Crescimento - Ascensão social ocorre em vários países emergentes
A formação de uma nova classe média não é um movimento exclusivo do Brasil. Em países em desenvolvimento, ela já soma 400 milhões de pessoas, volume que deve chegar a 2 bilhões até 2030.
A classe média praticamente dobrou de tamanho na maioria dos países emergentes nos últimos quinze anos e já representa 29% da população do México e 45% da do Chile, por exemplo. Na China, ela praticamente inexistia até meados dos anos 2000 e agora representa 31% da população. No Brasil, ela representa 52% da população.
A combinação de estabilidade econômica, aumento de renda e um cenário global favorável fez com que pelo menos 32 milhões de pessoas ascendessem das classes D e E para a C. O resultado é que a classe C se tornou a mais numerosa do país, com 90 milhões de brasileiros.
Dos produtos de supermercado ao eletrodoméstico ou carro, a "nova classe média" já compra como a população de maior poder aquisitivo. Pesquisas mostram que, embora os ganhos mensais de cada uma sejam diferentes, a classe C que hoje representa 52% da população brasileira e viu sua renda ser "esticada" graças às facilidades de crédito adotou um padrão de consumo muito semelhante ao da classe B.
Uma das explicações para isso é que, apesar da diferença entre as rendas, o dinheiro que sobra depois de pagar as contas é praticamente o mesmo nas classes B e C. Por um lado, o orçamento da classe B tem sido pressionado principalmente pelos gastos com serviços privados, como escola particular, transporte e saúde privada, o que ajuda a diminuir a renda disponível para compras. A classe C, por sua vez, está habituada a usar mais os serviços públicos, que não pesam no bolso. A renda que sobra, espichada pelo crédito ou até mesmo pela poupança, ajuda a satisfazer a vontade de consumo, aponta pesquisa de consumo Lupas, da CCZ Publicidade.
"Há uma proximidade entre as classes que ninguém imaginava. As empresas sempre consideraram a classe C como um outro mundo, à parte das classes A e B. A pesquisa mostra também que a B está muito mais próxima da C do que da A", afirma Viviane Camargo, diretora de atendimento da CCZ. O levantamento ouviu 51 mulheres em Curitiba das classes B (renda familar entre R$ 2,23 mil e R$ 4,6 mil) e C (R$ 933 a R$ 1,4 mil).
A pesquisa mostra que a classe C tem em casa as mesmas marcas e produtos que a classe B consome. Desde a geladeira de inox, do computador, da tevê de LCD e do carro novo na garagem (tudo financiado em várias parcelas) até os itens básicos, como sabonete e o sabão em pó, o suco e a margarina.
No caso de vários bens duráveis como televisor, geladeira, rádio, aparelho de DVD e lavadora de roupas , a classe C já está colada na B, com um índice de penetração nos lares próximo de 100%, segundo um estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pelo menos 89% das famílias da nova classe média têm celular, 52% têm computador, 75% têm freezer, 54% aspirador de pó e 34% tevê por assinatura, o mesmo índice dos que possuem banda larga.
"Hoje, para se saber a classe social de uma pessoa é preciso saber quanto ela ganha e não quanto ela gasta. Com o efeito do crédito, compra quem quer e não apenas quem pode", afirma o cientista político Bolívar Lamounier, um dos autores do livro A Classe Média Brasileira Ambições, Valores e Projetos de Sociedade.
Dívidas
Mas, se as classes C e B se aproximam no consumo, se distanciam quando o assunto é endividamento. Ambas usam o crédito para realizar os sonhos de consumo, mas o comprometimento da renda e o risco de inadimplência são maiores entre os que ganham menos. O levantamento da CNI mostra que, nos últimos 12 meses, a necessidade de ajustar as despesas à receita, cortando gastos, afligiu pouco mais de um terço das famílias de classe média alta (36%). Mas a proporção correspondente nas classes de renda mais baixa foi de 61% na classe C, 64% na classe D e 54% na classe E.
"Com a economia aquecida, o risco de uma explosão de inadimplência é pequeno. O problema é se há um desaquecimento, com reflexos em aumento do desemprego", lembra Christian Majczak, da consultora GO4!. "A classe B tem mais gordura para cortar do que a C", acrescenta. Para ele, as duas classes deverão continuar muito parecidas nos próximos anos, com a classe B seguindo pressionada pelos custos de serviços, que vêm subindo acima da inflação.
Juntas, as classes B e C deverão responder por 74% do consumo do país em 2010. Mas estimativas apontam que o consumo de produtos e serviços nas classes C, D, E deve crescer entre 7% e 8% ao ano até 2013, o dobro do projetado para as classes A e B.
"Duelo" de classes
Classe B
A empresária Francine Quadros Maes (foto 1), de 37 anos, e o marido, Fabiano Maes, de 37 anos, têm uma pet shop no bairro Água Verde, que garante uma renda mensal de R$ 4 mil.
Ela mora em casa própria, mas há tempos não renova os eletrodomésticos. Não tem tevê de plasma e o micro-ondas pifou e não tem data para ir para o conserto ou ser trocado. "Preferimos esperar e comprar um novo quando der", explica Francine. "Hoje nossas prioridades são outras, como por exemplo o uniforme da nossa filha."
Educação
Apesar de ganhar mais que o dobro da Samara (personagem do texto ao lado), o orçamento de Francine vem sendo espremido pelos gastos com a educação da filha, de sete anos, Ana Thereza. "É a nossa maior despesa", diz a empresária. A escola integral sai por R$ 1,3 mil ao mês, mas ainda há mais gastos pesados, que incluem o plano de saúde de R$ 600 e a prestação do carro, de R$ 700. "As despesas são altas, então temos que ter controle."
Lazer
Francine conta que chegou a buscar uma escola pública para a filha, mas não deu certo. Os gastos são controlados também no supermercado, mas ela não abre mão de algumas marcas de que gosta. Como a filha fica o dia todo na escola, o casal estabeleceu uma rotina de lazer, que inclui a ida ao cinema ou um lanche no McDonald´s pelo menos uma vez por semana. A família não tem poupança, mas os dois economizam todo o ano para poder fechar a pet shop por dez dias e tirar férias.
Classe C
A vendedora Samara Costa (na foto 2, com o filho João Gabriel), de 31 anos, tem uma renda de cerca de R$ 1,6 mil por mês, mas acaba de comprar um micro-ondas Brastemp de quase R$ 1 mil. Como João Gabriel estuda em colégio público, as despesas são basicamente o aluguel da casa, de R$ 320 (que já inclui a água) e os gastos com alimentação e transporte. "Eu economizo e compro tudo à vista", explica.
Luxos
Samara aproveitou uma liquidação na Leroy Merlin e comprou um lustre R$ 1 mil. "Era uma promoção, o preço original era R$ 4 mil e não resisti. Mas também usei minhas economias para pagar na hora." O lustre vai decorar a sala da casa nova, que ela está comprando por meio do programa Minha Casa, Minha Vida em Fazenda Rio Grande, na Grande Curitiba.
A vendedora também não economiza quando o assunto é alimentação.
"Não compro por marca e sim por qualidade." Na sua geladeira, por exemplo, não pode faltar suco de soja concentrado e potes de margarina Amelia, que custam cerca de R$ 6. "É mais parecida com a manteiga, sem ser gordurosa", explica.
Controle
Apesar dos "luxos", Samara diz que controla os gastos na ponta do lápis. "Eu compro roupa duas vezes por ano, sempre nas liquidações das estações." Ela ainda não tem computador, mas está nos seus planos comprar um. "Mas vai ter que ficar para depois da compra da casa", afirma. Além do trabalho como vendedora, Samara faz vários bicos para aumentar a renda e as economias, que a ajudaram a juntar R$ 10 mil em uma poupança para dar de entrada na casa própria.
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