, que popularizou o navegador, e da Amazon. Em 1998, a DigiCash entrou em falência.

O que se seguiu foi a era de curta duração “information wants to br free “ (ou “a informação quer ser livre”). O Napster, fundada em 1999, usou a tecnologia peer-to-peer, que permitiu o download ilegal de músicas. Os jornais não tinham paywalls, e muitas pessoas passaram a pensar que as notícias não deveriam custar nada. Eu vi meus próprios filhos baixando músicas e até filmes, e quando eu dizia que eles estavam violando a lei, eles me respondiam dizendo que eu não entendia como o mundo funcionava na era internet.

Ao mesmo tempo, à medida que o comércio eletrônico se consolidava, o único meio de pagamento era um cartão de crédito. Foi um verdadeiro ponto de fricção comercial: toda vez que você queria comprar algo, você precisava preencher as informações do seu cartão de crédito, mais seu endereço de cobrança e, se fosse diferente, seu endereço de entrega também. E uma vez que você fizesse isso, suas informações estariam vulneráveis a hackers.

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Moedas eletrônicas poderiam ter resolvido esses problemas. Se meus filhos tivessem acesso a uma moeda digital – talvez até como mesada – o Napster poderia ter forçado acordos com as gravadoras e cobrado pelas músicas. Eles teriam pagado felizes. E o e-cash teria transformado o e-commerce em algo muito mais fácil de se usar.

Em 2000, citei um executivo-chefe de um banco virtual em um artigo da revista Money : “Chegamos ao ponto em que a economia da internet precisa de dinheiro eletrônico”.

Isso, na verdade, nunca aconteceu. Em vez disso, empresários e empresas criaram uma série de alternativas, algumas melhores do que outras. A mais conhecida foi o PayPal, que essencialmente acessa seu banco ou cartão de crédito para fazer compras e enviar dinheiro. 

A Apple e a Amazon também facilitaram o pagamento por coisas; quando eu quero pagar pela minha assinatura mensal do Washington Post, clico em “Amazon Pay” e pronto, está feito. Mesmo assim, nós ainda gastamos muito tempo preenchendo informações de cartões de crédito quando queremos comprar algo online.

Enquanto isso, todos os esforços para se chegar a uma moeda eletrônica de fracasaram. Lembro-me de uma chamado Qpass e outra chamada WebPay. No início dos anos 2000, o e-gold surgiu como uma solução em potencial, até que foi revelado que estava sendo usado principalmente por criminosos. Em 2008, seu fundador se declarou culpado por lavagem de dinheiro.

Os “defeitos” do bitcoin

De acordo com o site 99bitcoins.com, existem 89 empresas que aceitam o bitcoin como moeda, incluindo o Metrô, a livraria do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e o Museu Costeiro em Victoria, Texas. Mas não consigo imaginar que alguém realmente o use para pagar por algo. Quem usaria o bitcoin para isso quando ele pode passar valer mais US$ 500 nos próximos 10 minutos? E quem aceitaria bitcoin quando ele poderia igualmente perder US$ 500 nos próximos 10 minutos?

Seja qual for sua intenção original, o bitcoin se transformou em um ativo cujo único propósito é a especulação. “Simplesmente não há como prever o quanto valerá”, diz Pete Kight, um investidor de fintechs que fundou o Checkfree em 1981. E esse é seu defeito fatal como moeda eletrônica.

Ou melhor, um deles. Outro defeito é justamente a característica do bitcoin que seus adeptos mais adoram: ele funciona longe do alcance do controle governamental. “Eu chamo isso de tirania do brillhantismo”, diz Kight. “Quando você trabalha com fintechs, você vê muito frequentemente um gênio da engenharia perdendo a conexão com o mundo real.”

“Existe essa coisa chamada ‘Federal Reserve’. Seu trabalho número um é proteger o sistema financeiro dos Estados Unidos. Para que uma criptomoeda tenha sucesso, precisa resolver com o Fed o que fazer para que não prejudique o sistema bancário”, observa Kight, no caso específico do bitcoin.

Posso imaginar que, após a explosão da bolha, o bitcoin continuará a ser comercializado. Talvez algumas das outras criptomoedas tenham trajetórias semelhantes (embora a maioria vá se transformar em nada). Posso ver isso refletindo a economia maior de alguma forma, subindo em certos cenários e caindo em outros. No melhor dos casos, o bitcoin pode ser visto como o equivalente digital do ouro.

E não tem nada errado com isso. Mas nós teremos de esperar um pouco mais por uma moeda eletrônica que realmente funcione como tal.

Tradução Fabiane Ziolla Menezes

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