O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta terça-feira (4) que as empresas brasileiras precisam se apoiar no mercado interno e diversificar exportações para superar a crise financeira internacional.
"Vamos trabalhar com empresários brasileiros para que eles não parem suas obras, porque essa crise pode trazer percalços momentâneos, como a recessão na Europa e nos Estados Unidos. Alguns setores exportadores perderão um pouco e terão de procurar novos mercados. Mas temos potencial de mercado interno que poucos países têm, temos uma sociedade ávida para comprar. Temos milhões que querem carro, geladeira, televisão, casa. Coisa que o mundo desenvolvido conquistou e não conquistamos."
Segundo ele, a crise precisa do "remédio correto". "Temos que olhar como médico responsável, saber que a doença tem gravidade, mas se a gente der o remédio correto, não precisamos ficar fazendo apologia da morte, torcendo para que crise chegue ao Brasil."
O presidente participou da inauguração da segunda casa de força da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, na cidade de Tucuruí, Pará. A primeira caixa foi inaugurada em 1992, segundo a Presidência da República.
De acordo com o governo federal, a Hidrelétrica de Tucuruí é considerada a maior usina genuinamente brasileira e fornece energia a 40 milhões de pessoas.
Lula estava acompanhado da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), e dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Carlos Lupi (Trabalho) e Edison Lobão (Minas e Energia).
Papel do Estado
Ao discursar, voltou a destacar a importância do Estado na crise. "Durante trinta anos os que foram vítimas da crise, não os trabalhadores que perderam casas nos Estados Unidos, mas os governantes, venderam idéia de que não precisávamos de governo, de Estado. (...) Quando viram que o mercado quebrou por irresponsabilidade, porque fizeram do sistema financeiro um cassino, querendo ganhar dinheiro sem construir uma parede, um tijolo, ganhando dinheiro trocando papel, quando perdem é ao Estado que todos pedem socorro."
Lula disse que o Brasil vai reagir à crise mantendo os investimentos em obras de infra-estrutura. "O governo federal não vai parar uma obra do PAC, todas elas serão mantidas. (...) Tem gente torcendo para a crise chegar e vamos reagir mantendo as obras, incentivando a produção, fazendo com que o crédito chegue. (...) Por isso, peço que ningém pare os investimentos. Na hora que o vendaval passar, que estiver mais preparado vai mudar o jogo."
Ele citou ainda que alguns setores fazem "apologia da crise". "Na verdade, eu só sobrevivi porque enfrentei crises. É mais uma crise na minha vida, que não é nem minha, é dos outros. Mas cabe a mim trabalhar não com otimismo exagerado, mas tampouco para prever a desgraça antecipada. E essa inauguração [da expansão da usina] é exemplo de que enquanto alguns fazem apologia da crise, estarei inaugurando obras. Porque contra a recessão só tem uma solução, mais produção."
Críticas à imprensa
O presidente voltou a criticar a atuação da imprensa. Ele citou que em sua primeira visita à Usina Hidrelétrica de Tucuruí alguém lhe deu uma bala e ele deixou o papel no chão ao lado da cadeira. No dia seguinte, segundo ele, a notícia não era da inauguração de uma nova turbina, mas sim o papel que ele tinha jogado no chão.
"Não teria importância em lugar nenhum do mundo, mas no Brasil o preconceito estava demonstrado naquele papel de bala. Porque se quisessem mostrar uma coisa dessas, era só mostrar o que muitos governantes faziam muito mais sujo que um papel de bala e que não era mostrado em nenhum momento", reclamou.
Para ele, "a nossa cabeça está condicionada a achar que é obrigação fazer o que é bom, e o que é ruim tem que mostrar."
Dilma
A ministra Dilma, que discursou antes do presidente Lula, afirmou que o governo brasileiro "tem condições" de auxiliar as empresas para que não sejam afetadas pela crise.
"Que há crise e que temos de enfrentar, sem dúvida nenhuma todo o mundo tem [de enfrentar]. O mundo inteiro enfrenta falta de crédito. O que temos de diferente é que o governo tem condições de auxiliar o setor privado e permitir que os investimentos sejam mantidos", disse.
Dilma voltou a dizer que o país "não quebrou" em razão da crise diferentemente do que aconteceu em outras turbulências econômicas antes do governo Lula. "O Brasil enfrentou algumas crises internacionais, como da Rússia, do México e da Argentina, e em todos os momentos o país entrava em crise. Uma das características básicas era de que quanto tivesse crise dessas, o país quebrava e isso significava que o orçamento do governo passasse a ser comprometido. (...) A diferença é que, ao contrário daquela época, o governo e suas empresas não quebraram e estão em situação robusta."