Depois de passar mais de uma década cruzando oceanos transportando as mais diversas mercadorias, os contêineres marítimos são cada vez mais procurados para abrigar negócios em terra firme, que vão de bares a shopping centers.
O interesse é motivado não só pelo custo menor e a rapidez da adaptação em relação a uma obra convencional de alvenaria, como por mobilidade, sustentabilidade e pegada contemporânea, mais atraente ao público jovem, o alvo da vez do varejo.
Produzidos na China, os contêineres têm uma vida útil marítima que varia de dez a 20 anos. Depois disso, as empresas de navegação os colocam à venda a preços que variam entre US$ 1.100 e US$ 1.600, dependendo do tamanho e do estado de conservação. Ao comprar esses contêineres de segunda mão para uso em terra, as empresas precisam pagar todas as taxas de importação à Receita Federal.
Demanda
Nos dois últimos anos, as empresas que transformam contêineres em espaços comerciais viram a parcela do faturamento correspondente a esse serviço quintuplicar, tamanha a procura. A atividade não tem dez anos. Hoje, os ganhos dessas empresas com os projetos de customização representam, em média, 25% do faturamento anual. O restante ainda é obtido com a locação de contêineres para a administração pública, setores naval e industrial, para operadores logísticos e empresas de eventos, além de módulos habitacionais.
“Encerraremos este ano com um crescimento de 12% no número de projetos. O período de crise fez a procura aumentar porque pessoas do alto escalão das empresas foram demitidas e usaram a rescisão para iniciar o próprio negócio”, conta o diretor comercial da Delta Containers, Jonathan Gabardo, empresa paranaense há 30 anos no mercado, com escritórios no Sul, Sudeste e Nordeste.
Tendência
Para Maria Candida Torres, engenheira industrial e professora do curso de Gestão Empresarial da Fundação Getulio Vargas, é um mercado com grande potencial de expansão:
Quanto custa
Os preços para o empreendedor têm variação gigantesca. Dependem do tamanho e acabamento recebido pelo contêiner. No Rio de Janeiro, um projeto de 15 metros quadrados com alterações como janelas, portas, vitrines, mezanino e ar condicionado requer um investimento de, no mínimo, R$ 30 mil.
Na Delta Containers, os contêineres saem a partir de R$ 18 mil. Mas a empresa já construiu um hotel de caixas de aço que saiu por R$ 380 mil, em Foz do Iguaçu.
“Até um tempo atrás, os contêineres não passavam de uma embalagem para transporte. Hoje, são uma tendência comercial sustentável, pois podem ter sua vida útil prolongada. Têm design diferenciado e são adaptáveis à captação de energia solar. Mas seu uso traz desafios, pois há pouca mão de obra especializada”, explica.
O segmento é relativamente pequeno. Empresários do setor de locação e venda de contêineres estimam que no Sul e Sudeste existem 20 companhias do ramo, geralmente próximas de zonas portuárias, devido ao acesso fácil aos contêineres.
“No Rio, há algumas empresas, mas a maior parte é para locação e eventos. Poucos enxergam que esse é o futuro do segmento. A nossa empresa tem sete anos. De três para cá a demanda pela customização triplicou. Além do apelo sustentável, o contêiner deixou de ser invisível. Ano passado foi cenário até do BBB. É uma obra que pode custar até 40% menos que uma convencional”, diz Bruno Peotta, sócio-proprietário da RentCon, cujo faturamento com o nicho deve passar de 28% do total registrado pela empresa em 2016 para 40% este ano.
Obras
A economia está no fato de demandar menos recursos e mão de obra. A RentCon tem 20 funcionários que trabalham na sede da empresa, em Jardim Gramacho. A Delta tem 75. Além disso, é considerada uma obra com baixa emissão de resíduos, sem uso de cimento ou água.
A customização atende ao projeto do cliente. Pode incluir revestimentos interno, térmico e acústico e sistemas hidráulicos e elétrico e instalação no local de funcionamento. Também podem ganhar placas para captação de energia solar, reduzindo os custos fixos do empreendimento.
A RentCon tem um técnico em segurança do trabalho que inspeciona cada contêiner, após a compra, para verificar se não há material radioativo, devido ao possível transporte de equipamento hospitalar, por exemplo, e indica a higienização adequada.
Todos podem ter janelas, portas, vitrines, mezanino e ar condicionado, como uma construção convencional. Quando sobrepostos, são soldados e levam travas para reforçar a segurança.
Mercado
A Delta Containers, uma das pioneiras, trabalha nesse nicho desde 2008. Criou uma linha de produção especial automatizada. Em parceria com a Tintas Renner, tem acesso exclusivo a uma tinta especial 95% similar à marítima, que é anticorrosiva e dispensa a pintura dos contêineres por 15 anos.
Hoje, entrega cerca de 18 projetos mensais: 60% da produção são pequenos salões de beleza, lojas de produtos a preços populares e pequenas lanchonetes; 30% são hamburguerias e 10% são casas. Segundo o diretor comercial, Jonathan Gabardo, que mora com a família há sete anos em uma residência de 280 metros quadrados toda de contêineres, esse segmento tem baixo crescimento por uma questão cultural:
“As pessoas ainda são muito apegadas às construções convencionais”, avalia.
“Cara jovem”
Foi em busca do público jovem que o restaurante Vamo, instalado há três anos no Downtown da Barra, encomendou um bar contêiner para instalar dentro do empreendimento:
“Queríamos dar uma cara mais jovem e atrair público à noite. Nosso restaurante era muito formal e o contêiner se encaixou perfeitamente no que buscávamos”, conta Luiz Gomes, diretor-executivo do Vamo.
Em três semanas, a clientela aumentou significativamente.
“Sem contar que os custos de implantação de um bar via contêiner são mais baratos e rápidos que uma obra convencional. Não precisei fechar meu restaurante, como seria necessário para um obra de alvenaria, pois a instalação foi feita em uma noite”, diz Gomes.
Ateliês
No Rio, a plataforma colaborativa Malha, em São Cristóvão, reúne mais de 40 contêineres dentro de um galpão de 27 mil metros quadrados de alvenaria onde funcionam ateliês de moda e aprendizagem na área. Como foram comprados em grande quantidade e com poucas modificações, saíram entre R$ 7 mil e R$ 12 mil cada. O espaço foi inaugurado em julho do ano passado:
“Foi uma solução rápida, barata e sustentável de reaproveitamento. Esteticamente ficou muito melhor do que as linhas duras da alvenaria, que ficariam com aspecto de elefante branco’, explicou Christianne Carvalho, cofundadora da Malha.
Centro comercial
Está prevista para outubro a inauguração do Contêiner Park, centro comercial com 160 contêineres, no estacionamento do Casa Shopping, na Barra:
“É um espaço com conceito moderno e criativo para atrair o público jovem, que exige ideias inovadoras. O contêiner é fundamental nessa comunicação, vai permitir que o empreendimento fique pronto em três meses, evitando dois anos de obras, como exige a alvenaria, e facilita a expansão, pois é só alocar mais contêineres quando necessário”, explica o arquiteto João Uchôa, um dos idealizadores do projeto.
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