Quando o livro “Como matar a borboleta-azul: uma crônica da era Dilma” já estava na gráfica, a autora, a economista Mônica de Bolle, deparou-se com uma notícia inesperada no jornal. Cerca de 40 anos após ter sido dada com extinta, a rara borboleta que lhe serviu de inspiração voltara a ser avistada em seu habitat. Não deu tempo de incluir no livro, mas a novidade foi considerada por ela uma espécie de recado para o Brasil.
Na interpretação da autora, a volta da borboleta explica um pouco o que país tem pela frente: “Um ecossistema muito frágil pode demorar muito tempo para ser recuperar: espero que não demore 40 anos para a economia do Brasil se recuperar, como demorou para as borboletas, mas com certeza o processo vai ser longo”, diz ela.
O livro é dirigido aos leigos interessados em desvendar como a economia do país foi parar no buraco em que se encontra. A analogia com a borboleta foi a maneira mais clara e simples encontrada por Mônica para destrinchar o problema. “Muita gente olha para a situação atual com perplexidade: como pode em 2014 o país ter a menor taxa de desemprego da história e dois anos depois ter recorde de desempregados? Elas acham que o colapso veio de uma hora para outra e não entendem que as sementes do desastre que se colhe hoje foram plantadas lá trás”, diz a economista.
A mensagem básica da analogia é direta, ainda que “lúdica”, como define a própria autora: “As melhores intenções, mesmo que sinceras, podem ter efeitos desastrosos”, diz.
Foi assim com as borboletas. Na década de 1970, o governo britânico fez uma intervenção na natureza. Decidiu reduzir o número de coelhos, que atacavam as plantações. Mas um número menor de coelhos levou a mais ervas daninhas e a um menor volume de gramíneas que alimentavam as formigas que, por sua vez, protegiam os ovos das borboletas azuladas.
Efeito colateral
Foi mais ou menos o que ocorreu no governo de Dilma Rousseff, segundo a autora. “Eu sei que muito gente vai me criticar por dizer isso, mas não acho que as intenções do governo Dilma foram ruins, foram até boas, o problema é que as políticas foram mal formuladas”, diz Mônica.
E ela complementa: “O governo Dilma, do início ao fim, foi marcado por intervenções que, a qualquer custo, tentavam manter o crescimento, sem levar muito em conta os efeitos colaterais – e até perversos – que essas medidas teriam sobre outras áreas da economia e que, por fim, levaram ao sumiço do crescimento”, diz Mônica.
A economista lembra que o Brasil é meio uma borboleta rara, com várias fragilidades. “Toda nossa história econômica mostra isso: o Brasil conviveu durante 30 anos com uma inflação inédita, quando se olha ao redor do mundo, e o fato de isso ter ocorrido criou no ecossistema econômico local uma série de peculiaridades que são só nossas: qualquer coisinha pode tirá-lo do equilíbrio.”
Uma das intervenções “mal formuladas” por Dilma e que hoje demanda a atenção do país é a política fiscal. Mônica lembra que, durante o governo Dilma, houve uma onda danosa de desonerações, de aumentos de gastos e de distribuição de benefícios fiscais que ela qualifica como “danosos” e difíceis de corrigir no curto prazo.
“As reformas que precisam ser feitas para reverter o estrago são muito duras e, embora necessárias, vão ter efeito até negativos no curto prazo. A reforma da Previdência, por exemplo, tira benefícios – e tira porque tem que tirar mesmo –, mas o fato é que não há o que fazer: precisamos corrigir as distorções agravadas ou criadas no governo Dilma”, diz.
Mônica, que vive hoje em Washington, nos EUA, desembarcou nesta semana no Brasil para participar das seções de autógrafo do livro. Nesta quarta-feira, 19, estará na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Na quinta-feira, 20, na Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
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