São Bernardo do Campo (SP) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um dos seus mais duros discursos com relação à postura que o Brasil passou a adotar nas suas relações comerciais externas. Falando diretamente sobre o enfrentamento do governo brasileiro na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), Lula ressaltou: "Pela primeira vez tivemos a coragem de não ceder às economias desenvolvidas, como Estados Unidos e União Européia".
No discurso proferido na cerimônia de comemoração dos 50 anos da Scania do Brasil, em São Bernardo do Campo (ABC paulista), Lula afirmou que seu governo fez questão de dizer, na Rodada Doha, que tinha acabado a subserviência. "Queríamos ser tratados em pé de igualdade", emendou o presidente, classificando de "absurda" a proposta dos Estados Unidos em querer aumentar os seus subsídios agrícolas. "Nos últimos três anos os EUA subsidiaram sua agricultura em US$ 15 bilhões, e somente no último ano foram US$ 11 bilhões. Além disso, eles queriam incluir uma cláusula no acordo para elevar esses subsídios para US$ 17 bilhões."
Lula disse que o Brasil pode fazer este enfrentamento porque vive um momento de crescimento estabilizado. "O mundo precisa aprender que o Brasil resolveu assumir a sua grandeza política e econômica."
Ainda sobre a nova postura brasileira nas negociações internacionais, Lula disse: "Respeito é bom e nós gostamos de dar e receber". Na sua avaliação, o Brasil precisa deixar de ser pequeno, de ser a esperança do mundo e o país do futuro. "Chega de ser um monte de adjetivos que nunca se concretizaram, agora vamos concretizar". O presidente afirmou também que o Brasil e outros países do G20 não irão reduzir a produção de produtos industrializados.
Dólar
No mesmo evento, Lula também falou sobre o mercado cambial e disse que a depreciação do dólar frente ao real é um problema dos EUA. "O real não está valorizado sobre o euro, por exemplo. O dólar está desvalorizado em relação a todas as moedas. Ninguém tem coragem de dizer porque [os EUA] são grandes, mas há um déficit fiscal", disse.
O presidente afirmou que o câmbio flutuante é preferência do empresariado e que o governo não pode determinar seu valor, mas que está fazendo o possível para evitar prejuízos a alguns setores.