O empresário Leandro Toledano trouxe para o Brasil, há cinco meses, a tecnologia de uma empresa israelense que transforma resíduos orgânicos em energia limpa. Trata-se de um biodigestor portátil, instalado no quintal de casa, que a partir de restos de comida produz gás suficiente para cozinhar por até três horas todos os dias. Até o momento, já foram instaladas 45 unidades do equipamento no país. A pretensão é comercializar 1,8 mil unidades em 2019.
A tecnologia do biodigestor é capitaneada pela HomeBiogas, por meio de seus três sócios israelenses Yair Teller, Oshik Efrati e Erez Lanzer. A ideia surgiu quando Yahir fazia uma viagem pelas montanhas da Índia, onde a comunidade, sem acesso a energia elétrica, produzia fogo a partir do esterco dos bichos.
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Pode parecer algo novo e surpreendente, mas biodigestores, que transformam matéria orgânica em gás, por meio da ação de bactérias, já existem há dez mil anos. O que a HomeBiogas fez foi transformar essa tecnologia milenar em um sistema doméstico que cabe em uma caixa de 22 quilos e é factível de ser montado em duas horas por qualquer pessoa, a partir do conceito “faça você mesmo”.
A produção de gás pode se dar de duas maneiras: com a utilização de lixo doméstico ou até mesmo fezes humanas, neste caso, especialmente em localidades com infraestrutura precária, que não têm acesso ao saneamento básico. Em comunidades desassistidas, são instalados banheiros integrados que se conectam diretamente aos sistemas sem necessidade de manuseio.
Dessa forma, é possível levar saneamento básico a uma comunidade em até três horas. O projeto é realizado com apoio de órgãos governamentais, e já chegou em países como Guatemala, Angola, Ruanda e Etiópia.
Com a produção do gás, também é possível substituir os fogões a lenha por fogões convencionais, eliminando a necessidade das famílias de passar até seis horas por semana coletando madeira para cozinhar. Além disso, contribui com a saúde dessas pessoas, que antes inalavam fumaça altamente tóxica produzida pelo carvão.
Com relação aos materiais orgânicos utilizados para a produção de energia, Toledano, representante da HomeBiogas no Brasil, destaca que o biogás gerado é limpo e não tem cheiro, porque passa por um filtro de carvão que remove odores desagradáveis.
Para o consumidor final, o equipamento é vendido por R$ 5,9 mil. Este valor é recuperado em cerca de seis anos, se considerado o consumo de um botijão por mês em uma família de cinco pessoas e o valor médio de R$ 69,53, segundo o último levantamento da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A expectativa de vida do biodigestor é de, no mínimo, dez anos, com trocas de filtros anuais.
Para além do financeiro
Mais do que a economia com a conta de gás, os biodigestores são sistemas sustentáveis que contribuem com o meio ambiente e com a saúde da população. Especialmente em comunidades sem energia elétrica, a utilização do carvão ainda é muito comum.
Dessa forma, substituir este material reduz o desmatamento e evita problemas de saúde, visto que, segundo dados da ONU, 4,3 milhões de mortes por ano são causadas por complicações respiratórias relacionadas à inalação desta fumaça.
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Ao transformar restos de comida em energia, um único biodigestor contribui para que uma tonelada de lixo deixe de ser destinada anualmente aos aterros sanitários. “O lixo não é lixo, é matéria prima para produção de energia”, defende o representante da HomeBiogas no Brasil. “As pessoas falam em jogar lixo fora. Fora onde? O lixo não desaparece. É um problema real a nível mundial”, completa.
O sistema também reduz em até seis toneladas as emissões de gás, por ano, no efeito estufa. E, por fim, como subproduto, os biodigestores geram um fertilizante líquido, orgânico e natural, que pode ser usado para jardinagem e na agricultura em pequena escala.
Em escolas, empresas e até canis
A HomeBiogas chegou há cinco meses no Brasil e, até agora, instalou 45 biodigestores no país. Além de residências, os sistemas estão funcionando em um colégio particular em São Paulo (SP); em uma escola pública em Ilhabela (SP), onde o gás é utilizado para a produção de merenda das crianças; e em um hotel com proposta ecológica em Mairiporã (SP).
Este hotel mantém em seu espaço uma ONG de animais abandonados, com 250 cachorros. E, até então, tinha problemas para a destinação das fezes destes animais. Agora, o material é transformado em gás utilizado para dar banho quente nos bichos.
Os equipamentos estão sendo instalados em uma multinacional no interior de São Paulo, que gera cerca de 300 quilos de lixo orgânico por dia; em uma hamburgeria em São Paulo (SP), que vai utilizar o gás para fritar as batatinhas e o fertilizante na horta do estabelecimento; e em uma comunidade rural de 100 casas em Jacareí (SP), onde não há saneamento.
O sistema ainda não é adequado para utilização em prédios. Para 2020 é previsto o lançamento de um equipamento destinado para moradias verticais, com um tamanho quatro vez maior que o atual.