A incapacidade mostrada pelos governos europeus e norte-americano para contornar seus problemas econômicos e financeiros fará com que essas regiões tenham fraco crescimento nos próximos dois anos, contaminando a atividade global e aumentando ainda mais a guerra cambial pela disputa de mercados, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
"Os Estados Unidos não têm a recuperação que esperávamos; na Europa a coisa está ainda pior por causa da crise aguda da dívida", disse o ministro durante evento em São Paulo, na segunda-feira à noite. "O resultado é que nos próximos dois anos esses países vão crescer num ritmo lento, pífio, isso se não entrarem em recessão."
Mantega voltou a criticar os governos de países desenvolvidos, acusando-os de falta de ousadia para lidar com a crise de confiança dos investidores e de usar apenas o aforuxamento da política monetária para tentar ativar a economia, quando o principal remédio deveria ser a política fiscal.
Segundo ele, o baixo crescimento dessas regiões deve contaminar a economia global, que tende a crescer menos. O ministro diz aguardar uma reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), no mês que vem, quando a entidade pode reduzir a projeção de crescimento global de 2011, hoje de 4,3 por cento.
Nesse cenário, disse Mantega, a disputa pelos mercados internacionais vai se intensificar, com países forçando a desvalorização de suas moedas para ganhar competitividade nas exportações.
"A guerra cambial tende a recrudescer", afirmou, repetindo a expressão que cunhada por ele mesmo em 2010. "Estamos partindo para a concorrência predatória".
Apesar deste quadro negativo, Mantega avaliou que o Brasil está bem preparado para enfrentar uma eventual intensificação da crise. Como exemplo, ele citou as reservas internacionais de cerca de 350 bilhões de dólares, o mercado interno forte e o sistema financeiro sólido.
Por enquanto, disse, a posição do governo é a de manter a previsão de crescimento do PIB brasileiro em 4,5 por cento para este ano e em 5 por cento para 2012. Mas alertou que mesmo as economias emergentes, hoje mais dinâmcas, não estão isentas dos efeitos de uma piora global.
De todo modo, Mantega afirmou que o governo está preparado para usar instrumentos para incentivar a economia, caso seja necessário.
"Temos muita bala na agulha para enfrentar uma eventual piora da crise", disse ele.
Mantega agregou que o governo está contendo seus gastos de custeio para permitir que mais recursos fluam para investimentos e uma possível desoneração tributária. Segundo ele, isso permitirá que o Brasil mantenha crescimento econômico sem pressões inflacionárias.
O ministro assegurou que a meta de inflação deste ano será alcançada. A previsão de Mantega que é a alta mensal média do IPCA seja de 0,3 a 0,4 por cento nos próximos meses.
A meta de inflação para o ano é de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais.