Mercado não engoliu explicação
Agência Estado
As justificativas apresentadas pela Petrobras para a surpreendente queda no lucro no ano passado não convenceram nem as instituições financeiras nem os analistas do setor petrolífero. O BTG Pactual chegou a qualificar os resultados da estatal em 2011 como "intrigantes". Em relatório, o BTG Pactual manifesta dúvidas em relação ao aumento dos encargos de depreciação no setor de exploração e produção e à deterioração dos resultados do refino. Os analistas Gustavo Gattass, Luiz Felipe Carvalho e Dario Valdizan, mesmo debruçados sobre os resultados anunciados pela petroleira, não conseguiram decifrar como a Petrobras chegou aos resultados financeiros divulgados.
Tamanha derrocada dos resultados, segundo a instituição, pode ter origem atípica. "Ainda assim, a diminuição nos resultados foi tão grande que não podemos descartá-los como irrelevantes", diz o texto do BTG, que anunciou a intenção de, assim que as dúvidas forem esclarecidas, revisar as estimativas para a Petrobras.
Para o Deutsche Bank, o desempenho do refino é a principal razão da queda no lucro da companhia. Relatório preparado pelos analistas Marcus Sequeira e Luiz Fonseca diz que "a magnitude de perdas foi claramente subestimada" pelo mercado. A instituição destacou a alta dos custos operacionais, que, se persistir em 2012, poderá gerar "uma onda de redução dos ganhos".
Nova presidente
Para os analistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA), as mudanças na gestão da companhia a serem implantadas pela nova presidente, Graça Foster, terão reflexos importantes no desempenho deste ano. O relatório diz que ela "deverá trazer uma forte capacidade técnica e gerencial para a companhia, enquanto José Formigli, novo diretor de Exploração e Produção, é um dos executivos mais respeitados da Petrobras".
O relatório divulgado pelo Credit Suisse, assinado pelos analistas Emerson Leite e André Sobreira, informa que as perdas no setor de abastecimento da Petrobras dobraram em seis meses. Para o banco, o trimestre poderia ter sido bom para a estatal, com o aumento da produção e dos preços dos derivados. "Com ações que subiram 30% no ano até agora, estimativas de ganhos que podem ser reduzidas depois desses resultados e um cenário de produção que verá um crescimento significativo apenas depois de 2014, continuamos a ver um caso de investimento pouco convincente", dizem os analistas.
A elevada defasagem nos preços dos combustíveis (gasolina e óleo diesel) vendidos pelas refinarias da Petrobras no país em relação aos preços cobrados no mercado internacional foi uma das principais causas para a forte redução no lucro da estatal no quarto trimestre do ano passado. A explicação foi dada ontem pelo diretor- financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, ao detalhar os resultados da companhia em 2011. Segundo o executivo, a defasagem de preços foi responsável por cerca de 50% da queda do lucro no quarto trimestre no período, a estatal lucrou R$ 5 bilhões, contra R$ 10,6 bilhões em igual trimestre de 2010.
Os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras são R$ 26,59 inferiores aos preços do mercado norte-americano, em média, por barril. Em 2010, esta diferença foi de apenas R$ 7,95 por barril. A estatal pressionou o Ministério da Fazenda por um reajuste nos preços do combustível no ano passado, mas só conseguiu elevar em 10% o preço da gasolina e em 2% o do diesel em 1.º de novembro. Foi o alívio possível concedido pelo governo, que, para evitar alta dos preços ao consumidor, reduziu o peso da Cide (tributo que incide sobre combustíveis).
A empresa deixou de ganhar pelo menos R$ 4 bilhões de janeiro a outubro de 2011, pelos cálculos do especialista Adriano Pires, ao manter o preço da gasolina inalterado nos postos nesse período. Ao mesmo tempo, a empresa importava o combustível por um preço maior no mercado internacional, para suprir a demanda no Brasil.
Câmbio
Barbassa explicou que o câmbio também teve forte impacto nos resultados da companhia no último trimestre do ano passado. Outra razão para a redução do lucro foram as paradas não programadas nas plataformas, por exigência de órgãos reguladores como a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Segundo o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, isso resultou em uma redução média de 40 mil barris diários na produção, que causa impactos no aumento de custos operacionais.
Apesar da forte queda do lucro líquido no quarto trimestre de 2011, Barbassa destacou que os resultados operacionais da companhia foram muito positivos. O diretor disse que a Petrobras tem R$ 150 bilhões já gastos em projetos que estão em andamento e que começarão a dar resultados nos próximos anos. "A Petrobras é uma nave andando em alta velocidade e em uma rampa em crescimento. Essa é a companhia que temos hoje e que a presidente Graça [Maria das Graças Foster] assume" destacou Barbassa.
Durante a apresentação dos resultados financeiros do ano passado, com a presença de toda diretoria, Gabrielli se mostrou descontraído e alegre. A diretora de Gás e Energia, Graça Foster, que assumirá a presidência da Petrobras na próxima segunda-feira, não quis fazer qualquer comentário sobre seus planos à frente da companhia. "Estou sem gravata porque estou ficando baiano. Estou sem gravata para fazer a transição, porque a partir da próxima terça-feira estarei na gloriosa cidade de São Salvador" afirmou Gabrielli.
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