Em sete anos de governo, Roberto Requião comprou brigas importantes com vários setores da economia da guerra declarada às concessionárias de rodovias à proibição dos transgênicos, do embargo às licenças ambientais para construção de pequenas centrais hidrelétricas à batalha com os sócios privados da Sanepar. Avesso ao capital, principalmente de fora do estado, Requião ficou famoso por não ter uma relação boa com o setor empresarial. Com a sua saída, porém, o atual governador e ex-vice, Orlando Pessuti, vem adotando uma política bem mais liberal e voltada para o mercado. Em pouco menos de cinco meses no comando do estado, Pessuti concedeu incentivos fiscais, abriu diálogo com concessionárias de rodovias sobre o pedágio, autorizou a Copel a retirar a política de descontos aos consumidores e reativou o mercado de pequenas centrais hidrelétricas no estado.
A projeção de empresários e analistas é que o fim da era Requião abra espaço para um novo ambiente de negócios. "Trata-se de uma mudança grande. O modelo de Requião era estatizante e o de Pessuti é mais voltado para o mercado", analisa Christian Majczak, da consultoria GO4!. De acordo com ele, por se tratar de um governo de transição, o setor produtivo ainda mostra cautela. "Mas há, de maneira geral, uma expectativa de que haja uma disposição maior para se fazer negócios no Paraná nos próximos anos. Mas esse é um trabalho lento, que deve consumir pelo menos um ano do próximo governo", diz Majczak. O setor empresarial aguarda que os candidatos ao governo apresentem melhor seus planos para a economia do Paraná nos próximos anos, principalmente em questões como estímulo aos investimentos e infraestrutura. "Ninguém vai arriscar nada agora. Só depois das eleições", afirma Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do curso de Economia da FAE. Mas é praticamente consenso que ambos os candidatos mais bem colocados nas pesquisas Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) dificilmente repetirão o radicalismo que marcou a gestão de Requião.
Segundo Lourenço, a saída de Requião tornou mais leve o ambiente institucional, permitindo ao setor empresarial discutir projetos e propostas com o governo, algo que não ocorria nos últimos anos. "Hoje são outras as relações da Federação da Agricultura com o governo do estado. O atual governador, porém, terá um prazo curto para resolver problemas na área de logística e a infraestrutura agropecuária do estado, onde não houve investimentos nos últimos anos", concorda Ágide Meneguette, presidente da entidade. Procurado, o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, não se pronunciou.
Perdas
O chamado "risco Requião", acredita Gilmar Mendes Lourenço, contribuiu inclusive para afugentar investimentos para o estado nos últimos anos. O Paraná perdeu investimentos importantes, como os da Toyota, da fabricante de pneus Yokohama e da indústria de vidros Guardian. Arredio, Requião não costumava dialogar muito bem com as multinacionais. Comprou brigas com a Monsanto sobre os transgênicos, com as duas fabricantes de papel imprensa do estado Norske Skog e Stora Enso e travou uma guerra judicial com o consórcio Dominó, sócio privado da Sanepar, pelo controle da gestão da companhia de saneamento. O Porto de Paranaguá foi outro ponto sensível. A baixa eficiência e a falta de investimentos, incluindo a dragagem do canal, fizeram o terminal acumular filas de caminhões na rodovia, perder cargas para outros portos e elevar os custos das empresas.
Foi também nos anos Requião que o Paraná perdeu espaço na economia brasileira. Sucessivas quebras de safras, ausência de grandes investimentos industriais e o avanço dos estados do Norte e do Nordeste contribuíram para reduzir a participação dos paranaenses no total de riquezas geradas no país. O estado, que em 2003 representava 6,4% do total do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, fechou 2009 com uma participação de 6,1%, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Social (Ipardes).
Interesses
A análise recorrente é que o governo anterior, embora tenha avançado ao reduzir a carga tributária para pequenas e microempresas e para consumo, "fechou a porta aos grandes investimentos". Também se critica a baixa efetividade de Requião na defesa dos interesses do estado junto ao governo federal. Um exemplo, cita Lourenço, é o investimento da Petrobras em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. "A expectativa era de que o projeto de ampliação pudesse criar condições de surgimento de um polo petroquímico no estado, como na Bahia. Mas não houve uma mobilização nesse sentido por parte do governo", afirma. A falta de projetos também contribuiu para que o estado tivesse uma participação pequena nos repasses do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Para o professor Marcelo Farid Pereira, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), os governos têm papel fundamental na atração de investimentos proporcionando segurança institucional e previsibilidade, citando, como exemplos negativos, Venezuela, Bolívia e, em certa medida, a China. O caso da Venezuela é emblemático. "É um país rico em petróleo que tinha tudo para ter melhores condições econômicas e de desenvolvimento, mas não consegue crescer e paga o preço pela elevada instabilidade do governo", diz.