Sair de uma loja de produtos importados com a sacola cheia de novidades vai custar cada vez mais caro para os consumidores. Isso porque o dólar comercial beirando os R$ 3 já traz muita dor de cabeça a comerciantes especializados em itens fabricados fora do país, sobretudo aqueles de baixo valor. Sem acesso a mecanismos de proteção financeira capazes de minimizar a alta da moeda, a saída para esses lojistas é aumentar os preços e correr o risco de ver produtos encalhados nas prateleiras. Ou reduzir as margens de lucro, mesmo diante do aumento dos custos de importação.

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Dólar encosta em R$ 3 pelo segundo dia, mesmo com alta de juros

Por volta das 11 horas desta quinta-feira, o dólar à vista tinha alta de 0,26%, chegando a R$ 2,98

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A Daiso Japan, no Brasil há pouco mais de dois anos, já não descarta reajustes e até alertou os clientes, em sua página no Facebook, sobre a variação do dólar desde o ano passado. A rede de lojas, com mais de 2.600 unidades em Japão, Estados Unidos e Austrália, cobra um preço único por todos os seus mais de 4 mil produtos. Atualmente, cada item custa R$ 6,90, mas a apreciação do dólar tem dificultado manter esse preço.

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Empresas menores são as mais afetadas no curto prazo

Com estruturas enxutas, empresas de menor porte não conseguem recorrer a instrumentos de proteção financeira e acabam assumindo todo o risco da variação cambial – o que, para os consumidores, significa encarar preços muito mais elevados de uma hora para outra.

“O problema é que há um custo fixo, independente do tamanho da operação. É uma operação complicada e cara. Para as grandes empresas, que têm uma área financeira especializada, acaba compensando. Já o pequeno importador não tem como arcar com isso”, explica Carlos Eduardo de Andrade, diretor de câmbio do Banco Rendimento.

No Centro do Rio, Denys Darzi, presidente do Polo Centro Rio e dono da loja de tecidos Parati Decorações, conta que muitos revendedores já estão repassando o aumento do dólar integral ou parcialmente. “Eu só reajustei os preços do estoque novo, que ficou de 5% a 16% mais caro. E esse número pode ser ainda maior se o dólar continuar a subir”, diz.

Quem também vê impactos negativos nas vendas já fracas é Enio Bittencourt, presidente da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara). “O comerciante vai aguentar até onde puder. Quando não der mais, vai fechar as portas. Alguns já estão querendo vender as lojas. O empresário não aguenta mais esta situação, e o governo ainda quer aumentar os impostos”, critica.

“Vamos tentar manter até o limite possível o valor-base de R$ 6,90, porém uma parte das mercadorias terá que sofrer algum reajuste”, afirmou Reginaldo Gonçalves Paulista, gerente-geral das lojas no Brasil.

Ele afirma que, para compensar a alta do dólar, todos os custos operacionais das lojas estão sendo revistos. “Estamos nos esforçando para que as lojas Daiso sejam conhecidas nacionalmente. O público brasileiro gosta dos produtos kawaii”, diz Paulista, referindo-se à mercadoria, predominantemente produtos coloridos para casa ou com motivos divertidos.

Reajustes

A francesa Pylones, especializada em produtos de design para a casa, segue o mesmo caminho. Para o proprietário das unidades brasileiras, Fernando Saliba, a saída será fazer reajustes mais constantes.

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“É muito caro fazer um contrato de proteção financeira (hedge), então preferimos assumir o risco. Eu não quero aumentar mais os preços, mas temos um limite”, explica ele, admitindo, porém, ser impossível repassar todo o aumento de custo, já que isso dificultaria as vendas em um momento de economia desaquecida.

Segundo Saliba, embora seja 100% dependente de importações, o custo de um contrato de hedge em banco ou corretora é muito elevado e acaba não compensando o benefício de ter um valor predeterminado para a moeda americana. A solução é dar prioridade a produtos de maior saída e fazer reajustes a cada nova chegada de mercadorias no Brasil. Ele explica que, na compra, já é feito um adiantamento dos valores à sede na França. Na chegada dos produtos no Brasil, é preciso pagar os impostos. Leva-se em conta a cotação do dia da liberação da mercadoria na alfândega:

“O que no fim do ano passado era pessimismo, agora virou realidade. Vamos ter uma pequena crise no comércio, ainda mais para o nosso tipo de produto, que é supérfluo”, explica.

Efeito nas vendas

Já a Full Fit, importadora de produtos de decoração e utilidades domésticas, percebeu que os clientes (em geral, lojas de presentes ou redes de varejo) estão fazendo compras menores.

“Eles ficam com receio de comprar e ver os produtos encalharem, por conta das vendas mais fracas. Alguns esperam que o dólar possa cair nos próximos meses, então compram só para repor estoque”, conta Toninho Mansilia, gerente de vendas da empresa.

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