Alívio
Com créditos, Norske Skog estuda retomar projetos
Depois de funcionar sob ameaça de fechamento nos últimos anos, a Norske Skog, de Jaguariaíva, no Norte Pioneiro, já vislumbra tempos melhores a partir da permissão para compensar os créditos de ICMS acumulados ao longo da cadeia de produção. Estuda, inclusive, a possibilidade de retomar o projeto de ampliação que foi abortado em 2008. Na época, depois de importar uma máquina e executar obras civis, a empresa chegou à conclusão de que o projeto de aumentar a produção não era viável. Única fabricante de papel imprensa do país, a Norske deve produzir esse ano 175 mil toneladas.
O objetivo agora é criar uma joint venture com outro grupo para aproveitar as instalações que não estão sendo utilizadas. De acordo com Alex Pomilio, diretor de Relações Externas, Novos Negócios e Energia da Norske Skog, a empresa está em conversas iniciais com cinco empresas. Pomilio não revela quais produtos podem ser produzidos, mas sabe-se que papel imprensa e papel cartão estão descartados. "A mesma máquina que faz papel jornal pode fazer outros produtos. O importante é que a compensação dos créditos abre espaço para que possamos viabilizar a fábrica", diz.
Segundo o diretor, a empresa passou tempos difíceis com a distorção tributária. "Até 2002, o governo estadual permitia a compensação, mas com o Requião esse mecanismo foi interrompido", diz. Como o papel imprensa é imune na ponta, o ICMS acumulado ao longo da cadeia na compra de insumos, como energia elétrica, por exemplo, criava um crédito que não podia ser compensado. A Norske tem R$ 90 milhões acumulados. "Isso se transformava em custo para a empresa. Em 2003 éramos uma das mais competitivas operações da Norske no mundo. A política tributária arruinou nossos resultados", afirma.
Segundo Pomilio, a compensação é vital para fazer avançar a joint venture. "Somente assim os projetos são viáveis financeiramente", acrescenta. A empresa gera 315 empregos diretos na fábrica, mas o seu efeito sobre a região é maior. Estima-se que na cadeia de produção das papeleiras, que inclui ainda a Stora Enso que faz papel para revista , trabalhem indiretamente 2,2 mil pessoas.
Para o diretor da Norske, o ambiente institucional nos próximos anos terá de melhorar, "para que não fique inviável investir no Paraná". Apesar do decreto que permite a compensação ter sido assinado em junho, a Norske ainda não conseguiu receber os créditos. "Estamos acertando detalhes com o governo para saber como isso será possível. Um dos pontos é que um montante como esse não poderá ser compensado de uma única vez", afirma.
Em sete anos de governo, Roberto Requião comprou brigas importantes com vários setores da economia da guerra declarada às concessionárias de rodovias à proibição dos transgênicos, do embargo às licenças ambientais para construção de pequenas centrais hidrelétricas à batalha com os sócios privados da Sanepar. Avesso ao capital, principalmente de fora do estado, Requião ficou famoso por não ter uma relação boa com o setor empresarial. Com a sua saída, porém, o atual governador e ex-vice, Orlando Pessuti, vem adotando uma política bem mais liberal e voltada para o mercado. Em pouco menos de cinco meses no comando do estado, Pessuti concedeu incentivos fiscais, abriu diálogo com concessionárias de rodovias sobre o pedágio, autorizou a Copel a retirar a política de descontos aos consumidores e reativou o mercado de pequenas centrais hidrelétricas no estado.
A projeção de empresários e analistas é que o fim da era Requião abra espaço para um novo ambiente de negócios. "Trata-se de uma mudança grande. O modelo de Requião era estatizante e o de Pessuti é mais voltado para o mercado", analisa Christian Majczak, da consultoria GO4!. De acordo com ele, por se tratar de um governo de transição, o setor produtivo ainda mostra cautela. "Mas há, de maneira geral, uma expectativa de que haja uma disposição maior para se fazer negócios no Paraná nos próximos anos. Mas esse é um trabalho lento, que deve consumir pelo menos um ano do próximo governo", diz Majczak. O setor empresarial aguarda que os candidatos ao governo apresentem melhor seus planos para a economia do Paraná nos próximos anos, principalmente em questões como estímulo aos investimentos e infraestrutura. "Ninguém vai arriscar nada agora. Só depois das eleições", afirma Gilmar Mendes Lourenço, coordenador do curso de Economia da FAE. Mas é praticamente consenso que ambos os candidatos mais bem colocados nas pesquisas Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) dificilmente repetirão o radicalismo que marcou a gestão de Requião.
Segundo Lourenço, a saída de Requião tornou mais leve o ambiente institucional, permitindo ao setor empresarial discutir projetos e propostas com o governo, algo que não ocorria nos últimos anos. "Hoje são outras as relações da Federação da Agricultura com o governo do estado. O atual governador, porém, terá um prazo curto para resolver problemas na área de logística e a infraestrutura agropecuária do estado, onde não houve investimentos nos últimos anos", concorda Ágide Meneguette, presidente da entidade. Procurado, o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, não se pronunciou.
Perdas
O chamado "risco Requião", acredita Gilmar Mendes Lourenço, contribuiu inclusive para afugentar investimentos para o estado nos últimos anos. O Paraná perdeu investimentos importantes, como os da Toyota, da fabricante de pneus Yokohama e da indústria de vidros Guardian. Arredio, Requião não costumava dialogar muito bem com as multinacionais. Comprou brigas com a Monsanto sobre os transgênicos, com as duas fabricantes de papel imprensa do estado Norske Skog e Stora Enso e travou uma guerra judicial com o consórcio Dominó, sócio privado da Sanepar, pelo controle da gestão da companhia de saneamento. O Porto de Paranaguá foi outro ponto sensível. A baixa eficiência e a falta de investimentos, incluindo a dragagem do canal, fizeram o terminal acumular filas de caminhões na rodovia, perder cargas para outros portos e elevar os custos das empresas.
Foi também nos anos Requião que o Paraná perdeu espaço na economia brasileira. Sucessivas quebras de safras, ausência de grandes investimentos industriais e o avanço dos estados do Norte e do Nordeste contribuíram para reduzir a participação dos paranaenses no total de riquezas geradas no país. O estado, que em 2003 representava 6,4% do total do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, fechou 2009 com uma participação de 6,1%, segundo dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Social (Ipardes).
Interesses
A análise recorrente é que o governo anterior, embora tenha avançado ao reduzir a carga tributária para pequenas e microempresas e para consumo, "fechou a porta aos grandes investimentos". Também se critica a baixa efetividade de Requião na defesa dos interesses do estado junto ao governo federal. Um exemplo, cita Lourenço, é o investimento da Petrobras em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. "A expectativa era de que o projeto de ampliação pudesse criar condições de surgimento de um polo petroquímico no estado, como na Bahia. Mas não houve uma mobilização nesse sentido por parte do governo", afirma. A falta de projetos também contribuiu para que o estado tivesse uma participação pequena nos repasses do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Para o professor Marcelo Farid Pereira, do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), os governos têm papel fundamental na atração de investimentos proporcionando segurança institucional e previsibilidade, citando, como exemplos negativos, Venezuela, Bolívia e, em certa medida, a China. O caso da Venezuela é emblemático. "É um país rico em petróleo que tinha tudo para ter melhores condições econômicas e de desenvolvimento, mas não consegue crescer e paga o preço pela elevada instabilidade do governo", diz.
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