Presidente diz que precisou passar dois anos com indicado de Bolsonaro que não vê necessidades do país.| Foto: reprodução/Secom
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou, na manhã desta segunda (1º), que tomou posse no começo do ano passado sem poder indicar o presidente do Banco Central, e que teve que conviver com o indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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A reclamação é mais uma de uma série que vem fazendo e que foi reforçada nas últimas semanas contra o economista Roberto Campos Neto, que preside a autarquia e que Lula nomina como o responsável por decidir a taxa básica de juros. A Selic, que está em 10,5%, estava em um ciclo de cortes desde agosto do ano passado, mas foi interrompido recentemente por unanimidade entre os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom), entre eles os indicados por Lula.

“Como é que pode o presidente da República ganhar as eleições e depois não poder indicar o presidente do Banco Central? Eu estou há dois anos com o presidente do Banco Central do Bolsonaro. Não é correto isso”, disse Lula em entrevista à Rádio Princesa, de Feira de Santana (BA), onde faz anúncios de investimentos rodoviários nesta segunda (1º).

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Lula ainda reclamou que “quem quer o Banco Central autônomo é o mercado, que faz parte do Copom, que determina meta de inflação, política de juro”.

Lula reclama e mexe com o mercado

As sucessivas falas de Lula contra Campos Neto e a necessidade de fazer cortes nos gastos do governo vêm mexendo com o mercado financeiro, e fizeram o dólar disparar na última semana.

Lula, assim como em declarações anteriores, voltou a ressaltar que tratava o Banco Central com independência durante seus dois primeiros governos, e que o ex-presidente Henrique Meirelles tinha autonomia. Mas, que, tiraria se fosse preciso, assim como fez Fernando Henrique Cardoso (PSDB) anteriormente com outros três presidentes da autarquia.

Ele afirmou, ainda, que agora tem que “ir com muita paciência” para esperar a hora de indicar outro candidato e ver se “consegue com a maior autonomia possível que a decência política das pessoas ter um presidente do Banco Central que olhe o país do jeito que ele é e não do jeito que o sistema financeiro fala”.

“Agora, você não pode ter um Banco Central que não esteja combinando com os desejos da nação. Não precisamos ter política de juro alto neste momento, a taxa Selic de 10,5% está exagerada, a inflação está controlada, porque responsabilidade é uma coisa que a gente preza muito”, pontuou o presidente.

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O petista ressaltou que tem uma “obsessão” por manter a inflação baixa, que é a alegação do Banco Central para manter os juros em um patamar mais alto do que o desejado pelo governo. “A inflação tem que ser baixa, o governo precisa gastar corretamente, o governo tem que fazer coisas para que sobre dinheiro para investimentos, porque o Estado brasileiro tem pouca capacidade para fazer investimentos”, ressaltou.

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Corte de gastos

O presidente ainda ressaltou que o governo está empenhado em cortar os gastos desnecessários e irregulares, mas que não mexerá nos benefícios atrelados ao salário mínimo, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e aposentadorias.

A desvinculação dos benefícios ao salário mínimo estava no radar da equipe econômica dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), mas foi desautorizada por Lula em diversas declarações.

“Estamos fazendo um estudo, um pente-fino, pra saber se tem alguma coisa errada, se tem alguém recebendo que não deveria receber. [...] Eu tenho muito cuidado de mexer nessas coisas de quem ganha pouco, porque tudo arrebenta do lado dele. Quando as coisas estão maravilhosamente bem, quem ganha muito ganha mais, quem é rico fica mais rico ainda, agora quando a coisa dá um certo desandar, a corda arrebenta para o lado mais pobre”, disse ressaltando que não haverá mudança na política do salário mínimo.

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