A mais pesada
Duas aquisições prejudicaram a Bematech
O ano passado era mesmo para arrumar a casa e, por isso, não deveria vir acompanhado de resultados fortes. Esta foi a posição de Marcel Malczewski, presidente do conselho de administração da Bematech, em entrevista à Gazeta do Povo ainda em 2011.
Na época, o executivo se referia às mudanças na direção do comando da empresa, promovidas gradativamente nos últimos anos, assim como à consolidação das aquisições. Apenas de 2010 para cá, a Bematech comprou seis companhias.
E foi justamente a partir de duas dessas aquisições que a empresa registrou prejuízo de R$ 69 milhões no terceiro trimestre de 2011. Tempo depois de ter concretizado as compras, o valor das companhias foi revisado para baixo, puxando junto o resultado líquido da Bematech. "Esses prejuízos contábeis arrastaram os resultados para baixo. Mas mesmo se eles fossem descontados, a empresa ainda teria andado de lado em 2011", analisa Luiz Augusto Pacheco, gestor da Inva Capital.
Ele ressalva o fato de a empresa ter assumido o prejuízo daquelas operações "de uma vez" como algo bem visto pelo mercado. Além disso, a aposta da empresa no setor de serviços ainda tem se mostrado acertada.
Dólar baixo pressionou a Positivo
O aperto nas margens de câmbio pressionou os resultados da Positivo Informática no ano passado. O diretor de Relações com Investidores da Positivo Informática, Ricardo Pereira, admite que a companhia sente o peso da briga com os importados, mas defende que a baixa no faturamento líquido também teve influência das vendas ao governo, que em 2011 andaram em passos lentos. "É comum isso acontecer em anos de troca de governo e, realmente, esta demanda ficou baixa no período", disse Pereira.
Ele, no entanto, enxerga 2011 como um ano de recuperação de resultados e margens. O movimento é comum no setor, que conta com a sazonalidade das vendas, concentradas nos últimos meses do ano. Em comparação com 2010, o último trimestre do ano passado viu a receita líquida saltar de R$ 590,1 milhões para R$ 617,5 milhões e a margem líquida, de 2,1% para 7,4%.
Para os próximos meses, Pereira aposta no lançamento de novos produtos (como os tablets da marca e seu ultrabook), e na "diversificação geográfica" de suas atividades, que desembarcaram na Argentina no ano passado, para recuperar as margens da companhia.
O conjunto das empresas paranaenses de capital aberto apresentou um crescimento tímido em 2011. Somados, os resultados líquidos de Positivo Informática, Bematech, Providência, Copel e América Latina Logística (ALL) avançaram apenas 2,11% em relação ao ano anterior.
O fraco desempenho foi puxado principalmente pelos resultados de Positivo e Bematech. A primeira enfrentou um ano difícil, com a conquista de menos contratos com o governo. E a segunda ainda se recupera da fase de aquisições de empresas menores. Ainda assim, dificuldades com as margens de lucro foram comuns para todas as companhias no período.
E o resultado seria ainda pior se descontada a influência da Copel no balanço. Sozinha, a operação da estatal paranaense de energia corresponde a quase cinco vezes a soma de todas as outras empresas. Sem os números da Copel, o conjunto das empresas restantes teria visto uma queda de 34,8% em seus lucros. Já a receita líquida destas companhias teria subido apenas 3,5%.
O fato é que, com margens apertadas e em um ano no qual a própria economia brasileira exibiu resultados medianos, as companhias paranaenses tiveram pouco espaço para se destacar.
"As quedas na bolsa foram generalizadas no ano passado e o desempenho das ações destas empresas foi, em parte, vinculado a isso. No quadro geral, as empresas paranaenses, mesmo sendo de áreas diversas, acabaram fechando o ano com números não tão positivos, além de quedas na Bovespa", afirmou Alessandro Helpa, sócio da Toro Investimentos.
Caso a caso
É certo que o movimento das empresas paranaenses de capital aberto acompanhou o próprio índice da bolsa, que desceu 18,1% no ano. No entanto, boa parte das companhias do estado teve resultados ainda piores que os do Ibovespa.
A Bematech teve as quedas mais acentuadas. Suas ações caíram 52,61% no período, chegando ao valor de R$ 3,91 no último pregão do ano passado. A queda foi causada por duas aquisições (leia mais nesta página). A companhia fechou o ano com R$ 42,4 milhões de prejuízo.
A Positivo Informática também teve uma queda acentuada no período. A empresa já vinha de maus resultados acumulados em 2010, quando viu uma desvalorização de 54,95% de seus papéis na Bovespa. Com a baixa consolidada no ano passado (de 38,48%), a ação da empresa passou a valer R$ 5,78.
A queda na cotação da ALL também foi significativa. Em 2011, o papel caiu 37,58%, chegando a R$ 9,30. A companhia, porém, já começou 2012 com fortes oscilações. Desde fevereiro, vem sendo levantada a possibilidade de a Cosan comprar uma participação relevante na companhia. Já em março, a ALL noticiou que poderá vender parte de sua operação na Argentina a atividade no país não é bem vista pelo mercado e a noticia agradou parte dos investidores.
ALL: à espera de resultados neste ano
A ALL teve um ano movimentado em 2011. A companhia iniciou a operação de três novos negócios com atividades também ligadas à logística e em parceria com outras grandes organizações do país. Os resultados, porém, deverão ser sentidos só neste ano.
Em junho, criou a Ritmo, empresa de logística rodoviária, com o grupo paranaense Ouro Verde. No mês seguinte, a Brado Logística, uma associação com a Standard Logística para o setor de contêineres. Já em dezembro, lançou a Vetria, empresa de mineração que tem seu controle dividido com a Triunfo e a Vetorial Participações.
A diversificação das atividades é bem avaliada pelo mercado, que vê esforços da ALL em se tornar menos dependente do setor ferroviário, como lembra Felipe Rocha, analista da Omar Camargo. O modal carrega críticas pelo seu alto nível de regulação do governo.
Na outra ponta, a baixa margem de lucro obtida em 2011 (7,72%) pode afastar novos investidores, segundo avalia Alessandro Helpa, sócio da Toro Investimentos. A margem é reflexo do envidamento da empresa (que saltou 26,5% em 2011, chegando a R$ 3,53 bilhões), segundo o diretor de Relações com Investidores da companhia, Rodrigo Campos.
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