Recém-chegado ao cargo de presidente da Argentina, Mauricio Macri prepara um forte aceno aos mercados internacionais.
Após 12 anos de ausência, sob a gestão kirchnerista, a Argentina enviará seu presidente ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, no fim deste mês. O objetivo é dar um sinal, ao exterior, de que os tempos mudaram no país e abrir as portas para o investimento externo.
A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, não deve comparecer ao encontro.
Durante a campanha, Macri disse que o país precisa de US$ 20 bilhões por ano para financiar obras de infraestrutura e seu ambicioso plano de desenvolvimento do norte do país.
Mas as empresas e os bancos argentinos anseiam por recursos para ampliar os investimentos e o crédito, hoje em um nível baixíssimo, ao redor de 14% do PIB.
Nesta terça (5), o chefe de gabinete de Macri confirmou que o presidente irá a Davos, em seu primeiro road-show pelos países desenvolvidos. Levará a tiracolo o líder opositor Sergio Massa (da Frente Renovadora), que concorreu e perdeu a eleição presidencial contra Macri.
A ideia original, que chegou a circular na imprensa, era levar o peronista Daniel Scioli, que representou o kirchnerismo nas eleições. Mas as divergências entre macristas e funcionários do antigo governo aparentemente azedaram o clima e Macri convidou Massa.
Sem rodeios, o opositor afirmou que continuará do outro lado da trincheira, no front interno, mas externamente, afirma que é preciso “mostrar que a Argentina é um país sério”.
“Outros países, como o Uruguai, conseguem reunir ex-presidentes em reuniões com investidores externos. Em temas de política exterior, os líderes devem se unir em um objetivo comum”, disse o ex-candidato à TV local.
Para o economista-chefe da consultoria Ecolatina, Lorenzo Sigaut Gravina, ir a Davos é um sinal relevante.
“É um sinal importante. Talvez internamente não tenha tanta relevância, mas terá visibilidade no exterior”, disse. “Ir a Davos não era uma questão até agora, então claramente ele quer dar um sinal diferente ao mundo”.
Desde que assumiu, em 10 de dezembro, Macri vem anunciando a retirada de inúmeras restrições levantadas durante o governo de Cristina Kirchner. As interferências do governo acabaram travando a economia e levando a Argentina à estagnação combinada com uma inflação ao redor de 27% em 2015.
Gravina estima que o primeiro semestre na Argentina será recessivo, resultado da desvalorização do peso e consequente impacto na inflação e no consumo. Mas estima que o retorno da confiança pode encurtar esse período de correções.
“Já existe um ar fresco no campo no campo das expectativas”, afirma. “Não é casualidade que a Argentina esteja novamente no ‘Financial Times’ e na ‘Economist’, dessa vez com títulos mais favoráveis.”
Gravina faz referência a reportagem do “Financial Times” de terça (4) que diz que o país de Macri está tomando o lugar do Brasil aos olhos dos investidores externos.
O entusiasmo com a Argentina, combinado com a recessão no Brasil, levou o jornal a fazer um diagnóstico que exacerba o pessimismo com o governo Dilma.
Chega a comparar a crise atual brasileira com o colapso argentino de 2001, que levou a economia do país a uma queda de 15% do PIB em dois anos.
O otimismo com a Argentina se deve, segundo Gravina, aos anos de isolamento sob o kirchnerismo.
“Só voltar ao mundo já é uma possibilidade de crescimento para a Argentina”, disse.
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