“Corremos o risco de não ter energia, transporte e mão de obra para amparar um crescimento mais robusto. Isso é fruto de erros do passado, de uma leitura técnica e política equivocada feita lá atrás.”| Foto: Rafael Danielewicz

Evento

Feira de Gestão começa na terça

Com investimento de R$ 1 milhão, começa na terça-feira, em Curitiba, a 10ª Feira de Gestão, realizada pela FAE Centro Universitário. A décima edição ocorrerá em dois espaços simultaneamente – no câmpus do Centro da FAE e no Estação Convention Center. A espinha dorsal do evento são as seis palestras magnas, duas a cada dia, com nomes conhecidos da área de gestão, mas a feira também contará com fóruns, debates e atividades para empresários e estudantes.

Entre as atrações deste ano está o consultor norte-americano Bill Capodagli, autor dos livros Nos Bastidores da Disney, eleito pela revista Fortune um dos melhores livros de negócios de 1999, e Nos Bastidores da Pixar, lançado no ano passado nos Estados Unidos. Ele falará na primeira noite do evento, às 20 horas, sobre as lições de inovação da cultura da Pixar para as empresas brasileiras.

Além de Capodagli, farão palestras no evento o educador Eugênio Mussak (Ética nas Relações), o consultor e professor Belmiro Valverde Jobim Castro (Ética e Sustentabilidade no Mundo Contemporâneo) e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola (Brasil 2011: Perspectivas e Tendências Econômicas).

"Neste ano nós definimos alguns focos. Inovação, ética, economia e sustentabilidade foram os pilares escolhidos para orientar a escolha dos palestrantes", afirma Paulo Cruz , gestor de relacionamento corporativos da instituição.

As palestras e os principais eventos ocorrerão no Embratel Convention Center. No câmpus do Centro da universidade a programação será especial para os vestibulandos, que poderão interagir e tirar dúvidas com professores e estudantes dos cursos da FAE sobre as profissões.

A organização espera que 5 mil pessoas passem pelos dois locais durante os três dias de evento. "O objetivo da feira é abrir a porta da instituição para o mercado e, ao mesmo tempo, abrir as portas do mercado para os alunos da FAE", diz Cruz.

A programação completa pode ser acessada no site do evento, em http://www.fae.edu/feira. A página também será atualizada diariamente com os principais acontecimentos do evento.

CARREGANDO :)

Para ajudar empresários a compreender melhor os indicadores do cenário econômico e, assim, auxiliá-los na tomada de decisões, o coordenador do curso de Economia da FAE Centro Universitário, Gilmar Mendes Lourenço, lança, durante a 10.ª Feira de Gestão, o livro Conjun­tura Eco­nômica – Modelo de Compreensão para Executivos. Na publicação, ele explica quais são e a importância dos principais indicadores conjunturais – como PIB, taxa de desemprego, inflação, taxa de juros, volume de crédito, capacidade instalada, entre vários outros. Em entrevista à Gazeta do Povo, Lourenço também fala dos erros na interpretação desses dados. Para o economista, por exemplo, as análisas feitas sobre o Brasil hoje ignoram um problema grave: o apagão logístico que pode se seguir caso a economia continua crescendo no ritmo atual. Como o senhor percebeu que havia uma demanda pelo melhor entendimento dos indicadores de conjuntura econômica?

O que a gente tem percebido é que tanto a comunidade acadêmica quanto a comunidade empresarial não têm uma percepção muito completa do comportamento de curto prazo das principais variáveis econômicas. Isso atrapalha a compreensão do que está acontecendo e, principalmente, a tomada de decisões feitas pelos empresários. Quando surgiu a crise, em 2008, a rainha da Inglaterra, num evento na London School of Economics (LSE), cobrou os economistas. Ela disse mais ou menos o seguinte: depois de 300 anos de estudo das ciências econômicas, por que vocês não conseguiram antever a catástrofe financeira que tomou conta do mundo? Os economistas da universidade ficaram sem resposta. Ao elaborar o livro, eu incorporei esse raciocínio da rainha para mostrar que no fundo tanto a academia quanto os empresários não têm uma noção precisa do que é a conjuntura econômica e de quais ferramentas podem ser utilizadas para analisá-la.

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Em relação ao que disse a rainha, em que medida esses indicadores são ferramentas confiáveis para a previsão da economia?

O fundamental é entender o potencial e a limitação de cada um dos indicadores. Eles não podem ser tomados como números definitivos, mas sim como algo que aponta uma determinada tendência. Em alguns casos, esses indicadores têm problemas. Podem ser de amostragem, por exemplo, ao não refletir o comportamento como um todo da economia. Outro problema comum é da interpretação feita pelo mercado e pelo governo desses dados. Muitas vezes, ela é influenciada por um viés político. Na crise, tão lono ela surgiu tinha gente dizendo que o capitalismo iria acabar e a recuperação levaria 20 anos. Assim que foi controlada, apareceram vozes dizendo que o mundo estava salvo e que haveria um boom de crescimento como nunca visto antes.

No Brasil, há alguma análise sendo feita hoje que o senhor considera equivocada?

O Brasil vive um momento bom, mas enfrenta uma série de problemas que não vêm sendo ressaltados na análise dos indicadores. Neste ano, estamos crescendo com PIB de 7,5%, mas no ano que vem, quem quer que seja o presidente, ele provavelmente terá de reduzir esse ritmo. Por causa da inflação? Não. Se crescermos acima de 5% ao ano durante três ou quatro anos, vamos ter de conviver com o tal apagão logístico. Corremos o risco de não ter energia, transporte e mão de obra para amparar um crescimento mais robusto. Isso é fruto de erros do passado, de uma leitura técnica e política equivocada feita lá atrás.

Na última semana, o governo federal fez várias manobras para tentar melhorar os números das contas públicas. Isso gera especulação sobre a real situação da economia do país. Em relação aos indicadores, eles são confiáveis?

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Tudo que é produzido pela administração direta do governo é sensível à interferência de natureza política. No entanto, os indicadores produzidos pelos institutos de pesquisa, tanto públicos quanto privados, são em sua maioria metodologicamente consistentes e confiáveis. As falhas que existem são normalmente identificadas, inclusive apontadas pelos usuários da informação, e , na medida do possível, corrigidas com a incorporação de aprimoramentos por parte dessas instituições.