O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem o corte de 1 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), para 12 75% ao ano, e disse, em conversa reservada, que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) está "à altura" da mudança no ambiente macroeconômico.
Nos últimos dias, Lula atuou fortemente para a queda dos juros e chegou até mesmo a chamar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na segunda-feira, quando avisou que um corte menor do que 0,75 ponto seria "inaceitável".
Lula estava reunido com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, quando soube da decisão do Copom. Sem demonstrar surpresa, abriu um largo sorriso. A poucos metros dali, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também teve a mesma reação. "Qual foi o placar?", perguntou ele a um de seus secretários.
Nos bastidores do Planalto e da Fazenda, porém, o diagnóstico é que o Banco Central demorou para reduzir a Selic, pois deveria ter iniciado esse processo ainda em dezembro. Para integrantes da equipe econômica, o atraso teve custo para a economia e os cofres do governo, que pagou mais caro para refinanciar a dívida pública. O comentário é que o BC ficou preocupado com a inflação e não viu que o desemprego já estava batendo à porta. Dados do Ministério do Trabalho mostram que, em dezembro, foram fechadas 654.946 vagas com carteira assinada, um recorde histórico no País.
"Estamos no caminho certo. Foi dado um passo importante e, junto com as medidas fiscais de redução de tributos, de estímulo a setores específicos e aumento do crédito, este corte ajudará a minimizar o impacto da crise financeira internacional no Brasil" afirmou Mantega.
O ministro admitiu, porém, que, mesmo com a queda de 1 ponto porcentual, "o Brasil ainda tem as taxas de juros mais altas do mundo".
Há tempos Lula já não conseguia esconder a contrariedade com os juros na estratosfera. Cobrado por sindicalistas em reunião realizada na segunda-feira, não esticou a polêmica, mas fez um gesto que não deixou dúvidas sobre o desconforto: puxou o colarinho para o lado, como se estivesse sufocado.
Para o presidente, se os juros tivessem começado a cair em dezembro, provavelmente a onda de demissões não estaria tão forte como está agora. O raciocínio é que uma atitude mais flexível do BC teria atuado sobre as expectativas dos empresários e amenizado o pessimismo que tomou conta do setor produtivo. Colaboraram Fabio Graner, Adriana Fernandes e João Domingos.