O fantasma da febre aftosa começa a deixar o Paraná, quase um ano depois que a doença foi descoberta em Mato Grosso do Sul (MS) e animais doentes foram rastreados em fazendas paranaenses. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou a pecuária em 481 propriedades que estavam dentro de um raio de 10 quilômetros dos pontos suspeitos da doença no estado, a chamada área de risco, espalhada por quatro municípios. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) não soube estimar quantos animais foram afetados pela liberação. Outras 95 fazendas de gado continuam interditadas, próximas às fazendas São Paulo e Alto Alegre, ambas de Loanda, Noroeste do estado, reconhecidas pelo Mapa como focos de aftosa e que ainda estão sob investigação.
As propriedades liberadas estão localizadas na região das fazendas Cesumar e Pedra Preta, de Maringá (Norte do estado); Flor do Café, de Bela Vista do Paraíso (Norte); Santa Izabel, de Grandes Rios (Central); e Cachoeira, de São Sebastião da Amoreira (Norte). Os pecuaristas podem agora comercializar bovinos e carne bovina para outras regiões do Paraná e para outros estados.
Desde outubro do ano passado quando a Seab anunciou que animais de fazendas contaminadas em Mato Grosso do Sul participaram de feiras no Paraná ou foram vendidos para propriedades do estado foram colhidas 11.819 amostras de sangue dos animais para a identificação do vírus da aftosa nas regiões suspeitas, conforme orientação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Nenhuma amostra deu resultado positivo. Os bovinos que participaram do estudo tinham de 6 a 24 meses e em sua maioria não foram vacinados após a etapa de maio de 2005.
De acordo com Newton Pohl Ribas, o Mapa espera receber documentos sobre o transporte dos animais de Loanda para descartar definitivamente a existência de febre aftosa na região. "Na segunda-feira já vamos começar o trabalho, que deve terminar na quarta. Acredito que na outra semana o governo libere as propriedades", disse em entrevista coletiva. Segundo Ribas, depois da liberação, será produzido um relatório para ser enviado à OIE para que o estado volte a ser declarado zona livre de aftosa com vacinação. A partir daí a tendência é de que a exportação da carne volte a se normalizar. Desde a descoberta de aftosa no MS, em outubro do ano passado, mais de 50 países decidiram não comprar carne do Brasil. As regiões infectadas no estado vizinho já foram liberadas.
O governo estadual decretou haver suspeita da doença em 21 de outubro de 2005, 11 dias depois de confirmado o foco em MS. Por causa disso, o Mapa resolveu interditar as propriedades afetadas, onde foram abatidos cerca de 6,8 mil animais em março deste ano. A decisão envolveu uma briga judicial que se prolongou por dois meses. O proprietário da fazenda Cachoeira conseguiu uma liminar que impedia o abate, posteriormente cassada. Os proprietários afetados ainda precisam aguardar o resultado de outros exames, que deve sair neste mês ainda, para receber a indenização prometida pelo governo federal.
Respondendo a críticas segundo as quais a Seab se precipitou ao declarar o estado atingido pela aftosa, provocando prejuízos para pecuaristas e a economia paranaense, o secretário da Agricultura insistiu ontem que não houve erro. Segundo Ribas, o estado está muito próximo de MS e esta era a única forma de impedir a entrada de produtos vindos de lá.