O principal desafio da Vale após a tragédia de Brumadinho vai ser o de reconstruir a sua imagem, pesadamente arranhada pelo rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão que deixou, até agora, 84 mortos e 276 desaparecidos.
“O investidor vai ficar se perguntando: será que um episódio desses não voltará a acontecer”, diz Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos.
Depois do tombo de 24,52% nos papéis da mineradora na segunda, as ações fecharam em alta de 0,85%, cotadas a R$ 42,74. Mas, nos próximos dias, as ações passarão por um período de forte volatilidade. “As indefinições são grandes”, diz Álvaro Frasson, analista da Necton Corretora. A Toro Investimentos projeta que o preço das ações poderá ficar estável ou, até mesmo, cair.
As primeiras consequências jurídicas do desastre já surgiram: escritórios de advocacia nos Estados Unidos se preparam para processar a mineradora. Eles questionam porque a diretoria não conseguiu evitar um novo desastre ambiental, após o episódio de Mariana, em novembro de 2015, que resultou em 19 mortes.
“A grande pergunta que os investidores estão fazendo é: será que a mineradora tem a capacidade de se prevenir e evitar futuros problemas?”, ressalta Panonko. “Até agora, a Vale mostrou uma total incapacidade em evitar desastres.”
A empresa também tem uma série de pendências em decorrência da tragédia: só com o Ibama, as multas chegam a R$ 250 milhões; as ações trabalhistas podem ter um impacto de R$ 850 milhões e há R$ 11 bilhões bloqueados pela Justiça. Isto corresponde a aproximadamente 50% do caixa da mineradora.
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O ponto positivo, de acordo com Frasson, é que a Vale tem uma saúde financeira muito forte. Mas faz uma ressalva: será preciso avaliar melhor o impacto dessas multas no curto prazo. “No longo prazo, o volume de multas não é significativo. A empresa grande tem poder de se capitalizar”, diz Panonko, da Toro
A Eleven Research projeta um cenário mais duro e célere na Justiça para a companhia, aponta o Valor.
Ao mesmo tempo que tem de lidar com os desdobramentos da tragédia de Brumadinho, a Vale tem um outro desafio, destaca o analista: é o de manter uma rentabilidade interessante com o preço do minério de ferro estabilizado e a China crescendo menos. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB da economia oriental deverá crescer 6,2% ao ano em 2019 e 2020;
“Com os Estados Unidos desacelerando e a Europa patinando, não há ninguém que possa substituir a China no curto prazo. Talvez a Índia, no futuro.”
Nota de crédito
A Moody's colocou a nota de crédito da Vale em revisão para rebaixamento, a terceira agência de risco a sinalizar uma piora na avaliação da mineradora após o rompimento da barragem de Brumadinho. Atualmente a agência classifica a Vale como Baa3.
Segundo a Moody's, ainda que seja cedo para estimar a extensão do prejuízo, o acidente terá impacto sobre a companhia em todos os aspectos. "É difícil mensurar o potencial dos passivos ambientais, administrativos, penais e cíveis que a empresa poderá enfrentar, bem como o impacto sobre sua reputação", diz a agência.
No comunicado, a Moody's acrescentou que as punições financeiras devem ser maiores que as aplicadas à Samarco dado o elevado número de mortes e o fato de ter ocorrido apenas 3 anos após o rompimento da barragem em Mariana.
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