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Ex-presidente do Banco Central (BC), o economista Armínio Fraga vê com pessimismo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem declarou apoio no segundo turno das eleições de 2022.
Para ele, entre uma série de erros que a atual gestão comete, o desequilíbrio fiscal e o afrouxamento da política monetária podem resultar em “um grande fiasco político”, segundo comentou em entrevista à “Folha de S.Paulo” publicada neste sábado (1º).
“Estamos aí de novo a mexer na governança das estatais, vamos mexer na governança de empresas privadas. Vamos tentar ressuscitar estaleiros, a obsessão com Abreu e Lima. A ideia de que responsabilidade fiscal faz mal à população. É o oposto. Quem se ferra é sempre o pobre nesse jogo”, disse, ao ser questionado sobre equívocos cometidos pelo governo “São alguns, só para esquentar a conversa.”
Fraga avalia que o controle das contas públicas, para o médio prazo, depende de propostas bastante radicais e críveis. “Claramente a Previdência vai ter que passar por outra reforma. O assunto geral da folha de pagamentos vai além do governo federal, é até mais dos governos estaduais e municipais”, afirmou. “A vinculação geral [dos pisos de educação e saúde] é outra questão.”
O quadro atual, avalia, resultará em um aumento do déficit primário, o que deve acelerar a dívida pública, que, por sua vez, colocará mais pressão sobre os juros, levando a uma bola de neve que pode levar a uma perda de credibilidade da moeda “com consequências complicadas”.
Para o ex-presidente do BC, o arcabouço fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, buscou apontar em uma direção correta. “Mas o arcabouço está fazendo água”, lamentou.
A situação pode piorar a depender do nome que será indicado pelo PT para o comando do BC ao fim do ano, quando Roberto Campos Neto deixa o cargo. “Se quem entrar se meter a besta, a inflação começar a subir e o mercado perder a confiança, vai ser um grande fiasco político, inclusive, e rápido”, disse o economista.
“Esse discurso assim mais frouxo na política monetária só atrapalha, porque fica a desconfiança, e o custo aumenta. É uma tristeza ver como a coisa está sendo conduzida, as pressões políticas explícitas, os ataques ao BC, a ideia de que responsabilidade fiscal é uma grande maldade”, disse.
Na entrevista, ele disse ainda considerar prematura uma discussão sobre a sucessão presidencial de 2026, mas opinou que um fracasso do governo Lula poderia facilitar o surgimento de um nome alternativo aos campos do atual presidente e do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL).
“Certamente adoraria ver uma terceira via, mas não sei de onde pode sair. Com Bolsonaro impedido, talvez saia do centrão. Sobretudo com as dificuldades que o atual governo pode enfrentar. Abrir-se-ia um espaço.”