O Banco do Brasil divulgou nesta quinta-feira (14) o balanço financeiro referente ao ano completo de 2018. Os números, tanto os consolidados como as previsões para os próximos meses, superaram as expectativas do mercado financeiro. Em todo o ano de 2018, o lucro líquido ajustado do BB foi de R$ 13,513 bilhões, incremento de 22,2% na comparação com 2017, quando o resultado alcançou R$ 11,060 bilhões.
Isso, ao lado das expectativas em torno da busca por parceiros ou mesmo da oferta inicial de ações (IPO) da subsidiária BB DVTM – braço de administração de recursos do banco e também maior gestora de recursos do Brasil – pelo governo de Jair Bolsonaro, está fazendo dos papeis do BB uma aposta dos analistas para 2019.
A divulgação de resultados do BB encerrou uma leva de balanços dos grandes bancos de capital aberto no país, iniciada no último dia 30 de janeiro com o Santander, que impressionou o mercado com lucro de R$ 12,6 bilhões, 52% acima de 2018, mas mostrou ainda alguma fragilidade técnica, com indicadores como custo de risco acima do esperado. Logo após a divulgação de seu balanço, o Santander viu sua ação desabar 2,04%.É que no caso dos bancos não basta ter lucro para chamar a atenção dos investidores, é preciso mostrar que está com a arrumação da casa em dia.
O Bradesco, que divulgou seus resultados um dia após o Santander, fez o caminho oposto. Um crescimento rápido e bem-sucedido na frente de varejo fez com que o banco superasse todas as expectativas de analistas. O resultado estimulou uma disparada de 5,65% para a ação.
Já o Itaú, que divulgou seus resultados no último dia 5, trouxe números abaixo do previsto. O maior banco do país aquele dia com queda de 4,26% nas ações. No dia seguinte, despencou mais 4,21%.
Fora os grandes de capital aberto, a Caixa Econômica Federal ainda não tem data para divulgar seus resultados do quatro trimestre de 2018.
No caso do BB, espera-se que, sob o olhar atento do ministro da Economia, Paulo Guedes, o uso político da instituição acabe (incluindo o caráter de subsídio do crédito rural), que a administração seja mais transparente e focada nas necessidades dos acionistas que não apenas a União e que subsidárias como a BB DTVM ganhe novos parceiros ou um IPO para crescer. É essa a receita básica esperada para o banco e que a Gazeta do Povo mostrou logo após a posse do novo presidente do BB, Rubem Novaes.
O Banco do Brasil não venderá ativos a qualquer preço na sua política de desinvestimentos de negócios que não sejam do core business da instituição, de acordo com Novaes. "Não temos valor preciso dos desinvestimentos", disse ele, sem dar mais detalhes, nesta quinta (14).
O foco do banco, conforme ele, é fazer a abertura de capital ou identificar parceiros estratégicos para as áreas de gestão de recursos (asset) e de banco de investimento. O martelo ainda não estaria batido. Segundo Novaes, ambas as estratégias não significam a divisão de receitas dessas áreas, mas maximizar o valor do banco e criar, com um parceiro, por exemplo, um bolo maior de ganhos para a instituição.
Na área de banco de banco de investimento, conforme o vice-presidente de negócios de atacado do BB, Márcio Hamilton, o banco tem um horizonte de 30 operações de renda fixa local, num total de R$ 7,5 bilhões.
Sobre a BB Seguridade, holding que concentra os negócios de seguros do banco, o presidente do BB disse que a companhia não está na lista de desinvestimentos do banco como colocou o secretário de desestatização, Salim Mattar, responsável por tocar a agenda de privatizações do ministro da Economia, Paulo Guedes. "Quando quiserem saber sobre o banco falem com o presidente do Banco do Brasil", retrucou Novaes.
Na área de investimentos, o banco está, conforme o vice-presidente de negócios de varejo, estudando opções como, por exemplo, a abertura de uma corretora de valores, um parceiro, mas que não está nada fechado.
Foco em alguns tipos de atendimento e digitalização são vantagens do BB
De acordo com o banco, “a especialização do atendimento e o avanço da estratégia digital influenciaram o desempenho positivo das rendas de tarifas, qualidade do crédito e controle das despesas administrativas”.
Para André Martins, analista da XP, um dos destaques do balanço é a expansão de 3% da carteira de crédito no ano. Na frente de cartões de crédito, o crescimento ficou em 14%, e o crédito pessoal subiu 18% anualmente. A qualidade do crédito também melhorou: a taxa de inadimplência atingiu 2,53%, em dezembro, queda de 0,29% no trimestre e abaixo da média nacional.
“O resultado do 4T18 reforça nossa tese de que o Banco do Brasil seguirá sua trajetória de aumento da rentabilidade através de uma oferta de produtos e serviços mais robusta à sua enorme base de clientes ainda inexplorada”, diz Martins. A XP tem recomendação de compra para o papel com preço-alvo de R$ 60 para o ano. A ação fechou o pregão da quarta-feira em R$ 52,08.
Para o Brasil Plural, a ação tende a reagir positivamente a partir de agora. “O banco terminou o ano atingindo todos os itens do guidance [perspectivas], surpreendentemente também atendendo à meta de crescimento da NII [resultado líquido de juros], que estava abaixo no terceiro trimestre”. Este resultado comprimiu 5% anualmente.
O guidance, ou seja, previsão do próprio banco para os resultados de 2019, veio ainda mais animador, de acordo com os analistas. Pelos dados apresentados, a melhora na rentabilidade deve continuar em 2019 – o lucro líquido ajustado para 2019 ficou estimado entre R$ 14,5 bilhões e R$ 17,5 bilhões.
As despesas com provisões tendem a cair 9%, na média do guidance, “melhora bem forte”, de acordo com o Credit. Os analistas do banco preveem que as casas de análise devam começar a rever as projeções.
A perspectiva do banco também é de crescimento de 18% no indicador de lucro por ação (EPS, na sigla em inglês). Para alcançar esses números, o foco do banco no ano “está na geração orgânica de capital, pelo crescimento do crédito em linhas com menor consumo de capital e mais atrativas sob o critério retorno versus risco”, diz o BB em nota.
Thiago Bovolenta, do Itaú BBA, também vê espaço para alta da ação. “O banco continua a fechar seus principais buracos (qualidade do ativo, capital e lucratividade)”, escreve. Para ele, a combinação entre a perspectiva de EPS e um valuation “decente” (negócios a 9,2 vezes no indicador preço da ação sobre lucro), deve impulsionar alta do papel.
Nesta tarde de quinta (14), após a divulgação do balanço, as ações do BB estavam em alta de 1,90% pro volta das 14h45, cotadas a R$ 53,07. O Ibovespa tem queda de 0,20%.