Silêncio e irritação marcaram as declarações oficiais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. Lula negou que vá discutir o fechamento do negócio com o governador paulista José Serra (PSDB) durante visita que fará a São Paulo. O presidente não sinalizou quando as negociações poderão ser concluídas.
Mantega, por sua vez, se irritou ao ser perguntado sobre a negociação, durante entrevista que concedeu para anunciar os resultados da reunião do G-20. "Esse assunto, realmente, não fez parte da nossa reunião do G-20. A Nossa Caixa não entrou na discussão", ironizou o ministro, demonstrando insatisfação com a pergunta - mesmo diante da ponderação de que os poderes dados ao Banco do Brasil, pela MP 443, em tramitação no Congresso, fazem parte do pacote de medidas que vem sendo anunciadas pelo governo para combater a crise no País. O assessor de Mantega, Ricardo de Moraes, mais irritado ainda, ordenou o ministro que não respondesse à pergunta.
"No Brasil, nós tomamos várias medidas com a maior agilidade possível. Se você perguntar ao setor financeiro e ao setor empresarial, todos que me encontram dizem que estamos de parabéns pelas medidas tomadas e que é para continuarmos tomando", comentou Mantega, desconversando sobre a inauguração da aplicação da MP 443 para o acerto final de compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil.
"A cada semana há medidas novas que estamos tomando e esta lei (MP 443, ainda em apreciação pelo Congresso) vai para o Senado e oportunamente será usada", completou o ministro, sinalizando que ela poderá ser aplicada exatamente nesta compra. Ele não falou, no entanto, sobre os possíveis valores do negócio, nem sobre o prazo para que seja concluído.
Desde que o Banco do Brasil perdeu a liderança entre os maiores bancos brasileiros, por causa da união entre o Itaú e o Unibanco a instituição prepara uma nova rodada de compras. Há uma guerra de números para definir quanto custará a compra da Nossa Caixa, que varia de R$ 4,5 bilhões a R$ 9 bilhões. O maior atrativo para o BB são os depósitos judiciais que a Nossa Caixa tem, avaliados em R$ 15 bilhões, segundo o Banco Central. Além disso, a Nossa Caixa tem agências em todos os municípios de São Paulo, o que faria o BB aumentar sua capilaridade no Estado.
Além da Nossa Caixa, o Banco do Brasil está negociando com outras instituições a metade do capital do banco Votorantim e o modesto Banco do Estado do Piauí (BEP). Se as aquisições forem confirmadas, o BB não vai recuperar a liderança perdida para Itaú-Unibanco, mas vai se aproximar do novo líder. Por isso mesmo, o banco não vai se dar por satisfeito e já está de olho em outros bancos estaduais, como o Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) e bancos privados pequenos e médios.