O debate em torno do tema econômico preferido do governo Lula crescimento versus juros voltou mais forte no início de ano e tem alimentado uma nova queda de braço nos bastidores da equipe econômica.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou a pressão junto ao Banco Central (BC) na tentativa de administrar as expectativas e evitar que seja iniciado um novo ciclo de alta da taxa Selic já em março deste ano.
A avaliação na equipe de Mantega, segundo fontes, é de que antes de mexer na taxa Selic o BC deve primeiro apertar os depósitos compulsórios. A lógica da Fazenda é a seguinte: durante a crise financeira o BC mexeu primeiro nos compulsórios (liberando R$ 100 bilhões) para só depois reduzir a Selic e, agora, deveria seguir o mesmo caminho. O Banco Central afirma que já vem reduzindo o direcionamento do compulsório, mas não confirma a possibilidade de um aumento das alíquotas.
A questão foi levada por Mantega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com números indicando que o ritmo da atividade econômica não seria tão acelerado como apontam os analistas do mercado financeiro, o ministro procurou mostrar ao presidente de que não há necessidade de aumento da Selic, porque a inflação está sob controle e o crescimento previsto é sustentável.
O BC, porém, vê com mais cautela o movimento de retomada da economia e avalia que pressões inflacionárias devem ser combatidas no nascedouro para evitar que o próprio crescimento seja prejudicado. Para o BC, não há incompatibilidade entre a política monetária e a expansão da economia, já que preservar a estabilidade é uma condição necessária ao crescimento.
Mantega e sua equipe cobram do presidente do BC, Henrique Meirelles, uma ação ainda mais coordenada do que a feita no ápice da crise financeira para, agora, garantir um crescimento superior a 5% e um ambiente favorável ao investimento. Internamente, a Fazenda imputa ao BC a conta de um Produto Interno Bruto (PIB) menor em 2009 devido ao atraso do Copom em reduzir a taxa Selic depois que a crise se alastrou na economia mundial em 2008. Enquanto a crise estourou em 15 de setembro, com o quebra do Lehman Brothers, o BC só começou a reduzir os juros no final de janeiro.