Diante de uma plateia de 120 empresários brasileiros e palestinos, em Belém (Cisjordânia), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou novamente os Estados Unidos por não terem cumprido a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) de cortar os subsídios aos seus produtores e exportadores de algodão. Lula afirmou que a resistência dos EUA levará o Brasil a adotar as retaliações, que foram autorizadas pela OMC. Mas também culpou Washington pelo fracasso da Rodada Doha e por defender uma liberalização comercial que apenas traria proveito aos EUA.
A decisão brasileira sobre a retaliação a produtos americanos deverá ser tomada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) no início de abril, caso não seja concluída a negociação de uma alternativa temporária à eliminação dos subsídios ao algodão. No final deste mês, será concluída a consulta pública sobre os segmentos que podem submetidos a sanções na área de propriedade intelectual. Mas essa decisão final ainda demandará estudos técnicos.
"Quando nós ganhamos na OMC, achamos que os EUA iam dar o exemplo de cumprimento, de obediência a uma decisão multilateral. Qual a nossa surpresa porque os EUA não acataram a decisão da OMC, impondo ao Brasil a necessidade de fazer alguma retaliação aos produtos americanos", afirmou o presidente.
Apesar de o Brasil ter obtido a autorização para aplicar um total de US$ 829 milhões em sanções contra bens e direitos de propriedade intelectual dos EUA, Lula alegou à plateia que os subsídios americanos ao algodão não afetaram o setor brasileiro, "que é competitivo". Ele alegou que o prejuízo dessa política de subvenções recai aos países pobres, sobretudo aos africanos. O Brasil, entretanto, iniciou a controvérsia sob o argumento dos danos financeiros acarretados os produtores nacionais, que compuseram a base de cálculo do valor das retaliações autorizadas.
Para Lula, os EUA pecaram na área comercial, sobretudo na fase em que mais defenderam a liberalização, nos anos 90. Segundo ele a aposta dos "países ricos" na Rodada Doha respondia a seus interesses em vender e não comprar. "Aquele discurso cantado em verso e prosa, que foi feito até dez anos atrás, não é tão verdadeiro", disse.
"O livre-comércio era muito defendido quando os países ricos queriam vender os seus produtos aos países pobres", assinalou Lula, para lembrar em seguida a taxação americana ao etanol brasileiro.
Palestina
O presidente disse aos empresários que vai levar adiante uma proposta de negociação de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Palestina. Também estimulou a plateia a investir no Plano Palestina Adiante, uma espécie de mini-PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que envolve a construção de infraestrutura básica nos territórios palestinos e um montante de US$ 5,5 milhões. "Temos muito a contribuir para criar novas fronteiras para os produtos palestinos", completou.