Puerto Iguazú, Argentina (AE) Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner realizaram ontem declarações mútuas de afeto, reforçaram o compromisso da integração bilateral Brasil-Argentina, e criticaram os setores empresariais que foram "pessimistas" com o Mercosul nos últimos anos. Kirchner expressou seu desejo de que os dois países superem em breve as assimetrias econômicas e comerciais que causaram vários conflitos ao longo do último ano e meio. Segundo Kirchner, o Brasil e a Argentina crescerão juntos e levarão toda a região a um "salto qualitativo".
Reunidos na pequena e poeirenta cidade de Puerto Iguazú, Kirchner e Lula celebraram os 20 anos do encontro entre os ex-presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, no qual deram o passo inicial que em 1991 deu origem ao Mercosul. Kirchner e Lula assinaram 23 protocolos que englobam assuntos tão variados como intercâmbio tecnológico na área nuclear, aprofundamento da integração militar, cooperação na área de educação (especialmente nas escolas na fronteira) e integração das cadeias produtivas. A reunião marca uma guinada no comportamento duro que Kirchner havia tido com o Brasil desde meados do ano passado.
Antiinvasão
Não foi servido o assunto que semanas atrás prometia ser o prato forte do encontro a Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC). Diante de impasses para definir o formato da CAC (cujo objetivo é impedir eventuais "invasões" de produtos de um país-sócio do Mercosul em outro integrante do bloco), os dois presidentes concordaram em continuar as discussões nas próximas semanas.
No documento assinado por Kirchner e Lula determina-se o compromisso de realizar os "melhores esforços para concluir, antes do dia 31 de janeiro de 2006, um instrumento capaz de evitar o impacto dos desequilíbrios no comércio e assimetrias entre setores produtivos de ambos países e promover a integração da produção e a expansão equilibrada e dinâmica do comércio bilateral".
O mecanismo da CAC foi proposto há meses pelo governo do presidente Néstor Kirchner, mas até agora as discussões não conseguiram o consenso necessário. Entre as divergências nos dois lados da fronteira, os argentinos pretendiam que a CAC fosse um mecanismo automático, enquanto que os brasileiros preferem que as medidas sejam aplicadas de comum acordo.