Um denúncia feita por meio de um escritório de advocacia na última segunda-feira (12) às autoridades financeiras dos Estados Unidos sugere que o Índice de Volatilidade (VIX, na sigla em inglês), também conhecido como Índice do Medo, estaria sendo manipulado por algoritmos, o que teria contribuído para o susto nas bolsas norte-americanas nos últimos dias.
A carta com a denúncia foi enviada à Comissão de Valores Mobilários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) e também à comissão responsável pela transação de commodities no país (CFTC, na sigla em inglês), segundo jornais norte-americanos.
No texto, o denunciante anônimo representado pelo escritório Zuckerman Law alega que uma falha no VIX permite que corretoras com algoritmos avançados manipulem o índice para cima ou para baixo. Isso seria feito por meio do envio de cotações de opções sem qualquer negócio real correspondente ao S&P 500, o índice da Standard & Poor’s composto por 500 ativos da Nasdaq, a bolsa de empresas de tecnologia dos EUA, e do qual o VIX deriva.
Um analista da Finra, ONG de Wall Street que se propõe a fiscalizar a indústria financeira nos EUA e que, embora não faça parte do governo, é supervisionada pelos órgãos oficiais, estaria investigando se o VIX pode ou não ser manipulado, informou o Wall Street Journal .
Segundo o WSJ, “o VIX foi projetado para rastrear a ansiedade dos investidores e tende a se mover na direção oposta do índice de referência, o S&P500. Os investidores adquirem ativos futuros e opções apontadas pelo VIX para se proteger contra declínios nos estoques”.
A Cboe Global Markets, responsável pelo VIX, negou que isso esteja ocorrendo e disse, em comunicado, que a carta em questão está repleta de imprecisões, concepções equivocadas e erros factuais, inclusive sobre o funcionamento do índice, o que gera dúvidas sobre a credibilidade do denunciante. Representantes do Zuckerman Law, por outro lado, alegaram ao Financial Times que seu cliente já ocupou posições de liderança em algumas grandes empresas do setor financeiro.
Além disso, mais de uma dúzia de analistas e pesquisadores disseram ao WSJ que evitam a comercialização de opções dos derivativos atrelados ao VIX quando próximas da liquidação ou que recomendam o mesmo a seus clientes, em razão de algum receio de manipulação. “Há fumaça ali”, disse o professor de finanças da Universidade de Houston Craig Pirrong ao WSJ, fazendo referência ao ditado popular, “onde há fumaça há fogo”.
O mesmo comportamento teve Bart Chilton, um ex-diretor da CFTC, em entrevista à emissora CNBC, na tarde desta quarta-feira (14). Ele também disse que, independentemente se há ou não manipulação no VIX, alguns dos produtos ligados ao medidor de medo são realmente “tóxicos” e apresentam riscos “incríveis” para o mercado no momento. “Tantas coisas são baseadas no VIX, outros produtos, que há um contágio muito rápido”, afirmou ele ao programa Squawk Box, da CNBC.
Para ele, um exemplo do rápido contágio aconteceu na semana passada, quando um recuo de 1,2% na negociação de contratos futuros do petróleo em Nova York e também um movimento negativo dos Treasuries – títulos de dívida do governo americano normalmente vistos como um porto-seguro pelos investidores, mas que, devido à demanda em um momento de instabilidade, apresentaram queda nos rendimentos e viram seu preço aumentar – puxaram a queda das bolsas norte-americanas.
Ainda antes, no dia 5 fevereiro, o VIX subiu 117%, maior variação da história do índice desde 2009, o que indicava que a inflação norte-americana poderia finalmente começar a ganhar corpo, obrigando o FED, o banco central americano, a aumentar os juros no país, o que empurraria o rendimento dos Treasuries para cima e mexeria profundamente no mercado, aumento o custo de captação das empresas.
O comportamento relatado acima é justamente do que os investidores procuram se proteger quando leem o mercado por meio do VIX. O analista da Bloomberg Intelligence, Eric Balchunas, em publicação da empresa, lembrou que fundos de investimentos que movimentam US$ 3,5 bilhões fazem parte da composição do VIX – o que faz do índice realmente uma ferramenta importante de leitura do mercado, mesmo se considerada uma fonte secundária de informação para a tomada de decisões.
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