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Grandes malharias de Curitiba adotam modelo do atacarejo
Ao contrário do varejo, o atacado de tecidos mostra que ainda está em época de adaptação. Segundo o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), a participação das vendas por atacado no setor se manteve na faixa de 13% a 15% entre 2008 a 2012 no país. No caso da malha, houve acréscimo; no dos tecidos planos, queda (de 15,1% para 13,9%). A visão do instituto é que o ramo está em uma encruzilhada, uma vez que as importadoras encurtaram a cadeia produtiva e antigos varejos hoje não descartam eventuais vendas em grandes volumes.
Frente à concorrência por espaço, uma mudança visível nas grandes malharias de Curitiba é que hoje não existe mais distinção entre quem vende tecidos chiques e malhas por quilo ou quem tem como público pessoas físicas ou juridícas. Todos vendem tudo e para todos. Ou seja, o modelo do atacarejo chegou ao setor.
É o caso da Fremetex, malharia famosa há 30 anos por vender a quilo no bairro Boqueirão. Nos últimos anos, a empresa mudou de foco para abraçar toda a clientela possível. De acordo com o empresário Anderson Zinotti, a malharia faz de tudo um pouco: vende para empresas e donas de casa, e tem no catálogo de viscose a renda. A publicidade é tímida, mas o lema é sempre baixo preço. "Fabrico alguma coisa e tenho mais de 90 fornecedores. Sei o preço de tudo que está no mercado. Se chegar alguém com R$ 0,15 de diferença, sei onde procurar outro fornecedor".
Mercado é estável no país, diz instituto
Segundo o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), o mercado de tecidos vem se mantendo estável no Brasil. Entre 2008 e 2012, as vendas de malha no varejo subiram de 3,2% de participação no setor para 4%; as de tecidos planos (não flexíveis, como sarja, seda e tricoline) foram de 2,2% para 3,1%. Para Marcelo Prado, diretor do IEMI, o mercado de tecidos é pequeno, de nicho, porém necessário. "Sempre haverá pequenas empresas sem crédito disponível que precisarão de amostras de tecido ou de pronta-entrega", afirma ele.
Na visão do economista, após a peneira nos anos 1990, sobreviveram os players de que o nicho precisa. "Na época, houve atacadista que se tornou importador e varejistas que se transformaram em grandes armarinhos. Alguns ficaram ricos, outros fecharam portas. Quem ficou, supre um mercado que nunca vai acabar porque tem demanda", acredita. Para Prado, a redução do setor já ocorreu na década de 1990; agora o tempo é de estabilidade. Uma prova disso, afirma, é que a maioria das multinacionais deixou o nicho, mas fábricas já estão abrindo lojas para voltar a ter uma parte do mercado.
Diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel acredita que "o varejo de tecidos é um ser que continuará existindo, ainda que reduzido". Ele avalia que a decoração se mostrará a melhor alternativa para o setor.
11,21% mais vendasé quanto registrou o ramo de tecidos em agosto de 2013 sobre o mesmo mês do ano passado, segundo dados da Fecomércio-PR. No acumulado do ano, porém, o setor apresenta queda de 0,78%.
Em uma tarde de quarta-feira, duas clientes buscam tecidos na loja Javanesa Fashion, em Curitiba. Uma delas quer tule e cetim para um vestido de noiva que será usado em um ensaio fotográfico no estilo "trash the dress", em que o traje é sujo ou molhado. A outra cliente procura o tecido do vestido que usará como convidada em um casamento. É essa clientela que mais movimenta a engrenagem das lojas de tecido tradicionais da capital paranaense, mas não é só isso.
Para sobreviver a obstáculos como a falta crescente de mão de obra especializada (alfaiates e costureiras) o que reduz mais o interesse por trajes exclusivos e a mudança de hábitos da população, o setor tem buscado diversificação. Atende a empresas que precisam de uniformes, oferece tecidos para decoração e assume serviços de confecção. Assim o setor mostra resistência frente à crescente importação de roupas prontas a preço chinês.
Segundo pesquisa de varejo da Federação do Comércio (Fecomércio-PR), o ramo de tecidos teve em agosto vendas 11,21% acima do mesmo mês de 2012. No acumulado de 2013, porém, as vendas do setor registram decréscimo de 0,78%. Em um ano em que o comércio busca recuperação, lojas de tecido estão melhores que as de departamento (-13,65%) e de calçados (-1,39%). Para a Fecomércio-PR, o setor busca se manter competitivo, com preços baixos e oferta variada.
Foi a busca por variedade que fez a Daju mudar. A rede de lojas passou a vender produtos de cama, mesa e banho, tapetes, utilidades domésticas, decoração e vestuário. O estilo "tem de tudo" foi a forma encontrada para sobreviver, segundo a gerente-geral Juliane Karsten Lorenz. Ao falar do assunto, ela dá a regra de quem está no negócio: otimismo. "Você sabe que uma hora os clientes retornarão", afirma.
Quando o assunto é diversificação, porém, o grupo Javanesa foi além. Nos últimos anos, a rede cresceu para cinco lojas. A de maior faturamento é a de tecidos para roupas de festa. A mais recente oferece tecidos para decoração. A rede ainda mantém duas lojas populares e aposta em outra de atacado. Os tecidos à venda custam de R$ 6,80 a R$ 3 mil por metro.
A estratégia teve esforço financeiro, uma vez que as lojas funcionam em prédios alugados. Mas é a aposta de Munir Mushashe, 55 anos, filho do imigrante palestino que começou a empresa em Curitiba nos anos 1970. Mushashe trabalha desde os 8 anos de idade e já viu crises de consumo maiores à frente da empresa. Uma delas ocorreu após a abertura às importações, nos anos 1990. Por causa disso, minimiza o tombo atual do varejo. "A crise não é do setor, mas geral", pondera.
Mudança
Prestes a ser vendida, Casa Hilú vai manter o nome.
Aos 85 anos, a loja de tecidos Casa Hilú enfrentou e perdeu uma batalha comum no varejo de tecidos, formado especialmente por empresas familiares: não achou sucessor. A loja na Rua Riachuelo, em Curitiba, estará até novembro aberta das 9 às 13 horas, oferecendo tecidos com descontos de 20% a 30%. A promoção ocorre desde março. Depois, o negócio deve passar para as mãos de um empresário que tem uma loja de móveis na mesma rua.
O cansaço da família Hilú começou há um ano, quando morreu Ottília Nicolate Hilú. Mulher do fundador da loja, o imigrante libanês Miguel Hilú, Ottília trabalhou atrás do balcão até perto de falecer, aos 94 anos. Pessoas próximas à família contam que a dor da perda traumatizou os Hilú os filhos ainda choram muito ao falar da mãe. Braço-direito da mãe nos últimos anos, Leila preferiu não conversar com a Gazeta do Povo.
A filha de Ottília e o comerciante Issa Jaber Makhoul, no ramo há 45 anos, têm conversado sobre um contrato de aluguel do prédio para que o lojista assuma o negócio. O prédio pertence à família. Makhoul conta que sua intenção é que a loja seja tocada pelo seu filho, de 18 anos. Ele disse que a sugestão partiu da família, de quem é amigo.
O comerciante garante que não fará mudanças bruscas no negócio. "Pretendo dar continuidade até ao nome, porque eles têm uma clientela grande e boa, têm tradição", conta. A intenção de Makhoul é talvez aumentar o leque de produtos da loja, acrescentando tapetes, por exemplo. Mas o prédio deve ficar intacto. "Eles não aceitam um prego na parede".
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