Há 15 meses, poucos arriscariam como provável um movimento como o que Google e Motorola anunciaram ontem. Mas a lógica por trás dessa aquisição estava se desenhando de forma bastante clara.

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Em maio de 2010 estive em Schaumburg e Libertyville, cidades a pouco mais de 40 quilômetros uma da outra, onde ficavam os escritórios da Motorola – hoje elas servem como sede, respectivamente, da Solutions e da Mobility, as duas empresas resultantes da cisão ocorrida em janeiro. A visita foi organizada pela própria empresa e pela Nextel, para o lançamento de um novo smartphone compatível com a rede da operadora. A programação incluiu um encontro breve com Sanjay Jha, à época copresidente da Motorola e atual comandante da Mobility. Considerado um dos cérebros mais brilhantes da indústria de celulares hoje em dia, o indiano comandou o reerguimento da companhia. Depois de perder a liderança global em celulares para a Nokia, a empresa havia congelado no tempo. Os smartphones haviam surgido, tomado o mercado e a Motorola manteve-se inerte até que Jha fez a opção pelo Android, mudando a cara da companhia.

Naquela conversa com jornalistas latino-americanos, Jha falou sobre essa mudança e a resumiu a uma receita simples: software. "Estamos nos transformando em uma empresa de software para aparelhos móveis", disse. "Sessenta por cento dos nossos engenheiros já trabalham com software." Isso significava, naquele momento, construir interfaces e aplicações sobre o sistema operacional Android, ao qual ele se referia de forma muito positiva. "Por ser aberto, ele permite que muitas pessoas possam inovar juntas", disse.

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A receita de Jha aproximou as duas empresas. A Motorola tornou-se uma empresa de hardware que tinha o software como estratégia. E, dadas as necessidades das novas versões de seus sistemas operacionais – além do Android há o Chromium, para netbooks –, o Google tornou-se uma empresa de software que pensa muito em hardware.

Pois é, agora as duas companhias estão mais juntas do que nunca.