O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou neste sábado (20) que Estados Unidos e Europa jogam com a "legitimidade e credibilidade" do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao frear a reforma que dá mais peso aos países emergentes no organismo, que deveria ter sido completada em outubro passado.
"O obstáculo para a entrada em vigor da reforma de 2010 foi o atraso na ratificação por parte do Congresso dos Estados Unidos", disse Mantega, durante a sessão plenária do Comitê Monetário e Financeiro (IMFC, em sua sigla em inglês), principal órgão do FMI.
Mantega acrescentou que, no caso da revisão da fórmula de cotas, que outorga a cada país um peso específico no fundo, o principal obstáculo é a "resistência à mudança" por parte dos países europeus, que têm peso excessivo devido sua contribuição atual à economia mundial.
"Significa que os Estados Unidos são incapazes e a Europa não está disposta a cumprir com as reformas estipuladas", garantiu Mantega.
O ministro insistiu, acusando que "os principais acionistas da instituição estão jogando, talvez inconscientemente, com a legitimidade e credibilidade do FMI".
Segundo Mantega, a estrutura de poder do FMI reflete ainda, em grande parte, o mundo existente no final da Segunda Guerra Mundial, quando se criou o organismo multilateral. Esta ficou defasada ao não apresentar o protagonismo de forças emergentes, como China, Índia ou Brasil.
"Os países europeus têm um peso excessivo na instituição e parecem extremamente reticentes a ajustar seu poder de voto às mudanças na economia mundial", garantiu.
O ministro lembrou que até pouco tempo atrás Estados Unidos tinha tido um "papel construtivo" na reforma do FMI, mas agora freia sua continuidade. "Poderiam ficar em breve na embaraçosa situação de ser o único país do G20 e membro do IMFC que não ratificou a reforma de 2010", disparou Mantega, lembrando que é preciso não deixar de lado os acordos políticos que propiciaram o acordo.
Mantega lembrou que após a explosão da crise nos países desenvolvidos de 2008, mudanças significativas aconteceram na estrutura política mundial, e que o G20 substituiu o G7 como fórum de cooperação econômica internacional.
Após esta mudança, o G20 deu sinal verde a um processo para aumentar os recursos disponíveis do FMI. "Esses acordos de empréstimos se negociaram em troca de incrementos nas cotas que permitissem um reajuste do poder de voto na instituição", explicou.
"Esse foi o acordo político e não se respeitou", lamentou Mantega. O brasileiro ainda acrescentou que "os países emergentes fizeram sua parte, enquanto os demais ainda têm que fazer a sua".
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu ao Congresso que dê sinal verde na liberação de US$ 63 bilhões, que seriam destinados ao fundo de crise do FMI, para aumentar de forma permanente o financiamento dos Estados Unidos ao organismo.
O secretário do Tesouro americano, Jack Lew, afirmou durante uma audiência recente no Congresso, que aos Estados Unidos, o principal acionista do Fundo, interessa manter sua liderança na instituição financeira multilateral.
O FMI iniciou ontem sua assembleia conjunta com o Banco Mundial (BM), que será encerrada hoje, em Washington, na qual participam mais de 200 ministros de finanças e presidentes de bancos centrais.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast