O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) endureceu o discurso e desafiou os economistas de que o país crescerá acima de 3% neste ano. A crítica ocorreu no mesmo dia em que o Banco Central elevou a taxa básica de juros para 14,25% e horas depois do mercado financeiro disparar a desaprovação à política econômica do governo.
Desde o começo do governo, Lula questiona as previsões do mercado financeiro sobre o crescimento do PIB, sempre dizendo que estão erradas. Em 2024 foi de 3,4%, e para este ano a previsão é de que fique em 1,99%.
“Os especialistas dizem que o Brasil não vai crescer muito em 2025 e eu quero aqui fazer um desafio aos teóricos. O Brasil vai crescer outra vez acima de 3%”, disse o presidente em um evento em Fortaleza nesta quarta (19).
Lula emendou afirmando que “esse país é o país que mais tem crescido no mundo, praticamente, só tem um ou dois países que crescem mais do que nós”.
Ao longo do discurso, Lula voltou a citar previsões de economistas sobre o crescimento do país, e que os resultados foram acima das expectativas iniciais. Essa é uma constante em seus discursos e joga água na necessidade apontada pelo Banco Central de que é preciso diminuir o ritmo da economia para segurar o avanço da inflação – feito com o aumento da taxa básica de juros.
“Eu não sou economista, mas eu tenho uma tese na economia. Minha tese é simples: se pouca gente tiver muito dinheiro, o Brasil vai continuar pobre. [...] Agora, o contrário, se todo mundo tiver um pouco, o Brasil vai ser muito melhor. O dinheiro tem que circular”, seguiu Lula no discurso.
Uma nova rodada da pesquisa Quaest com agentes do mercado financeiro apontou que a política econômica de Lula é avaliada negativamente por 88% deles, 4% positiva e 8% regular. Isso se reflete na sensação de que está indo na direção errada para 93% dos entrevistados, enquanto que apenas 7% veem na direção certa – eram 96% e 4% em dezembro, respectivamente.
O mercado financeiro também vê uma atuação cada vez mais negativa do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, dentro do governo, avaliado com 58% de negativo, 32% de regular e 10% de positivo.
Segundo a Quaest, isso ocorreu principalmente por conta da disparada dos preços dos alimentos, apontada pelo mercado financeiro como a principal responsável pela queda da popularidade de Lula (64%), além de equívocos na condução da política econômica (56%).
“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, disse o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) à noite para justificar o aumento da taxa básica de juros de 13,25% para 14,25.
Os diretores do Banco Central também sinalizaram uma nova alta de “menor magnitude” na próxima reunião, marcada para maio.
Foi a segunda reunião comandada pelo economista Gabriel Galípolo, presidente da autarquia indicado por Lula após dois anos de gestão de Roberto Campos Neto, que havia sido indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apontado pelo petista como culpado pelos juros altos.