Nem produtores nem agrônomos sabem com precisão qual a classificação ou a origem das sementes de soja mais plantadas no Sudoeste do Paraná nesta safra. Popularmente conhecidas como "sementes piratas", elas recebem nomes como Maradona e Anta e são trazidas da Argentina e do Paraguai, segundo os próprios agricultores.
"A semente Anta até existe na Argentina, mas a Maradona não. É um nome inventado. Mais da metade das lavouras daqui foram plantadas com sementes piratas. Mesmo sem nenhuma classificação, elas estão rendendo bem mais e devem continuar sendo as mais usadas a partir de agora. São as únicas variedades precoces (120 dias) adaptadas às nossas condições de produção (solo, altitude, clima)", relata o produtor Eucir Brocco, que cultiva 400 hectares de soja e preside o Sindicato Rural de Pato Branco.
As sementes piratas são transgênicas. Na concorrência direta, venceram grãos convencionais e geneticamente modificados produzidos legalmente.
A produtora de sementes Guerra, por exemplo, selecionou 85 mil sacos de grãos, mas teve que vender 30 mil como soja industrial porque não teve compradores, conta o agrônomo Sidney Toledo Martins. Cada saco rende um hectare de lavoura. Martins acredita que os produtores deixaram os grãos legalizados de lado para apostar no cultivo precoce "por serem ávidos pelo diferente". Nem sempre a soja precoce rende mais. Quando há pouca chuva, a variedade sofre mais, uma vez que a planta tem menos tempo para absorver água e formar os grãos.
A equipe do Rumos da Safra ouviu três agrônomos e descobriu que é fácil legalizar a semente pirata. O produtor usa notas fiscais de safras anteriores para justificar a origem da semente transgênica. Alega que guardou os melhores grãos de colheitas passadas e, dessa forma, continua plantando a variedade modificada. Na hora de entregar o produto, paga royalties de 2% da produção, o dobro do valor gasto por quem comprou grãos registrados. Depois disso, porém, tudo está legalizado.
"Não há como deter a soja pirata porque ela rendeu até 20% mais neste ano", afirma Brocco. Quem plantou a semente Maradona em outubro conseguiu fazer duas safras numa mesma área. A primeira rendeu bem, mas a segunda será um pouco menos lucrativa, pondera. "O segundo plantio está rendendo o mesmo que a convencional ou a transgênica (perto de 3 toneladas por hectare)." O plantio de soja duas vezes seguidas numa mesma área é reprovado pelos especialistas, porque favorece as pragas. Eles defendem a rotação de culturas.
Os fornecedores de sementes negam falta de semente precoce. Eles estão pagando inclusive bonificação maior para os plantadores. O prêmio passou de 6% para 8% do valor de venda do saco de semente. No entanto, as previsões sobre como será o mercado de sementes na safra 2007/08 ainda são imprecisas. Os produtores não sabem nem mesmo se poderão plantar grãos transgênicos. Isso só será permitido se as entidades do setor vencerem a briga judicial travada com o governo do estado contra a proibição do glifosato, que controla as pragas em lavouras de soja modificada. (JR)