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Magnata e presidente: os conflitos de interesse que rondam Donald Trump

 | NICHOLAS KAMM/AFP

Líder de um império de negócios e agora presidente dos Estados Unidos: ao combinar estes dois papéis, o milionário Donald Trump deverá enfrentar conflitos de interesse em uma escala sem precedentes na história política do país.

O empresário, que na terça-feira (8) se converteu no futuro presidente americano, fez sua fortuna ao construir uma rede de hotéis, edifícios de empresas e apartamentos de luxo à frente da Organização Trump.

Seu império de imóveis está localizado principalmente nos Estados Unidos, mas também se estende a países como Coreia do Sul e Turquia. Por isso, administrar como presidente as relações políticas com estes dois aliados dos Estados Unidos apresenta uma curiosa mistura de objetivos cruzados.

A Organização Trump não negocia ações na bolsa de valores, e portanto a maioria de suas atividades está vedada à auditoria. No entanto, a imprensa americana reportou relações financeiras com pessoas próximas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin.

“Para que fique registrado, tenho ZERO investimentos na Rússia”, expressou Trump na rede social Twitter em julho passado.

Mas o potencial de conflitos de interesses com seus negócios não se limitam para Trump a países como a Rússia. De acordo com o jornal “Wall Street Journal”, desde 1998 Trump já recebeu cerca de US$ 2,5 bilhões do Deutsche Bank.

Atualmente, reguladores americanos estão em negociações com este banco alemão pela aplicação de uma enorme multa por seu papel na crise financeira de 2008. Assim, esta situação gera questionamentos sobre como a administração de Trump reagirá se herdar o caso, ou se os interesses comerciais do novo presidente serão considerados na equação.

Sem precedentes

As acusações por conflitos de interesses não são uma coisa nova na política americana.Estas denúncias mancharam o governo de George W Bush, cujo vice-presidente Dick Cheney, até o ano 2000 havia sido líder da empresa de logística e serviços petrolíferos Halliburton, que mais tarde ganharia fortunas com contratos no Iraque.

Mas o problema ganha outra dimensão com Trump, já que seu nome está indissoluvelmente ligado ao seu império de negócios. “Não tem precedentes na história dos Estados Unidos em parte porque não sabemos a natureza de muitos nós financeiros”, disse à AFP Kathleen Clark, professora de direito da Universidade Washington, de Saint Louis.

Em sua visão, um ponto particularmente crítico ao conflito ético é que Trump financiou sua empresa mediante dívidas. “Não sabemos a quem ele deve dinheiro. De alguma forma, dever dinheiro é um conflito financeiro muito mais significativo que um investimento”, afirmou.

Até o momento, Trump não se referiu aos seus potenciais conflitos de interesses. Em parte talvez porque poucos acreditassem que pudesse chegar ao Salão Oval da Casa Branca, mas também porque as leis americanas neste tema são flexíveis quando se referem ao presidente.

Afastamento dos negócios

Sob a legislação vigente, os membros não eleitos da administração americana enfrentam severas restrições em suas atividades de negócios, mas estas regras não se aplicam ao presidente ou ao vice-presidente.

Embora a Constituição proíba qualquer político de aceitar fundos de um governo estrangeiro, não existe qualquer proibição de fazer negócios com associados privados no exterior.

Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu colocar todos os seus negócios em um “truste” que lhe impediria de ter qualquer relação com as atividades de suas empresas. No entanto, acrescentou que colocaria o império sob o controle de seus três filhos, que já são vice-presidentes executivos da Organização Trump.

Mas isso será realmente suficiente para separar o presidente Trump de seu império de negócios? “Não vamos discutir estas coisas. Acreditem em mim. Como sabem, é um emprego em tempo integral. Ele não precisará se preocupar com os negócios”, disse seu filho Donald Trump Jr. em setembro, em plena campanha eleitoral.

Outro ex-presidente utilizou a mesma estratégia. Depois de sua eleição, em 1994, como chefe do governo italiano, Silvio Berlusconi confiou a administração de seu império de meios de comunicação a um truste sob controle de sua família. Mas não conseguiu evitar críticas por conflitos de interesse.

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