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Indústria

“Made in Brazil” recupera terreno

A valorização de 46% do dólar nos últimos três meses deverá desencadear uma onda de substituição de importações por produtos nacionais. Economistas e representantes do setor produtivo apontam uma redução entre 10% e 20% do volume de importações com o novo nível do dólar, acima de R$ 2. Isso representaria um ganho de até US$ 34 bilhões para a indústria brasileira.

Entre os produtos que mais deverão ser beneficiados estão insumos como papel, aço, tecidos, máquinas e equipamentos, pequenos eletrodomésticos, alimentos e brinquedos, entre outros. "Em alguns casos a substituição de importação tende a ser imediata, como é o caso de alimentos e bebidas", avalia José Ricardo Roriz, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na indústria de brinquedos Estrela, a reação à alta da moeda americana foi transferir parte de sua produção para a China. "Só tomamos essa decisão pelo efeito câmbio", afirma o presidente da companhia, Carlos Tilkian. Em 2008, os produtos fabricados no país asiático responderam por 40% do faturamento. Esse porcentual pode cair para até 25% em 2009.

A Diagnósticos da América (Dasa) também planeja comprar no país reagentes para uso em exames e equipamentos de raio-x. O presidente da companhia, Marcelo Noll Barboza, diz que já avalia algumas possibilidades no mercado interno. "Em dois meses, estaremos negociando com os fornecedores."

No setor têxtil, a substituição tem sido vista como uma grande oportunidade para retomar o mercado perdido para os chineses. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) estima que o setor vai crescer mais que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, especialmente por causa da demanda maior das confecções pelo tecido nacional.

A indústria de máquinas e equipamentos também vê a possibilidade de reconquista do mercado perdido para os importados. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso Cardoso, com a desvalorização do dólar frente o real, o país passou a importar até produtos com similares nacionais. "Agora a importação deixa de valer a pena."

Segundo o economista Julio Gomes de Almeida, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as empresas nacionais têm tudo para ganhar terreno sobre os importados. "Nossa indústria é muito competitiva e o processo de substituição de importação pode chegar a 20%", calcula. A projeção do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto do Castro, é um pouco mais modesta, ao redor de 10%.

O processo de substituição, no entanto, depende do comportamento do mercado interno. "Nesse momento, há uma paralisia do mercado. O efeito deve ocorrer só no segundo semestre", estima Alessandro Pascolato, presidente da tecelagem Santa Constancia.

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