A Petrobras encerrou o segundo trimestre de 2015 com um lucro líquido de R$ 531 milhões, montante 89,3% inferior ao alcançado no mesmo período do ano passado (R$ 4,959 bilhões). A retração, em proporções maiores do que aquelas esperadas pelo mercado financeiro, tem origem no pagamento de um total de R$ 1,6 bilhão em multas discutidas no âmbito da Receita Federal, na realização de um impairment, com efeito de R$ 1,283 bilhão, e no impacto provocado pela queda nas cotações internacionais de petróleo.
Este é o segundo lucro trimestral consecutivo obtido pela Petrobras após o anúncio do prejuízo de R$ 26,6 bilhões no fechamento de 2014. No primeiro trimestre, a estatal reportou lucro de R$ 5,330 bilhões. É, também, o terceiro pior resultado trimestral reportado pela Petrobras na última década, superando apenas os prejuízos acumulados no quarto trimestre de 2014 e no segundo trimestre de 2012.
Do ponto de vista operacional, o balanço do segundo trimestre mostra semelhanças em relação ao resultado dos três primeiros meses do ano. O petróleo em queda reduziu a receita da estatal e afetou a rentabilidade da área de Exploração e Produção (E&P), efeito mitigado pelo dólar mais favorável às exportações e pelo aumento da produção de petróleo e gás. Por outro lado, o petróleo mais barato tornou as operações de importação de derivados menos adversas, movimento percebido nos números da área de Abastecimento e mitigado pelo desaquecimento do mercado doméstico de combustíveis.
Como resultado, a receita líquida da Petrobras totalizou R$ 79,943 bilhões no segundo trimestre do ano, queda de 2,9% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) ajustado somou R$ 19,771 bilhões, alta de 21,7% em relação ao segundo trimestre de 2014.
Receita Federal
O balanço da Petrobras no segundo trimestre teria sido mais positivo não fosse o efeito bilionário contabilizado no resultado do período. Conforme noticiado pela estatal em julho, os números do segundo trimestre foram impactados por uma decisão desfavorável na esfera administrativa, a qual resultou no pagamento de R$ 1,6 bilhão à Receita Federal. A transação foi feita a partir do pagamento de R$ 1,2 bilhão à vista e R$ 400 milhões com prejuízos fiscais, e o impacto no balanço trimestral, líquido de impostos, ficou em R$ 1,4 bilhão.
A companhia também cita o impacto de R$ 1,283 bilhão decorrente da realização de um impairment de ativos das áreas de Gás e Energia, Abastecimento e Exploração e Produção, em função da exclusão de projetos da carteira de investimentos contemplada no Plano de Negócios e Gestão 2015-2019.
Além disso, o resultado da linha financeira também foi desfavorável. A estatal registrou uma despesa financeira líquida de R$ 6,048 bilhões no trimestre, pior do que os R$ 940 milhões negativos do segundo trimestre do ano passado.
Semestre
Com a queda do lucro no segundo trimestre, o resultado da Petrobras no acumulado semestral também apresentou variação negativa. A companhia acumulou um lucro de R$ 5,861 bilhões entre janeiro e junho, uma queda de 43,4% em relação a igual período do ano passado. A retração reflete a tendência dos preços internacionais do petróleo, o efeito cambial sobre os dados operacionais da estatal e o pagamento do valor bilionário à Receita Federal.
O material de divulgação publicado nesta quinta-feira pela Petrobras na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também aponta uma queda de 5,8% na receita líquida do semestre, para um total de R$ 154,296 bilhões. Já o Ebitda ajustado somou R$ 41,289 bilhões no primeiro semestre deste ano, expansão de 35% sobre os dados de 2014.
Perdas com defasagem
No segundo trimestre deste ano, a Petrobras voltou a ter prejuízos com a venda da gasolina no mercado interno, já que o preço vendido nas refinarias do país pela companhia voltou a ser menor do que a estatal paga no mercado internacional. Isso ocorreu por conta da valorização da moeda americana e também pelo aumento de preços da gasolina no Hemisfério Norte devido ao período de verão.
Segundo cálculos do Centro Brasileiro de infra Estrutura (CBIE), de abril a junho deste ano, a gasolina foi vendida pela Petrobras 6,8% mais barata do que paga no exterior. Já com o diesel, a Petrobras ainda tem margem positiva: a estatal vende no país com um preço 8,6% maior do que compra no exterior.
O economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, acredita que, se continuar a defasagem dos preços da gasolina nos próximos meses, se abre espaço para o governo autorizar um reajuste de preços dos combustíveis ainda este ano. Segundo Thiago, somente em julho a gasolina foi vendida a um preço 8,5% inferior ao mercado internacional, enquanto o diesel ainda estava 16% mais caro.
“Enquanto a Petrobras continua se beneficiando com a venda do diesel, que mantém um cenário favorável de preços, a venda interna de gasolina segue com defasagem, principalmente com o processo de desvalorização do real. O retorno da defasagem do preço da gasolina indica que talvez haja a necessidade de um novo reajuste de preço no combustível até o final de 2015”, destacou Thiago Biscuola.
Atualmente, a defasagem com o preço da gasolina está em 7,3%. Já o óleo diesel está sendo vendido no país cerca de 20,3% mais caro, segundo o CBIE. Mas, na média do primeiro semestre, o preço da gasolina vendida no país ficou 6,6% acima da média dos preços internacionais e o óleo diesel 17,1% acima dos preços internacionais.