O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou nesta quinta-feira que as expectativas sobre juros no mercado estão exageradas já que o governo brasileiro não se excedeu nos estímulos econômicos e o país não crescerá mais que 5 por cento em 2010, o que descartaria a necessidade de elevação da Selic.
Ao comentar a valorização do câmbio, o ministro afirmou que "às vezes", o otimismo do investidor estrangeiro no país preocupa, mas que o governo não vê ainda motivos para adotar medidas além da compra de dólares.
"Não se sustentam as ideias de que estaremos (crescendo) acima de 5 por cento (em 2010). Acho que está havendo excesso de otimismo", disse Mantega em discurso durante balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"A meu ver, tem gente interessada em elevar as taxas de juros... porque parte do mercado lucra com os juros mais altos. Temos que tomar cuidado com isso porque não tem nenhum fundamento técnico."
As projeções futuras de juros na BM&FBovespa apresentaram alta significativa recentemente, em meio a apostas de que o ciclo de aumento da Selic possa começar mais cedo que o previsto inicialmente, em razão de uma recuperação mais forte da economia.
O Produto Interno Bruto (PIB) deve ter se expandido de 2,0 a 2,2 por cento no terceiro trimestre do ano, acima da alta de 1,9 por cento registrada no segundo trimestre do ano, afirmou Mantega.
Para 2009, a previsão do ministro é de crescimento de 1,0 por cento. Em 2010, a expansão será de 4,5 a 5 por cento.
Mantega também alertou contra excessos vindos de investidores estrangeiros. "De tão alto nosso conceito (no exterior), às vezes até me preocupa. O pessoal está doido para vir aqui fazer investimento", disse.
Ele acrescentou que as recentes operações de abertura de capital de empresas na Bovespa provocam pressões momentâneas sobre o câmbio, mas não geraram movimento especulativo. Se isso ocorrer, o governo adotará medidas para coibir a especulação, afirmou Mantega.
"Mas, até o presente momento, eu considero que a entrada de capitais externos na bolsa é positiva", disse o ministro. Ele citou como exemplo a oferta inicial de units do Santander Brasil, que levantou 14,1 bilhões de reais.
Desempenho fiscal
O ministro reiterou que o governo não irá usar o resultado fiscal com propósito eleitoral no ano que vem, afirmando que a meta de superávit primário voltará a subir em 2010.
"Não vamos usar o fiscal para fazer estímulo eleitoral. Não se sustentam as críticas que fazem ao quadro fiscal brasileiro."
A meta de superávit primário deste ano foi reduzida a 2,5 por cento do PIB depois de a desaceleração econômica ter prejudicado a arrecadação federal. Em 2010, a meta voltará a 3,3 por cento do PIB. O resultado dos dois anos pode ser reduzido com o desconto de investimentos feitos no PAC.
Mantega também voltou a citar que, no campo fiscal, a situação brasileira é muito melhor que de outros países, como China e Índia.
O ministro repetiu ainda que, durante a crise global, os bancos privados do país adotaram postura mais conservadora. "Não tivesse havido expansão dos bancos públicos, não teríamos tido uma recuperação tão rápida."