Seis meses depois de atingir o fundo do poço, o mercado brasileiro de carros seminovos e usados vem exibindo uma tímida recuperação, mas ainda se mantém distante dos patamares de 2008. Enquanto as concessionárias de automóveis novos conseguiram vender 4% mais no primeiro semestre, graças à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), as revendedoras de usados ainda amargam uma queda de 10% no acumulado do ano causada, em parte, pela concorrência dos modelos novos, que ficaram mais baratos. Não há dados precisos sobre o mercado paranaense, mas seu comportamento provavelmente foi semelhante ao da média nacional, a julgar pelas avaliações de lojistas consultados pela Gazeta do Povo.
Números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que as medidas do governo para garantir o fôlego das montadoras intensificaram uma tendência observada há alguns anos: é cada vez maior a participação dos automóveis novos no total de veículos vendidos. Em junho de 2007, um em cada quatro carros negociados no país era zero quilômetro; em junho passado, a relação foi de um em cada três. Em outros termos, se há dois anos a venda de um automóvel novo representava a negociação pelo menos três usados, agora ela faz mudar de dono uma média de apenas dois veículos.
Para Ilídio Gonçalves dos Santos, presidente da Fenauto, a federação dos revendedores de usados, o que falta é informação ao consumidor. "Se ele fizesse uma pesquisa, tenho certeza de que deixaria de comprar um carro zero básico, sem opcionais, e compraria um automóvel com dois anos de uso, mas mais confortável, equipado com ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico. É que, como a propaganda das montadoras e concessionárias é muito forte, o consumidor vai direto comprar o zero, sem pesquisar."
Esse movimento, que em épocas de forte expansão econômica não tiraria o sono dos revendedores de usados, agora chega a ameaçar a sobrevivência de algumas lojas, principalmente as de pequeno porte. "O carro novo está muito barato. Vai comprar carro velho para quê?", questiona Paulo Machado, da Fio Automóveis. Sua loja, que fica no bairro Sítio Cercado, em Curitiba, não vende um carro sequer há dois meses. O dono de outra revendedora, no bairro São Lourenço, não quis nem falar sobre o assunto desanimado, está acertando os últimos detalhes para fechar as portas.