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DESENVOLVIMENTO

Lugar de indústria é em Fazenda

Obras da Sumitomo no distrito industrial de Fazenda Rio Grande: prefeitura diz que a cota de ICMS do município vai triplicar em 2014 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Obras da Sumitomo no distrito industrial de Fazenda Rio Grande: prefeitura diz que a cota de ICMS do município vai triplicar em 2014 (Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo)

Próxima à capital, com poucas restrições ambientais, alguns incentivos fiscais e terrenos de sobra, Fazenda Rio Grande virou uma das principais opções para indústrias interessadas em se instalar na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Tem atraído multinacionais, mas também empresas de cidades próximas que não têm espaço para crescer em seus locais de origem.

Pelo menos 11 companhias de médio e grande porte estão construindo ou planejam erguer fábrica no município, que fica às margens da BR-116, ao sul de Curitiba. A prefeitura conta com a geração de 10 mil empregos nos próximos anos, o que praticamente dobraria o número de trabalhadores formais do setor privado – hoje são cerca de 11 mil.

A indústria local cresce acima da média da Grande Curitiba há alguns anos. Sua participação no total da RMC passou de 0,41% para 0,75% entre 2000 e 2010, subindo da 16.ª para a 11.ª posição dentre os 29 municípios da região.

Esse avanço atraiu grandes varejistas – Condor, Casas Bahia, MercadoMóveis, Lojas Coppel – e inflou a arrecadação. Em quatro anos, o orçamento da prefeitura passou de R$ 72 milhões para R$ 180 milhões, segundo o secretário de Indústria e Comércio, Eloi Khun.

Mas o maior impacto ainda está por vir. Exemplo disso é a cota de ICMS do município, que deve triplicar em 2014, estima o secretário. A explicação está no início da operação de grandes fábricas, principalmente a linha de pneus da japonesa Sumitomo, um investimento de R$ 560 milhões. Outras empresas vão produzir em breve. É o caso da alemã Isringhausen, fabricante de assentos para caminhões, que fica a menos de 700 metros da Sumitomo.

As duas multinacionais estão no primeiro distrito industrial de Fazenda Rio Grande, localizado a oito quilômetros do bairro curitibano do Umbará, na continuação da Rua Nicola Pellanda. Inaugurado no fim dos anos 1990, o distrito já hospeda fornecedoras da indústria automobilística como a japonesa Kayaba (amortecedores), a nipo-francesa NTN-SNR (rolamentos) e a espanhola Antex (fios sintéticos), além da fábrica de chás secos da Matte Leão.

Condomínios

Boa parte das novas empresas, em especial as de grande porte, vai se instalar nesse parque. Aproveitando a onda, a imobiliária ARB Imóveis prepara ali um condomínio de 100 lotes industriais, de 2 mil a 20 mil metros quadrados cada. "Cerca de 20% dessa área está pré-reservada", diz o proprietário, Aroldo Bueno.

Também há empresas investindo perto do centro e no novo distrito industrial, na saída sul da cidade. A imobiliária Centauro oferece ali 39 lotes, de 3 mil a 50 mil metros quadrados – 13 companhias, a maioria de pequeno e médio porte, já teriam fechado negócio.

Mão de obra também atrai empresas

Empresas da Grande Curitiba que estão de mudança para Fazenda Rio Grande citam a mão de obra como uma das vantagens do município.

A fabricante de cozinhas industriais Rodriaço, hoje no bairro curitibano do Pinheirinho, vai se transferir para o principal distrito industrial de Fazenda Rio Grande até o fim de 2014 – sua área de marcenaria já está lá.

A maioria dos 130 funcionários atuais vai trabalhar na nova unidade, mas a empresa também quer contratar trabalhadores locais. "Todo dia milhares de pessoas saem de Fazenda para trabalhar em indústrias de Curitiba, Araucária, São José dos Pinhais. Com a expansão da indústria local, muitas terão oportunidades perto de casa", diz o dono da Rodriaço, Rodrigo Vieira Tavares.

Outra que está de mudança é a Plastilit, de Palmeira (Campos Gerais). A empresa, que faz tubos e conexões, está transportando máquinas para um barracão perto do centro de Fazenda Rio Grande. Em dois anos vai a Polifort, que faz parte do mesmo grupo e produz forros de PVC. No novo espaço, as duas vão dobrar a capacidade de produção.

"Em Palmeira temos dificuldade em encontrar trabalhadores qualificados. A mão de obra foi um dos fatores que nos levou a Fazenda Rio Grande", conta Generoso Schafhauser, diretor financeiro da Plastilit.

A empresa quer elevar seu quadro de 480 para 500 funcionários, mas no máximo 100 dos atuais vão para Fazenda; os demais serão contratados lá mesmo. A Polifort, hoje com 150 pessoas, passará a 180 – e também contratará a maioria na nova sede.

Qualidade de vida avança em ritmo lento

O crescimento econômico de Fazenda Rio Grande não foi acompanhado de um progresso equivalente na qualidade de vida. Embora tenham melhorado, indicadores de desenvolvimento da cidade avançaram menos que os de vizinhas da Grande Curitiba.

A geração de riquezas no município cresce acima da média da RMC, mas o PIB per capita tem subido menos, influenciado pelo inchaço populacional. Em dez anos, o número de habitantes aumentou de 63 mil para 82 mil, um salto de 30% – o dobro do crescimento da região toda.

"Veio muita gente morar aqui, mas a cidade não tem estrutura suficiente, porque cresceu sem planejamento. Tem ruas estreitas, poucas praças, poucas áreas de lazer", diz o presidente da Acinfaz, João Munaro. Ele cita o exemplo do conjunto habitacional Jardim Europa, entregue há dois anos. "São 502 casas, mas ali não tem creche, praça, mercado, ponto de ônibus."

No Índice Firjan de Desen­­­volvimento Municipal (IFDM), Fazenda perdeu posições entre 2000 e 2010. Seu índice, hoje em 0,6522, está bem abaixo da média estadual (0,8427). Antes com o 10.º maior IFMD da região metropolitana, o município é hoje o 15.º. No estado, caiu de 138.º para 207.º.

A política do município vive momento delicado. O prefeito, Chico dos Santos (PSDB), corre o risco de perder o mandato. Reeleito em 2012, ele é acusado de uso abusivo de veículos de comunicação na eleição. Uma ação que pede seu afastamento está no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas Santos permanece no cargo até que ela seja julgada.

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