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O presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira: petista anunciou retomada de fábrica de fertilizantes e investimentos na Repar.
O presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira: petista anunciou retomada de fábrica de fertilizantes e investimentos na Repar.| Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, nesta quinta-feira (15) para uma cerimônia alusiva à reativação da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), unidade da Petrobras que está inoperante há quatro anos. Lula também anunciou investimentos na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), ao lado da Ansa.

O evento marca uma mudança drástica na estratégia da companhia, que há alguns anos deu início a um processo de redução de seu portifólio, de modo a concentrar sua atuação na exploração e produção de petróleo e gás natural. 

Depois de se desfazer das participações que mantinha, entre outras, na BR Distribuidora e na Liquigaz, em 2019 a estatal firmou um acordo para vender oito de suas 12 refinarias. No ano seguinte, a Ansa foi colocada em “hibernação”, etapa que antecede um eventual fechamento.

Ao todo, foram anunciados investimentos da ordem de R$ 870 milhões para a retomada da fábrica de fertilizantes, além de R$ 3,2 bilhões para a expansão da Repar.

Ao destacar os números nesta quinta-feira, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, no cargo há cerca de três meses, classificou o evento como “o início do cumprimento da missão que o presidente Lula me endereçou”. 

Em seu discurso, o chefe do Executivo defendeu a atuação mais ampla da estatal, inclusive na indústria naval. “A Petrobras não é uma indústria de petróleo, é uma indústria de desenvolvimento nesse país, de inovação nesse país”, disse.

Ele aproveitou para fazer críticas ao modelo de gestão adotado pela empresa durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022. “A gente teve um período em que o Brasil não era governado. Era como se fosse uma nau à deriva”, comparou. 

“Não foi só essa empresa que foi fechada, não. Nós estávamos com 15% para terminar uma empresa em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, simplesmente eles pararam. Simplesmente eles pararam a Refinaria Abreu e Lima durante tanto tempo. O complexo petroquímico que a gente ia fazer em Itaboraí, no Rio de Janeiro, pararam tudo. Pararam a tentativa de fazer a refinaria no Ceará. Pararam a tentativa de fazer a refinaria no Maranhão. Por quê? Porque eles não pensam no Brasil”, atacou.

Parte dos empreendimentos citados por Lula foi suspensa ou cancelada durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), que o sucedeu na Presidência da República. A construção da fábrica de Três Lagoas (MS) foi interrompida no fim de 2014. Os projetos das refinarias Premium I e II foram cancelados no início de 2015, mesmo ano em que a Petrobras interrompeu a construção do Comperj, em Itaboraí, depois rebatizado de GasLub. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está em operação e receberá novos investimentos, anunciados por Lula no começo deste ano. Todos os empreendimentos causaram perdas bilionárias à Petrobras.

Embora alguns petistas atribuam as paralisações e cancelamentos às dificuldades de financiamento provocadas pelas revelações da Operação Lava Jato, desencadeada em março de 2014, a própria empresa e o governo citaram na época razões econômicas para a desistência.

Lula improvisa discurso e se emociona ao falar de prisão

O presidente, que preferiu improvisar seu discurso nesta quinta-feira, deixando de lado um texto previamente preparado, ainda se emocionou ao falar sobre o período que esteve preso em Curitiba, na sede da Polícia Federal.

Em uma cerimônia que contou com a presença de representantes de diversos sindicados e movimentos sociais, ele agradeceu a vigília feita por apoiadores durante os 580 dias que ficou preso na capital paranaense. 

Relatou ainda ter “ficado deprimido” e ter chorado em sua cela ao saber que funcionários da Petrobras eram hostilizados e chamados de “ladrão” em razão das denúncias de corrupção apuradas pela força-tarefa da Lava Jato em contratos da empresa.

Fábrica de fertilizantes deve retomar atividades só em 2025

Prestes a voltar às operações, a Ansa tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, o que corresponde a 8% do mercado do produto; 475 mil toneladas/ano de amônia; e 450 mil m³/ano do chamado Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32). 

No início de julho, 215 ex-funcionários da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen, como era conhecida a Ansa), principalmente técnicos especializados no funcionamento da planta industrial, foram recontratados e voltaram a seus postos de trabalho. A intenção é que a unidade volte à operação no segundo semestre de 2025.

Segundo o governo, serão realizados imediatamente procedimentos necessários à retomada, incluindo a publicação de editais para contratação de serviços de manutenção e de materiais críticos. O procedimento deve contar com exigência mínima de 85% de conteúdo local.

Após finalizada essa etapa, será realizada a mobilização dos contratos de serviços e manutenção dos equipamentos para o início das atividades. A estratégia, segundo o governo, é “reconfigurar e consolidar operações viáveis em ativos que já pertencem à companhia”. 

Ainda de acordo com o governo, para a intervenção para o retorno operacional, serão contratados cerca de 2 mil trabalhadores, entre empregados da Fafen e das empresas contratadas. Após a retomada dos trabalhos, devem ser mantidos 700 empregos diretos. 

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que a reativação da unidade ajudará a reduzir a dependência do Brasil de fertilizantes importados.  

A decisão de colocar em hibernação a Ansa em 2020, no entanto, foi tomada em razão dos resultados negativos recorrentes que pesavam no balanço da Petrobras. 

A própria empresa explicou, na época, que a matéria-prima usada pela fábrica (resíduo asfáltico) era mais cara do que os produtos finais. “A Ansa é a única fábrica de fertilizantes do país que opera com esse tipo de matéria-prima”, declarou a estatal em um comunicado, na ocasião.

A decisão da Petrobras foi de que a planta permaneceria “em condições que garantam total segurança operacional e ambiental, além da integridade dos equipamentos”. Nisso, quase mil postos de trabalho, entre empregos diretos e indiretos, foram fechados. 

Antes de optar pelo fechamento da fábrica, a empresa tentou vender a fábrica a uma companhia russa que demonstrou interesse na aquisição da planta, mas o negócio acabou não sendo concretizado. 

Em um relatório de revisão de informações contábeis intermediárias elaborado pela KPMG, o diagnóstico era de que a fábrica vinha “apresentando perdas recorrentes em suas operações, devido a paradas não programadas, gerando deficiência de geração de caixa, a qual vem sendo suprida pelo suporte financeiro dos seus acionistas”. 

Já um relatório do BTG Pactual mostrou que de 2015 a 2021 a Ansa acumulou prejuízo líquido de US$ 320 milhões.

Unidade já foi privatizada, reestatizada e colocada em “hibernação” após prejuízos recorrentes 

A Ansa foi criada em 1982, durante o regime militar. Conhecida na época como Ultrafértil, fazia parte de uma divisão de fertilizantes da Petrobras e que contava ainda com unidades na Bahia e Sergipe.

Em 1990, durante o governo de Fernando Collor de Mello, a empresa entrou no Programa Nacional de Desestatização (PND). Três anos mais tarde, já na gestão de Itamar Franco, acabou vendida para a multinacional Bunge. Em 2010, a planta voltou a ser negociada e foi comprada pela Vale Fertilizantes. 

Em 2013, no governo de Dilma Rousseff (PT), em uma operação de troca de ativos entre a Petrobras e a Vale, a Fafen, também chamada de Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), foi reincorporada à estatal petrolífera. 

Na época, a então presidente da Petrobras, Graça Foster, afirmou que a fábrica “nunca deveria ter saído” das mãos da empresa, “porque tem toda uma sinergia com o nosso sistema”. 

Um total de US$ 234 milhões foram desembolsados pela Petrobras para adquirir a unidade, e o plano era investir US$ 144 milhões até 2017 – o equivalente, em valores da época, a R$ 300 milhões, divididos em quatro anos. 

Com o passar do tempo, no entanto, a fábrica só deu prejuízos à Petrobras. Após tentativas infrutíferas de vender a subsidiária, em 2020, já na gestão de Jair Bolsonaro (PL), a estatal decidiu colocar a Fafen em “hibernação”.

Lula anuncia R$ 3,2 bilhões em investimentos na Repar 

No mesmo evento, Lula anunciou investimentos da ordem de R$ 3,2 bilhões da Petrobras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar). A unidade também esteve no plano de desestatizações da companhia, mas acabou retirada após o início do governo do petista, em uma mudança de estratégia da petrolífera. 

Entre as medidas que serão contempladas com o valor, está a implantação de uma nova unidade de hidrotratamento de médios (HDT), voltado a aumentar a produção de diesel S10, além de projetos de melhoria de eficiência energética. 

A unidade atende cerca de 15% da produção nacional de derivados de petróleo e 85% do abastecimento vai para os estados do Paraná, Santa Catarina, sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. 

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