O setor industrial começa a dar sinais mais fortes de desaceleração. As indústrias estão com estoques maiores e com um índice de ocupação da capacidade instalada menor, o que sugere que as medidas do governo para esfriar a economia, o aumento dos juros e a inflação alta começam a afetar o consumo e chegar ao chão de fábrica.
O freio ainda não ocorre de maneira generalizada e está concentrado principalmente nas pequenas empresas, segundo o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Houve uma piora geral das condições para a indústria, mas são as empresas de pequeno porte que estão com maior velocidade e força de queda nos indicadores de produção", diz.
Pesquisa divulgada ontem pela CNI e realizada com 1.442 empresas das quais 813 pequenas, 416 médias e 213 de grande porte revela que o indicador de produção de abril ficou em 47,6 pontos contra 53,3 pontos de março. Na escala da entidade, acima de 50 pontos indica crescimento e abaixo, retração.
De acordo com Azevedo, o levantamento mostra que as grandes empresas, embora não estejam reduzindo a produção, sinalizam que estão com estoques elevados, o que deve ter reflexo no ritmo de fabricação nos próximos meses.
Segundo Azevedo, da CNI, os setores mais afetados são o de madeira, têxteis e de couros, mas praticamente todos os segmentos industriais estão com indicadores abaixo de 50 pontos. "A indústria vive um momento de transição de um ritmo de produção bem mais forte para um bem mais moderado."
O setor de embalagens, considerado um dos termômetros da atividade econômica, já começou a colocar o pé no freio. A fabricante de embalagens de ráfia Polijuta, de Guarapuava, na região dos Campos Gerais, reduziu a produção de 7 milhões de sacos por mês para 5,5 milhões de sacos, afirma o gerente industrial Marcos Aurélio Scremin.
A empresa vende embalagens de ráfia para as indústrias de açúcar, farinha, rações e fertilizantes. "Os nossos clientes reduziram encomendas desde março e não há sinais de retomada do patamar anterior", afirma. De acordo com Scremin, a Polijuta não repassou nenhum dos seis reajustes de preço do polipropileno. "Não há espaço para aumentos", diz.
O setor de alimentos, que tradicionalmente demora mais para desacelerar, ainda mostra vigor no ritmo de produção. A Zaeli, com sede em Umuarama, está com vendas em média 10% maiores do que no ano passado, de acordo com seu diretor comercial, Valter de Oliveira Rodrigues. "Há um receio de que o varejo possa reduzir suas encomendas. Mas, para nós, não há nada de concreto", completa.
Perda
Em março, a produção industrial no Paraná registrou queda de 8,9% em relação ao mesmo mês de 2010, de acordo com o IBGE. Foi o primeiro resultado negativo registrado pelo Paraná na comparação com o mesmo período do ano anterior desde outubro de 2010. No primeiro trimestre, a produção estava 4,8% superior à do mesmo período do ano passado.
As vendas da indústria vêm crescendo em ritmo menor a cada mês, segundo o economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) Roberto Zurcher. "Vínhamos com vendas fortes no segundo semestre do ano passado, mas a desaceleração está bastante rápida. Em janeiro, as vendas estavam crescendo 27,5%. Em fevereiro, esse porcentual caiu para 19% e, em março, para 10%", afirma. A projeção da Fiep é que as vendas industriais no Paraná encerrem o semestre com um crescimento de 5% a 6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para a economista chefe da Rosenberg Consultores Associados, Thais Zara, a queda mais acentuada da atividade industrial deve ser sentida no segundo semestre deste ano. "Os dados da produção industrial de abril do IBGE [que devem ser divulgados na semana que vem] ainda devem mostrar um crescimento, mas tímido", diz.
"Podemos dizer que a indústria ainda não desacelerou, mas há indícios claros de que isso vai ocorrer", afirma o economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo Júnior. A última Sondagem da Indústria da Transformação realizada pelo Ibre com 1,2 mil empresas mostra uma queda na produção prevista para os próximos meses. O indicador ficou em 127,5 pontos em abril, 14,6 pontos porcentuais abaixo de dezembro do ano passado. A queda foi puxada pela produção de material plástico, têxtil, vestuário e calçados e produtos alimentares.