Ministro disse que a queda do dólar está ligada, de forma paradoxal, a sinais positivos emitidos pela economia norte-americana| Foto: Dida Sampaio/AE

Meta de inflação

Economistas veem queda já em 2013

A defesa do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, de que no futuro a meta de inflação seja diminuída foi avaliada por especialistas como um sinal de que a redução pode começar em 2013. A definição para a meta de 2013 será tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho, já que o objetivo a ser perseguido pelo BC é estipulado pelo CMN com 18 meses de antecedência. A maioria dos economistas entrevistados pela reportagem acredita que o Brasil já tem condições de reduzir o centro da meta do IPCA da marca de 4,5% que vai vigorar em 2011 e 2012 para 4,25% ou 4% em 2013.

Na avaliação do estrategista do banco WestLB Roberto Padovani, a meta de inflação para 2013 poderia baixar para 4%, nível que deve ser o dobro do que será registrado pelos EUA, zona do euro e Japão. Mas, para ele, a banda que acomoda choques inesperados de preços deve permanecer em dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. O coordenador do IPC da Fipe, Antônio Evaldo Comune, é favorável à redução do objetivo central do IPCA porque inflação baixa traz previsibilidade aos agentes econômicos, o que é essencial para melhorar o planejamento e os investimentos de companhias. "E quando os preços são baixos e estáveis melhora o poder de compra da população, o que estimula investimentos. E sem investimento não há crescimento", ressaltou.

Comune também defende que a meta do IPCA baixe para 4% em 2013, mas com redução do intervalo de confiança de 2 pontos para 1,5 ponto para cima ou para baixo. Ele acredita que, para 2014, a meta poderia baixar para 3,5%, mas a mudança dependeria da reação da economia no ano anterior. "Mudanças importantes em política monetária devem ser testadas aos poucos para ver seus resultados e aplicadas quando há maior segurança de que podem dar certo", disse.

Agência Estado

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Com o dólar escorregando para o patamar de R$ 1,65, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou ontem uma entrevista coletiva para claramente tentar segurar a valorização do real no "gogó". Ao tentar conter a queda do dólar, Mantega acabou indicando um novo piso informal para a moeda americana (R$ 1,65, contra R$ 1,70 até pouco tempo atrás). E estabeleceu uma meta numérica para a política cambial e de comércio externo em 2011: um superávit comercial de US$ 20 bilhões, o mesmo realizado em 2010. Até agora, o governo só trabalhava com meta para exportações. O mercado financeiro prevê para este ano superávit de US$ 8 bilhões para a balança comercial.

Apesar de ter aberto em ligeira alta, o dólar estava sendo negociado pela manhã na casa de R$ 1,65. Até que, no horário do almoço, o Ministério da Fazenda anunciou que às 15h30 Mantega falaria com a imprensa sobre câmbio. Imediatamente, os investidores passaram a operar com a expectativa de adoção de novas medidas na área cambial pelo governo, o que levou o dólar a acelerar sua alta e ser negociado na casa de R$ 1,67, com valorização de mais de 1%.

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Então veio a entrevista. Mantega fez o discurso de que a equipe econômica está atenta ao problema cambial. Disse que o dólar no patamar atual "acendeu o sinal de alerta" e prejudica as exportações brasileiras. E afirmou que o governo está pronto para tomar medidas para conter esse processo. Mas não anunciou qualquer iniciativa para já. "Do ponto de vista cambial, temos várias medidas que podemos tomar. São infinitas as medidas", ameaçou. Sem novidades de fato, o mercado devolveu parte da valorização do dólar, que fechou a R$ 1,664, com alta de 0,85%.

Comércio exterior

Além de afirmar que pode adotar medidas diretamente para corrigir o câmbio, Mantega disse que o governo pretende agir no comércio exterior. "É claro que outras medidas vão ser tomadas para favorecer as exportações e impedir a concorrência desleal. Vamos ser mais rigorosos para preservar o saldo comercial", disse Mantega.

O ministro reconheceu que o processo de alta do real está inserido em um contexto de perda de valor do dólar em escala internacional. Ele explicou que o movimento mais recente da divisa norte-americana paradoxalmente ocorre devido aos sinais de melhora da economia dos EUA. "A recuperação dos EUA ajuda na recuperação da economia mundial, mas isso causa esse fato contraditório que é a desvalorização do próprio dólar", acrescentou.

Mas o ministro mencionou que, em um segundo momento, a melhora dos Estados Unidos pode levar o governo daquele país a cessar o movimento de emissão de dólares para, daqui a algum tempo, até começar a subir os juros. "Mas isso está ainda lá adiante. Até que isso aconteça, o movimento é de desvalorização", afirmou.

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Corte de gastos

Apesar de admitir que o movimento do dólar faz parte de uma situação internacional, Mantega disse que o governo "não medirá esforços" para conter a apreciação do real. E salientou que considera que a "ação fiscal forte" prometida para este ano é um fator adicional no esforço antivalorização da moeda nacional. Isso porque, argumentou, um ajuste fiscal reduz a demanda na economia, o que deve abrir espaço para, no futuro, quando o Banco Central julgar que é possível, os juros caírem.

Mantega lembrou que o juro alto é fator de atração de capital externo e sua redução contribui para conter a valorização do câmbio. Ele explicou que a equipe econômica está preparando uma redução de gastos federais, que não ocorrerá de forma linear. Enquanto não é definido o corte, segundo o ministro, os ministérios estão trabalhando com pequena disponibilidade de recursos em janeiro. O ministro informou que o volume de restos a pagar de 2010 está em torno de R$ 57 bilhões. Em seguida, titubeou e disse que era necessário checar o número.