Numa reunião marcada pela aproximação do Mercosul com Cuba e Venezuela - contando inclusive com as presenças dos presidentes Fidel Castro e Hugo Chávez - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta sexta-feira que o comércio dentro do bloco seja feito em moeda local, e não em dólar.A idéia exposta abertamente por Lula, que sempre teve o apoio do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, agora conta com o aval do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já discute o tema com a Argentina.
- Esse foi tema do meu discurso de posse e só não foi aplicado antes porque o Guido não era ministro - afirmou o presidente.
Segundo Lula, o ideal é que o comércio seja realizado nas moedas dos países do bloco. Por exemplo, uma exportação em reais ou em pesos.
- É um absurdo que no Brasil tenhamos de fazer comércio em dólar, que é uma operação cambial a mais, bastante burocrática - disse.
Indagado sobre a proposta de empresários paulistas, para que a CPMF seja eliminada das exportações, Lula desconversou:
- As medidas cambiais devem estimular as exportações, mas não se pode perder o rumo do objetivo - disse o presidente, referindo-se ao pacote cambial para beneficiar exportadores que deve ser anunciado em alguns dias.
O BLOCO
Ao discursar na abertura da 30ª reunião dos Presidentes do Mercosul, Lula celebrou a entrada da Venezuela no bloco.
No último dia 4, a Venezuela ingressou no Mercosul, mas ainda não tem direito a voto.
- Na bandeira do Mercosul (que possui quatro estrelas) está faltando a estrela da Venezuela. Espero que logo tenhamos a estrela da Bolívia e depois de toda a América do Sul - disse.
O presidente brasileiro rejeitou a idéia de que o bloco esteja em crise e responsabilizou "o passado e os setores mais conservadores" pelos problemas que os países do cone sul enfrentam no processo de integração.
FIDEL
A 30ª reunião dos Presidentes do Mercosul está sendo "muito comentada" na imprensa internacional porque "as notícias eram de que este mercado encontrava-se em crise". A avaliação foi feita nesta sexta-feira pelo líder cubano, Fidel Castro, em discurso no encontro.
Na quinta-feira, o bloco assinou um acordo com Cuba, que prevê a expansão de acordos com aquele país.
Fidel disse concordar com Hugo Chávez, que, também em discurso, afirmou que o bloco econômico tem muitos "inimigos".
Fidel aproveitou a ocasião e convidou para o seu aniversário, no proximo dia 26, os presidentes dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além dos associados Bolívia, Chile e Peru).
- Evo Morales (presidente boliviano) prometeu que vai mandar um bolo de coca e nós (Cuba) podemos mandar o fumo - brincou.
Em seguida, ele fez questão de ressaltar que coca não é o mesmo que cocaína e que "ninguém apoiará a cocaína". Fidel também afirmou que o café "pode fazer mais danos que o chá de coca ou o álcool".
CHÁVEZ
O presidente venezuelano Hugo Chávez criticou a situação no Oriente Médio e abordou vários temas, como a defesa da criação o mais rápido possível da Comissão Social Estratégica do Mercosul, ao discursar, pela primeira vez, como quinto membro pleno do bloco.
- Estamos muito contentes porque, se aprovado, será criada uma Comissão Social Estratégica para que nossos ministros comecem a planejar (...) projetos complementares aos projetos centrais que fazem parte do bloco e de forma bilateral.
Segundo ele, essa comissão deve ser formada por intelectuais e pessoas experientes, e que o presidente cubano Fidel Castro pode ajudar nessa tarefa.
Uma das principais preocupações dessa comissão deverá ser como superar a questão das assimetrias.
Também agradeceu a seus colegas o apoio para a entrada da Venezuela como membro pleno do bloco, desejando que outros países tenham a mesma oportunidade.
O presidente venezuelano insistiu que o Mercosul deve superar seus "pecados capitais", como "as divergências na inserção ao bloco e a excessiva dependência do mercado financeiro", algo que, segundo ele, já foi superado por Brasil, Venezuela e Argentina.
MORALES
O Brasil quer a Bolívia como membro pleno do Mercosul, e não como país associado. Foi o que disse Lula, depois de se reunir com o presidente da Bolívia, Evo Morales. Lula deixou claro a Evo que não pretende interferir na negociação do preço do gás, que está sendo conduzida pela Petrobras, mas o convidou para uma visita oficial a Brasília, no próxImo dia 20 de setembro, para participar da assinatura de um protocolo de cooperação e desenvolvimento, que incluirá a construção de um pólo petroquímico na Bolívia.
- Temos muito o que discutir, desde o pólo petroquímico à febre aftosa - disse Lula.
- Também queremos a Bolívia no Mercosul como sócio pleno - acrescentou.
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