O Magazine Luiza já é uma potência digital, mas não pensa em diminuir investimentos em lojas físicas, tanto que segue inaugurando unidades pelo país. "Acreditamos na multicanalidade, na união do físico com o digital", disse a presidente do Conselho do Magalu, Luiza Helena Trajano, em entrevista à Gazeta do Povo.
A empresária participa na noite desta segunda-feira (17) do Social Hackacom, maratona de inovação, comunicação e propósito promovida pelo Instituto GRPCOM. Ela abre o evento às 19h ao lado do presidente do Grupo Parananense de Comunicação, Guilherme Cunha Pereira, em um debate sobre a importância de fomentar causas sociais que amargaram redução de receitas em função da pandemia. O evento é online e gratuito, com inscrições abertas pelo site do Instituto GRPCOM.
Dona de uma gigante que atingiu receita líquida de quase R$ 8,3 bilhões e lucro de R$ 259 milhões no primeiro trimestre de 2021, e eleita pela revista Forbes como uma das três mulheres mais poderosas do país, Luiza Trajano tem estendido sua atuação para além da empresa. Desde 2013 ela preside também o Grupo Mulheres do Brasil, criado com o objetivo de fomentar a adoção de políticas afirmativas e eliminar as desigualdades de gênero, raça e condição social. Atualmente, o grupo suprapartidário encabeça a iniciativa Unidos Pela Vacina, que ambiciona angariar esforços para imunizar contra o coronavírus 100% dos brasileiros vacináveis até o mês de setembro, de olho em destravar a economia.
Em entrevista concedida à Gazeta do Povo por e-mail, a empresária falou sobre as lições da pandemia para os negócios e a saída da crise que, na sua avaliação, passa necessariamente pela vacinação em massa. Confira:
O que mudou no Magalu a partir da pandemia? Em algum momento houve perspectiva de diminuir a presença física?
Muita coisa mudou desde a pandemia, mas em momento algum pensamos em diminuir o investimento em lojas físicas, pelo contrário, inauguramos cerca de cinquenta lojas e mantivemos nosso ritmo de crescimento neste ano, inclusive, entrando no estado do Rio de Janeiro. Acreditamos na multicanalidade, na união do físico com o digital.
E na "Luiza empresária", o que mudou? Saem lições dessa fase?
Muitas e muitas lições. Ninguém pode dizer que é o mesmo antes e depois da pandemia, pois dezenas de aprendizados ficarão. Destaco, especialmente, a desigualdade social que ficou escancarada e despertou todos a implantarem ações de solidariedade, que acredito que continuarão após a pandemia.
Dentro do contexto atual, como a senhora vê o Magazine Luiza do futuro? O Magalu já é uma potência no digital e nos meses recentes seguiu com seu movimento amplo de aquisições. O apetite parece consolidar uma trajetória de expansão de audiência e conquista de ainda mais relevância no app. O foco de varejo tradicional pode mudar com aposta cada vez mais pesada em diversificação?
O foco sempre foi e será o varejo, mas o que é necessário perceber, especialmente os micro e pequenos, é que a forma da venda mudou, pois é necessária a digitalização. Isso é uma forma de pensar, não é apenas criar um site ou aplicativo, é preciso integrar o físico com o digital, facilitar processos e entregar conteúdo e serviços cada vez mais inovadores.
O cenário econômico do país é bastante desafiador no momento, mas também de oportunidades (como se nota, por exemplo, a partir do desempenho do e-commerce brasileiro durante a pandemia). Que avaliação a senhora faz do quadro nacional atual com vistas a uma retomada?
A retomada completa se dará após a vacinação e também dependerá muito da rápida retomada do emprego. O desemprego, hoje, é o indicador mais cruel e preocupante que precisa ser revertido para que possamos voltar a crescer. Serão necessárias ações rápidas e de investimentos do governo para fomentar diversos setores da economia que foram duramente castigados pela pandemia.
Desde setembro a senhora lidera a ação nacional Unidos pela Vacina, de aceleração da imunização no país. Poderia fazer um balanço desse trabalho?
O Unidos Pela Vacina está trabalhando para criar ações de conscientização da vacinação no Brasil, com o auxílio de informações ao Ministério da Saúde para tratativas de compra de vacina pelo governo federal. Mas acredito que a ação que deixará grande legado será a adoção de cidades por empresas e pessoas físicas.
Fizemos um levantamento de todos os municípios do Brasil que relataram suas dificuldades de infraestrutura para o serviço de vacinação de sua população. Com esse estudo, nós, agora, estamos cruzando os dados com as ofertas que estamos recebendo para que essas cidades sejam amadrinhadas.
Estamos trabalhando muito neste sentido e já temos estados, como Tocantins e Goiás, em que todas as cidades já encontraram os patrocinadores que irão possibilitar que o processo de vacinação seja feito com mais segurança e rapidez. Convido a todos a entrarem no site do movimento, o www.unidospelavacina.org.br para conhecer o que já foi feito e como se engajar neste projeto.
A partir dele é possível também mensurar o peso que terá a atuação da iniciativa privada para a saída da pandemia e para a recuperação econômica brasileira?
Sim, não só os empresários, mas a sociedade civil está cada vez mais consciente de seu papel de compromisso com a população para a solução de graves problemas que enfrentamos, inclusive na economia. Eu acredito que um dos legados pós-pandemia será a consciência de coletivo e de união que estamos tirando deste momento difícil.
A "política apartidária" de Luiza Trajano
A trajetória de Luiza Trajano com a expansão do Magazine Luiza, hoje uma das maiores redes varejistas do país, atraiu atenções na esfera política. Sondada para uma eventual candidatura em 2022, Luiza Trajano não tem mais respondido perguntas sobre o assédio de partidos e já negou em outras oportunidades ter interesse na política partidária.
Questionada anteriormente sobre a possibilidade de participação no cenário nacional, Luiza Trajano afirmou ser uma "política apartidária", para reforçar desinteresse em uma carreira eleitoral.
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