Existe uma regra de ouro, segundo estudos de economia comportamental, que pode ajudar muito na hora da compra dos presentes de Natal: quem ganha quer ser surpreendido. Isso significa, por exemplo, que aquela velha prática de dar dinheiro a alguém para que ele decida o que quer está em desuso, mas também que gastar um valor alto pode não representar sucesso, já que o que vale é a carga emocional depositada na compra.
Economistas e pesquisas americanas da última década nessa área apontam alguns caminhos possíveis – e cuidados – para garantir um presente eficiente sem fazer um rombo no orçamento e comprometer a renda familiar ao longo de 2018.
Uma sondagem é um bom ponto de partida
Para presentear pessoas próximas – família e amigos – vale sondar algo que elas gostem, mas que no dia a dia não tiram dinheiro do bolso para comprar. Pode ser uma cerveja importada, para quem gosta de beber, um cd, para quem gosta de ouvir música mas hoje em dia só ouve por streaming, ou um ingresso para um show de um artista que a pessoa admire mas que nem sempre consegue separar do orçamento mensal para ir.
“Essa preocupação em observar e depois comprar é o que agrada quem recebe o presente. Mostra que quem deu tem um envolvimento real com ela e separou algum tempo para se dedicar à escolha, e não apenas tirou o dinheiro da carteira e entregou”, diz o coordenador do curso de economia da PUCPR, Jackson Bittencourt.
É normal que na hora de dar algo a alguém, o comprador acabe por escolher aquilo que gosta, que desejaria ganhar. Mas nem sempre isso será útil de fato para quem vai receber. Uma das tendências atuais de presente é a que proporciona alguma experiência, como um jantar, um dia de passeio em alguma chácara. Mas é preciso levar em conta se ela será acessível, se a pessoa tem disponibilidade de tempo e horário para chegar até lá, se pode encaixar esse passeio em sua rotina.
“Não basta ser bacana e criativo, o presente tem que realmente ter um valor naquele momento, fazer algum efeito prático na vida da pessoa e não virar mais um problema que ela vai ter que resolver”, recomenda Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Dentro dessa lógica de surpreender, pesquisas da Universidade de Cincinnati e da Universidade da Flórida mostraram que a surpresa tem mais efeito quando se dá presentes iguais para os amigos. Parece estranho, mas a explicação é simples: quando se compra para vários ao mesmo tempo, é comum priorizar a diferença entre cada pessoa, e não no que elas têm em comum. Depois que se faz uma primeira escolha para um amigo, levando-se em conta seus gostos, as próximas serão concentradas em não repetir. Mas nisso, o que os amigos subsequentes realmente gostam pode ficar meio de lado, e o primeiro amigo será sempre o privilegiado.
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Então, se essas pessoas não se conhecem, não há nenhum problema em dar presentes iguais caso elas tenham gostos em comum, já que a tendência, segundo as pesquisas, é que a primeira escolha seja sempre a mais bacana.
Infelizmente os estudos de economia comportamental mostram que a tendência é que o presenteado subestime o que ganhou. Segundo Bittencourt, um presente chega a perder entre 20% a 30% do seu valor para quem o recebe. Isso acontece porque quando a pessoa abre, nem sempre o que está embrulhado era o que ela queria receber, mesmo que tenha custado caro. Por isso que é fundamental que a escolha do presente leve em conta do gosto de quem ganha, e não de quem dá.
Quando a pessoa se autopresenteia, a queda na percepção do valor não acontece justamente porque ela escolheu algo que realmente queria ou precisava. A surpresa estará, portanto, no presente ter uma ligação afetiva ou de utilidade com quem recebe.
Cerca de 30% dos brasileiros que vão comprar presentes este ano, segundo o professor da FGV, ainda estão pagando parcelas referentes a compras de Natal do ano passado. Portanto, os economistas são unânimes em dizer que o ideal é comprar à vista. O planejamento deve ser feito da seguinte forma: do total do salário do mês somado ao décimo terceiro, separa-se 35%. É dentro desse valor que as despesas natalinas devem ser feitas, incluindo presentes e a ceia. Os outros 50% vão para as despesas normais do mês e 15% para ser usado futuramente, seja em investimento de poupança ou em previdência. Quem guardou dinheiro no ano passado pode até usá-lo agora, e guardar novamente para as compras do ano que vem.
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A recomendação do professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Agostinho Pascalicchio para não fugir desse percentual é usar a velha listinha de compras: enumerar por ordem de importância as pessoas que deseja presentear e uma estimativa do valor de cada presente. Se o orçamento estourar, corte as pessoas com quem se tem menos intimidade.
Turma dos “sem presente” é tendência
Existe uma tendência de comportamento, de acordo com Pascalicchio, que é focar os gastos com a ceia de Natal e não na troca de presentes. A ideia é valorizar o lado emocional da época, que significa o convívio com a família e amigos. Muito disso veio por conta da crise econômica dos últimos anos. Embora este ano as perspectivas sejam melhores para o consumidor, o professor recomenda que as pessoas usem a lição da crise para continuar contendo gastos e pensar no futuro.
Mas, se mesmo priorizando o convívio restar uma certa vontade de presentar, pelo menos os familiares, a troca não precisa necessariamente ser feita na noite de Natal. Depois desta data, muitas lojas fazem promoções na última semana do ano – ou nas primeiras do ano seguinte- e comprar um presente nessa época pode sair pela metade do preço.
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Publicado por Vida Financeira e Emprego em Sexta, 8 de dezembro de 2017