O economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, afirmou nesta semana que atualmente as questões políticas estão influenciando muito as questões econômicas e que é provável que a presidente Dilma Rousseff continue enfrentando uma “agenda concorrencial” dos outros poderes, com “baixo grau de cooperação entre Legislativo e Executivo”.
“A economia brasileira está em um processo de ajuste em função das questões macroeconômicas, mas no curto prazo as questões políticas estão influenciando muito a economia e há uma grande dúvida sobre o desenrolar dessa crise política”, afirmou durante palestra no 4º Encontro Estadual de Dirigentes de Cooperativas de Crédito, na capital paulista.
Rebaixamentos de empresas devem superar elevações em mais de 5 vezes, diz Fitch
No segundo semestre de 2015, os rebaixamentos de empresas brasileiras devem superar as elevações de rating em mais de cinco vezes, segundo a Fitch Ratings.
Leia a matéria completaSegundo Loyola, o governo da presidente Dilma está sendo muito questionado e tem mostrado sua fraqueza, o que gera incertezas nos agentes econômicos. “Há dúvida sobre se ela chega ou não chega a 2018. Isso gera incerteza e está influenciando negativamente a economia”, afirmou, ressaltando que ainda trabalha com um cenário em que a presidente complete o mandato, mesmo sem muita força.
Loyola citou ainda a Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, e disse que seus desdobramentos também geram tensão política e, consequentemente, econômica. “A Lava Jato também assusta, pois ninguém sabe quem vai fazer a próxima viagem para Curitiba, isso gera tensão”, disse, referindo-se a capital paranaense onde estão sendo levado os presos na operação.
O ex-presidente do BC disse ainda que a situação econômica não é das mais favoráveis, mas não “há motivos para se desesperar”. “A crise econômica não é apenas conjuntural, há aspectos estruturais que têm peso relevante”, disse.
Loyola, que proferiu a palestra com o tema “Cenário Econômico e as oportunidades para o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC)”, disse ainda que a crise também oferece oportunidades para mudanças importantes e que o ajuste macroeconômico exige que o consumo das famílias deixe de ser o principal vetor de crescimento do País. “Precisamos aumentar a poupança doméstica e reduzir o déficit em conta corrente”, exemplificou.
Joaquim Levy
Ainda de acordo com ele, o sucesso do ajuste é fundamental para a recuperação da economia brasileira e que a permanência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é requisito para o ajuste. “O sucesso dos ajustes é condição necessária para recuperação da economia e manutenção de grau de investimento. Nesse sentido, a permanência do Levy é requisito para tais resultados”, disse.
Segundo Loyola, uma eventual saída de Joaquim Levy “seria muito ruim”. “A permanência de Levy é o que diferencia nosso cenário básico (de expectativas) de um cenário mais pessimista”, afirmou. “Contamos com sua permanência.”
O ex-presidente do BC disse ainda que mesmo em um cenário especulativo de saída da presidente Dilma Rousseff por meio de um processo de impeachment, seria viável imaginar a permanência do ministro. “Levy poderia até continuar. Não esperamos grande mudança de política econômica na hipótese de impeachment”, afirmou, ressaltando que ainda trabalha com o cenário no qual a presidente Dilma consiga concluir o seu mandato em 2018, mesmo que enfraquecida.
Para Loyola, um fator determinante para melhoria do cenário futuro é a capacidade da equipe econômica restabelecer minimamente a confiança dos agentes econômicos. “Não falo da capacidade intelectual, mas da capacidade prática”, disse.
O ex-presidente do BC disse ainda que já está havendo um redirecionamento da política macroeconômica que pode não estar trazendo todos os resultados por conta da fraqueza do governo da presidente Dilma, que dificulta a implementação do ajuste e impede reformas estruturais. “A economia brasileira está em um processo de ajuste em função das questões macroeconômicas, mas no curto prazo as questões políticas estão influenciando muito a econômica e há uma grande dúvida sobre o desenrolar dessa crise política”, afirmou.
Grau de investimento
Para Loyola, o ponto de vista do prêmio dos ativos e de risco do Brasil já é realidade a perda do grau de investimento do País. “Acho que, embora a chance seja grande, o Brasil ainda pode se safar da perda formal (do grau de investimento)”, disse.
Loyola destacou que muitos investidores já diminuíram sua exposição no Brasil em função dessa piora do cenário econômico, mas que como alguns fundos têm regras que exigem o investment grade para investir o efetivo rebaixamento da nota do Brasil “pode representar golpe adicional, embora muito dessa perda já esteja precificada nos mercados.”
Problema do impeachment
O economista e ex-presidente do Banco Central afirmou também que, apesar de não trabalhar com o cenário de impeachment da presidente Dilma Rousseff como sendo o mais provável, um eventual impedimento da continuidade do governo aumentaria as incertezas e paralisaria ainda mais as decisões dos agentes econômicos. “O grande problema do impeachment, do ponto de vista de repercussão, é que os mercados e os agentes econômicos ficam sem saber como esse processo vai se desenrolar”, disse ao Broadcast.
Segundo Loyola, um processo de impeachment geraria um ambiente de muita incerteza e diante desse cenário haveria “um reposicionamento do mercado de ativos, a alta do dólar, a queda na bolsa, alta do juros e uma certa paralisa de decisões até que o mercado saiba o que vai acontecer no dia seguinte.”
O ex-presidente do BC, que é sócio da Tendências Consultoria, afirmou que as simulações de um cenário de impedimento de Dilma levam em conta experiências de outras crises politicas. “A gente tem por experiência episódios de crises políticas, e crises políticas não são naturalmente situações em que a economia se dê bem”, afirmou.
Para Loyola, que estima que o dólar, por exemplo, fique em um patamar entre R$ 3,50 e R$ 3,60 no fim do ano, com o agravamento do cenário político a moeda americana pode se valorizar ainda mais. “Se tiver o impeachment, o dólar pode chegar a R$ 4”, afirmou. “Podemos ter surpresa no dólar que viria da questão política interna”, reforçou.
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