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Crise nos mercados

Mantega diz que exportações farão dólar voltar a cair. Economistas concordam

Apesar do grande susto provocado nas cotações do dólar, que subiu a R$ 2,12, e na Bolsa de Valores de São Paulo, que chegou a despencar mais de 8% nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que as turbulências serão compensadas pelo superávit na economia brasileira. Para ele, "não há nenhuma possibilidade de se sair ileso dessas turbulências", mas a crise não deverá afetar a economia real .

- Estamos no olho do furacão, que é quando as coisas parecem piorar. Turbulência só sabemos quando começa e nunca quando acaba. Desafio qualquer especialista a dizer quando ela vai terminar - afirmou o ministro, classificando o movimento dos mercados nesta quinta como "efeito manada".

Economistas ouvidos por O GLOBO ONLINE também relutam em falar em contágio imediato dos fundamentos macroeconômicos. Para Joel Bogdanski, do Banco Itaú, os estragos serão temporários. As conseqüências, diz, apenas seriam mais fortes caso a economia americana fosse de fato afetada pelos problemas de crédito e isso se refletisse em demanda menor por produtos importados. A desaceleração econômica nos EUA resultaria em procura maior de investidores por mercados menos arriscados e o dólar se consolidaria em um novo patamar - o que afetaria as expectativas de inflação do Brasil.

- Por enquanto, é apenas um movimento financeiro de crise. Em maio e junho do ano passado, vimos a cotação do dólar passar de R$ 2,15 para R$ 2,40 em questões de dias porque o mercado ficou frustrado em relação à trajetória dos juros da economia americana, mas o dólar logo voltou a cair. Agora, a cotação foi de R$ 1,88 para R$ 2,10. Quando esse movimento de saída de recursos cessar, ele voltará a ter o mesmo aspecto de antes da crise. O Brasil gera um saldo muito bom na balança comercial, o que vai ajudar a trazer a cotação para baixo - avalia.

O risco, diz, é a crise nos Estados Unidos demorar a passar - o que poderia fazer com que o dólar se consolide em um novo patamar, alterando as expectativas de inflação dos agentes do mercado.

- Mas, felizmente, a gente está com uma inflação tão baixa que o máximo que acontecerá é ela passar de 3,70% no fim do ano para 4,5%, no caso de uma desvalorização de 20% do real. De qualquer forma, a situação é tranqüila porque as expectativas ainda não haviam se ancorado na queda da taxa a R$ 1,80. Da mesma maneira que os preços não recuaram quando o dólar caiu, também não devem subir imediatamente com a alta da moeda - diz.

"EUA já não são o motor do mundo"

O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, também aponta a expectativa de inflação como motivo de preocupação. Mas acha que esta probabilidade é pequena:

- O crescimento da economia mundial atualmente depende menos da economia americana, especialmente se a China e a Índia continuarem crescendo - diz. - Pode até haver algum impacto nos preços do atacado, mas ainda considero que prevalecerá o lado superavitário da balança comercial, que fará com que o dólar volte a cair nas próximas semanas.

O especialista lembra ainda que o país tem US$ 170 bilhões em reservas para enfrentar qualquer problema de liquidez. Além disso, segundo reportagem do Valor Econômico publicada nesta quinta-feira, o Tesouro dispõe de R$ 281 bilhões em caixa - quantia suficiente para se ausentar do mercado por até quatro meses se necessário.

Rosa destaca também que o Brasil está em uma situação confortável, assim como os outros países da América Latina, por não ter fundos com investimentos no mercado de dívida de alto risco americana.

- Não há ameaça nenhuma de termos uma instituição financeira com o risco de ter que se livrar desses ativos, o que nos dá uma certa tranquilidade. Também é importante notar que a economia brasileira está com um quadro muito mais robusto, sentindo menos os efeitos das crises globais. Para ele, em outros momentos, o risco-país estaria em algo entre 600 e 800 pontos-básicos, e não nos 234 pontos básicos registrados nesta quinta-feira.

Fábio Knijnik, do BES Investimento, engrossa o coro dos que minimizam o impacto dos EUA na contaminação mundial, caso os fundamentos da economia sejam afetados.

- Os EUA não são mais os motores do crescimento mundial. E a expansão atual do Brasil está sendo muito mais puxada por fatores domésticos, como o crescimento do consumo das famílias e dos investimentos, que pelas exportações de commodities.

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