Ao desembarcar nesta sexta-feira, acompanhado do presidente eleito do Equador, Rafael Correa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estará ciente de que chegará a um país a um passo de entrar em ebulição. Seu colega Evo Morales passa pela pior crise desde que assumiu o poder, no início deste ano. Políticos da oposição fazem greve de fome em diversas cidades, inclusive Cochabamba - reduto eleitoral de Morales que sedia a cúpula de chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) - e os conflitos entre governistas e oposicionistas têm sido cada vez mais freqüentes.
A fonte principal dos problemas de Morales é a chamada "media luna", formada pelos departamentos de Beni, Pando, Santa Cruz de La Sierra, Tarija e Pando, no Oeste do país. Governadores, prefeitos e sindicalistas são, de forma geral, filiados aos partidos de oposição Podemos, Unidad Nacional e Movimento Nacionalista Revolucionário. Inconformados com a forma como está sendo conduzida a Assembléia Constituinte, em que o Movimento Ao Socialismo (MAS) de Morales determinou que as votações sejam válidas se for obtida maioria absoluta (50% mais um). Partidos e parlamentares opositores exigem a fórmula de dois terços para a aprovação da Carta.
O fato é que Lula não pretende se envolver em questões internas. O primeiro compromisso do presidente brasileiro, assim que descer do avião, será um encontro bilateral com Morales, cuja pauta já estará recheada o suficiente de temas polêmicos nas relações Brasil-Bolívia: o processo de nacionalização das reservas bolivianas de petróleo e gás e a reforma agrária que está em curso.
A questão das terras é o item considerado até mais complicado por algumas fontes do governo brasileiro, pois diz respeito ao futuro dos brasileiros que ocupam terras na Bolívia. Há duas categorias: os fazendeiros que produzem metade da soja boliviana que é exportada e garante divisas à balança comercial boliviana; e os cerca de três mil cidadãos do Brasil que se estabeleceram em locais próximos à fronteira, que vivem da exploração das terras do país vizinho e estão em situação irregular.
Lula tem uma carta na manga, que é o tratado de migração. Até o fim deste mês, o governo brasileiro decidirá se vai ou não prorrogar o acordo que permite que 60 mil bolivianos continuem vivendo no Brasil, a maioria em São Paulo. São pessoas que também entraram no país irregularmente.
A Petrobras já conseguiu fechar um acordo com a petrolífera estatal boliviana Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB) na parte de exploração. No entanto, ninguém sabe como ficarão o preço do gás e o valor da indenização à qual a Petrobras teria direito por conta da transferência do controle acionário de duas refinarias da estatal brasileira à YPFB. Lula evitará entrar em detalhes técnicos, mas deve comentar com Morales o quadro atual.
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