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Mantega defende fundo internacional com real e iuan

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu nesta quarta-feira (10), em Seul, na Coreia do Sul, uma reforma no sistema financeiro internacional que "diminua a importância do dólar" nas transações comerciais. Segundo o ministro, na medida em que os Estados Unidos adotam medidas de interesse interno e deixam de atuar como "coordenador do sistema financeiro", é preciso pensar na criação de um sistema de reserva internacional baseado em múltiplas moedas.

Mantega está em Seul para participar de reunião do G-20, o grupo de países com as 20 maiores economias do mundo. A presidente eleita, Dilma Rousseff, também já está na Coreia do Sul para participar do encontro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Seul nesta quinta-feira (11) ao meio-dia (horário local). A cúpula do G-20 terá início na noite de quinta, com um jantar oferecido pelo governo da Coreia do Sul. Dilma participa ao lado de Lula.

Segundo Mantega, "está na hora de fazermos uma mudança no sistema financeiro internacional porque talvez os Estados Unidos não tenham mais condições de serem um país com reserva universal". Ele afirmou que "talvez tenhamos que sair desse sistema monotemático ou de monomoeda, de uma única moeda resolvendo todas as transações do mundo passando para um sistema de múltiplas moedas respaldando as transações internacionais".

Para o ministro, até o real poderia compor esse novo sistema de reserva. "Se os EUA não tem mais vocação para serem a moeda de reserva internacional, talvez tenha que haver um recuo do dólar e um avanço de outras moedas, de modo que possamos fazer as internacionais sem sermos refém do dólar. O euro, o iuan, talvez o real entre numa cesta de moedas que não só o dólar. Aí as medidas dos Estados Unidos afetarão menos o mundo", defendeu.

Crítica

Mantega também criticou a decisão do FED (Banco Central norte-americano) de comprar US$ 600 bilhões em títulos públicos do Tesouro do país. "Quando os Estados Unidos vão colocar moeda em circulação, o problema é para onde vai essa moeda. Esse recurso acaba transbordando para outros países."

A queda do dólar frente a outras moedas, como o real, prejudica as exportações. Para tentar conter o fenômeno, o Brasil aumentou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações estrangeiras em renda fixa. Mantega admitiu que a medida é insuficiente e que será preciso encontrar novas soluções para o problema.

"Continuaremos tomando medidas no sentido de impedir que o real se valorize", disse. Questionado sobre o que de concreto poderia ser feito para evitar a queda do dólar e se a cobrança de imposto de renda sobre investimentos estrangeiros era cogitada, o ministro respondeu: "Há coisas que se fazem e não se dizem."

Para Mantega, a solução para um maior equilíbrio nas transações comerciais no mundo é o estímulo ao mercado interno. Ele afirmou que vai propor na reunião do G-20 um "pacto de estímulo" ao mercado interno. Alemanha, China e Brasil criticam a injeção de dólar na economia feita pelo governo norte-americano com a compra de títulos públicos, enquanto os Estados Unidos querem que o país europeu e o asiático diminuam seus superávits na balança comercial.

"Temos que fazer um pacto de estímulo à demanda interna. Os Estados Unidos estão com demanda baixa. O governo tem que tomar medidas para recuperar a confiança do consumidor. A Alemanha também pode ampliar o mercado consumidor", disse. "Defendo que primeiro se consolide o crescimento e depois se diminua o déficit. Tem países precipitados, querendo diminuir antes o déficit. Mas com isso não se recupera a demanda", afirmou.

De acordo com Mantega, deve ser acrescentada no documento do G-20 a previsão de medidas macroeconômicas para impedir a entrada de capitais estrangeiros oriundos da desvalorização artificial de moedas. Ao final da cúpula, na sexta-feira (12), será apresentado um comunicado oficial com as resoluções tomadas pelos chefes de Estado das vinte nações que compõem o grupo.

O ministro disse ainda não ser contra a proposta dos Estados Unidos de estabelecer um limite de 4% para o superávit e déficit dos países membros do G-20. "Não sou particularmente contra, até porque o Brasil se beneficiaria porque tem déficit nas transações correntes. Agora, acho que não é por aí. Temos que estimular a demanda", reiterou.

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