Cerca de um quarto das famílias brasileiras que estão endividadas têm débitos que superam de uma a duas vezes a renda familiar mensal, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar desse dado, o nível de endividamento do brasileiro ainda é considerado baixo pelos economistas. O levantamento do Ipea também apontou que 54% das famílias têm alguma dívida a pagar. Em média, essas pessoas devem R$ 5.427.
Na opinião do advogado Luciano Salamacha, doutorando em Administração e professor da Fundação Getúlio Vargas, o endividamento atual é benéfico e dá força para a economia. "As dívidas das famílias neste momento mostram que há um ponto de equilíbrio e que o brasileiro aprendeu a lidar com o crédito no longo prazo", avalia.
A família da cabeleireira Nadia Solange Neves, de Ponta Grossa, está no nível dos 23,5% que devem o dobro da renda familiar. "Hoje pago dois financiamentos de automóveis e isso consome boa parte da renda familiar. Mas é um investimento. Foi a maneira que encontrei para em alguns anos comprar a casa própria. Quando terminar de pagar as parcelas dos carros, vou dá-los como entrada na casa", relata. Ela também considera que está muito endividada, mas que a situação deve melhorar em 2012, quando os seus financiamentos forem quitados.
EUA e Europa
O presidente do Ipea, Marcio Pochmann, analisa que o nível de endividamento mostrado pela pesquisa ainda é "extremamente baixo" se comparado ao dos Estados Unidos e ao de alguns países europeus. Segundo ele, diante da expansão econômica e do aumento de renda, a tendência é que as dívidas cresçam. "As famílias de menor renda têm um grau de exclusão bancária maior. À medida que ganham mais, passam a ter mais acesso a crédito."
O economista Alex Agostini, da consultoria Austin Rating, concorda que o volume de crédito no país ainda tem bastante espaço para crescer. Ele também destaca que, apesar de a concessão de crédito ter se acelerado, a inadimplência está controlada. Mesmo endividada, a maior parte dos brasileiros 73% avalia estar em melhor situação financeira do que há um ano. A região Centro-Oeste apresenta a maior pontuação de otimismo das famílias em relação aos próximos 12 meses (68,14 pontos), enquanto a região Sudeste registra a menor (59,09 pontos).
Mesmo levando em conta somente o seu caso e acreditando que sua situação econômica deva melhorar nos próximos anos, a cabeleireira Nadia não vê motivos para euforia. "Eu venho da lavoura e quando eu era criança a situação era a mesma. Acho que isso não muda nunca, agora é a mesma situação; tem de trabalhar noite e dia para ter alguma coisa", diz.
De acordo com o professor Salamacha, o otimismo ocorre por causa de uma acomodação da cultura econômica das pessoas. "Viemos de um período, no começo dos anos 90, quando o brasileiro não tinha a menor ideia de sua capacidade de pagamento quando fazia uma dívida", analisa.