No Brasil são poucas as empresas – e menos ainda na cadeia produtiva de petróleo e gás – que conseguiram bater sucessivos recordes de produção nos últimos anos. Ainda mais raras são as que mantêm o pique e projetam uma nova marca inédita para 2016. A norueguesa Aker Solutions, instalada no Paraná desde a década de 1970, é uma delas. Mas nem ela sabe até quando durará essa condição privilegiada.
A multinacional inaugurou na semana passada uma fábrica em São José dos Pinhais, que substitui a unidade que ocupou por quase quatro décadas na Cidade Industrial de Curitiba. A construção da unidade foi decidida há três anos, assim que a companhia assinou com a Petrobras o maior contrato de sua história no Brasil, no valor de US$ 800 milhões (quase R$ 2,9 bilhões pelo câmbio atual), todo voltado à produção no pré-sal. Na época, o barril do petróleo valia mais de US$ 100 e a Petrobras, principal cliente, ainda não tinha sido tragada pela Operação Lava Jato.
O desmoronamento dos preços do óleo e o corte de investimentos das petroleiras, ainda mais profundo no caso da Petrobras, lançaram uma sombra sobre o futuro. “Ainda temos uma quantidade enorme de ordens para entregar. Mas é óbvio que toda fábrica do mundo, seja ela de aeronaves, veículos ou equipamentos submarinos, precisa de mais demanda”, disse à Gazeta do Povo o executivo-chefe mundial da empresa, Luis Araujo, que liderou a operação brasileira da Aker até 2014, quando foi escolhido para ocupar o cargo mais alto da matriz.
Árvore de Natal
O principal produto da Aker é um combinado de válvulas chamado “árvore de Natal molhada” (ANM), que pode pesar 150 toneladas, no caso dos destinados à exploração do pré-sal. Instalado a até 3 mil metros de profundidade, o equipamento é o responsável pelo controle da vazão do óleo e do gás que saem de um poço. A demanda por esse tipo de equipamento depende, portanto, da descoberta e do desenvolvimento de novos campos, atividade que ficou menos rentável com a queda dos preços.
Encomendas feitas anos atrás é que garantem os recordes atuais. O faturamento da subsidiária brasileira da Aker triplicou entre 2011 e 2015. De uma produção entre 14 e 16 conjuntos de ANMs por ano no início da década, a filial passou a 26 conjuntos em 2013, 32 em 2014 e 34 em 2015. Neste ano serão 38, segundo a executiva-chefe no Brasil, Maria Peralta. “Ainda temos cerca de 60 árvores para entregar, e oito manifolds [tubos de distribuição]”, revelou.
O que vem depois não se sabe. “Ainda há muita discussão sobre como será o modelo de concessão, se vai mudar ou não, se a Petrobras continuará como operadora. E, temos, obviamente, o momento político bastante conturbado. Mas, resolvendo essas questões, o potencial é enorme”, disse Araujo. “O próximo plano de negócios deve sair em alguns meses, então teremos uma visão um pouco melhor do que a Petrobras planeja para os próximos cinco anos.”